Constantemente
ouço pessoas de várias faixas etárias comentando que tiveram que em outrora
abrir mão de seus sonhos e embarcar em vidas que, na maioria das vezes, elas
mesmas consideram frustrantes ou medíocres.
Essas pessoas estão se referindo à carreiras artísticas que abandonaram.
São ex-bailarinas, ex-atores ou ex-músicos,
se é que podemos chamar os artistas de “ex” já que talento, creio eu, jamais se
extingue por inteiro, o fato é que talvez,
por morarmos em um país de terceiro mundo ou ainda distantes de uma
capital, o olhar que damos para a arte enquanto profissão é sempre crítico ou
por demais exigente. Nos parece difícil aceitar, que alguém possa supor ter uma
vida confortavelmente rica, baseada apenas na arte como centro de lucro, ou
ainda na manutenção de uma família.
Alguém me disse: ”o mundo
capitalista nos exige pés no chão”. Mas abriríamos mão de Beethoven, de
Shakespeare, de Carlos Drummond de Andrade, ou de Carlos Gomes? Trocaríamos o
teto da capela Cistina, o Davi de Michelangelo ou o prazer em assistir Norma,
Copélia, ou Turandot, com seus grandes corpos de baile?
Olhai para vossos pais, tios,
vizinhos da terceira idade, e perguntai, quantos deles recusaram sonhos,
talentos, dons... Por que tristemente deviam por os tais pés no chão. Qual chão
seguro é esse de que falam? Pois mesmo
aqueles, ditos sensatos, me parecem preocupados, e cheios de contas
inalcançáveis de quitar.
A arte, oásis de prazer, respiro
em meio as atribulações da vida, formadora de opinião ou enquanto base
filosófica na evolução dos tempos, deveria ser incentivada a todos e exercida
com louvor e orgulho. Pois é através dela, que temos maior contato com o
“mistério”, com o impalpável, com o lugar comum onde todas as línguas se
encontram. Certa vez li que se fossemos nos encontrar pela primeira vez com
extraterrestres, não devíamos tentar falar nada, apenas deixar tocar a nona
sinfonia, e ali, naquele momento os visitantes do outro planeta compreenderiam
a pequena e grandiosa existência humana. Então para concluir, preciso fazer uma
pergunta, que talvez machuque nossos egos, mas: até quando vamos frustrar nossos filhos e destruir sonhos?
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