Um retorno intenso
Afastada um
tempo por problemas pessoais, somente há alguns dias retornei as minhas funções
de crítica teatral, algo que me agrada imensamente. Pensar o teatro, a arte, em
todas as suas matizes é algo que me emociona, e é tão importante falarmos em arte nesses tempo
obscuros. Tempos de silêncios críticos, de críticas supérfluas, de apontamentos,
muitas vezes, medonhos, que mais separam
do que unem.
O teatro nos
une sempre, e por mais que pareça adormecer, ele sempre retorna. Ele se
reinventa e qual Fênix, ele volta ainda mais poderoso para tomar conta do
mundo e nos fazer refletir nossas ações, muitas
vezes brutas e desumanas. Eu tenho muito orgulho dos artistas, seres que
enfrentam todo tipo de dificuldade para
manter o oficio, o sacerdócio que exercem em respeito aos deuses.
E foram
certamente os deuses que nos possibilitaram revisitar o mundo decrépito e criminoso da família
de Ereda, heroína da obra de Ivo Bender, que em uma casa estabelecida dentro do
palacinho do Máschara , nos recebe para: ora agredindo, ora refletindo,
questionar os atos daquela que julga a culpada por seus infortúnios.
Os sentimentos
da famigerada Ulrica beiram a sordidez e
a corrupção, ainda que a personagem tente de todas as formas se mostrar frágil
e debilitada emocionalmente. Aí o mérito é todo de seu intérprete Cléber
Lorenzoni, que consegue de forma cinematográfica mudar a personagem em um
suspiro de réplica. O público ao redor do ator, nessa “quase arena” mal consegue acompanhar o ritmo
com que a adúltera senhora da casa exprime
seus sentimentos. Lorenzoni está mais
maduro em cena, mas inteiro, as vezes explode e quase deixa alguns colegas para
trás... Há no espetáculo, silêncios preciosos emitidos principalmente por
Renato Casagrande, que comumente é bastante verborrágico, mas aqui surpreende e
ainda guia brilhantemente o colega Stalin Ciotti em cena.
Substituições
não costumam ser tarefas fáceis, principalmente em um espetáculo tão
tridimensional, que escorre do palco pegajosamente e se ergue entre paredes de
uma casa antiga. Aqui há certamente uma cobrança por parte dos atores mais
antigos da Cia. que precisam que o substituto seja grande, a altura do restante
do elenco. Não há espaço para arestas, para ruídos interpretativos. Stalin cumpre
muito bem a função de seminarista, e se não teve o mérito de criar a
personagem, foi humilde e inteligente o suficiente para reproduzir com muito
detalhe a composição de Gabriel Giacomini. Claro que cada corpo é um corpo e
produz um ruído diferente, um tempo que é seu. O produto advindo daí, que nós
chamamos de “personagem” , é único. Sendo assim, o seminarista de Stalin Ciotti
parece um tanto mais misterioso, um tanto menos frágil, mas muito interessante.
As
interpretações de Raquel Arigony, Fabio Novello e Douglas Maldaner não tiveram
grandes mudanças desde a ultima vez que assisti ao espetáculo, mas mantém a
energia intensa até o final do espetáculo. Tio Bertold e Ereda não criam muito
na cena de embate, mas ambos rendem ao lado do diretor. Douglas Maldaner pode estar
mais furioso, mais agressivo, mais animalesco, afinal ele pode muito bem ser um
pré Tio Bertold. A velha interpretada por Arigony me soou cômica em alguns
momentos, pode ser uma escolha da direção, era?
Alessandra Souza
segue firme com sua Ereda atrás de algo que não fica muito claro, o texto nos
diz que é vingança, mas eu penso que haja outro motivo. A força que coloca na
personagem é intensa e contínua.
Parafraseando
Vera Karan, eu diria que há sob a garoa fria, um fogo, um incêndio que não
cessa. Um incêndio buscado por todo elenco, mas que fica mais visível em duas
ou três interpretações. Eu sou uma amante da obra, mas ela perde muito enquanto filmada. Teatro bien faite como o
Máschara busca, não funciona nessa outra linguagem, que tem regras e que elas
não se aplicam ao palco.
Sigamos no
tablado sagrado, aprendendo, ensinando e emocionando.
Arte é Vida
Cléber
Lorenzoni
Alessandra
Souza
Renato
Casagrande
Fabio Novello
Douglas Maldaner
Alessandra
Souza
Clara Devi
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