911-Personagens Infantis de Quintana - Lei de emergência cultural

                 Um dos grandes problemas que nós enfrentamos na nossa sociedade organizada, é o fato de pouco ou nada sabermos referente à nossas leis e direitos, por descuido, comodismo ou mesmo desinteresse. Por exemplo, quando se fala em PL1075/2020 será que sabemos do que se trata? Provavelmente não e há quem aprecie nossa total ignorância no assunto, no entanto, os artistas, ou aqueles que "se denominam" artistas  deveriam ter conhecimento ou mesmo estudar os assuntos de seu seara. O projeto de Lei 1075/2020 vem beneficiar em caráter emergencial os mais de cinco milhões de trabalhadores de uma classe que representa 3% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional e representa algo próximo a 6% de toda a força do trabalho ocupada no Brasil. Certamente agora você diria: mas e por que isso me interessa? Se esse foi seu pensamento eu fico entristecida e me pergunto por que você faz teatro, por que você busca o público, por que você se diz apoiador da musica, da literatura ou da dança. Ficar de braços cruzados esperando as coisas acontecerem sem ao menos estudar é típico da massa de manobra de um país. 

                      Aldir Blanc tem em seu currículo os versos da musica  O Bêbado e o equilibrista, que você certamente ouviu na voz da imortal Elis Regina. As lutas travadas durante a ditadura, não levaram a vida de Aldir, mas o COVID-19 sim, e no dia quatro de maio, aos 73 anos, depois de 24 dias de luta, Aldir tornou-se seu legado e seu maior reconhecimento foi ter seu nome batizando uma lei que destinará R$3,6 bilhões em fomento para artistas de toda a federação que perderam de uma hora para outra seu "ganha pão". Tournées interrompidas, casas de espetáculos fechadas, escolas de artes com aulas canceladas e um cenário sem perspectiva. 

                             Mas a Aldir Blanc não alcançará todos os artistas do Brasil, ao contrário, muitas secretarias de cultura e prefeituras não se organizaram e artistas perderão seu direito. Em Cruz Alta, muitos artistas não se mobilizaram, as vezes o ser humano quer coisas de forma muito facilitada. 

                            Mas de qualquer forma 25 projetos digitais foram selecionados e mais 21 espaços culturais, uma vitoria conquistada a partir de muita movimentação do conselho municipal de cultura  e da secretaria municipal de cultura. 

                              Mais arte por favor...

                                                          * * *


Elenco de Lili Inventa o Mundo em 2009, com Angelica Ertel, Roberta Queiroz, Renato Casagrande, Cleber Lorenzoni, Alessandra Souza e Gabriel Wink


Teatro in Live

                         Apesar de minha idade avançada, considero-me uma pessoa aberta, e o teatro filmado, ou disponibilizado em plataformas sociais não é de forma alguma um problema para esta espectadora. Ao contrário, depois de uma certa etapa da vida, sair de casa pode ser uma pequena armadilha para o físico e a mente. Em minha poltrona de espaldar, há sempre convite para ler, para ouvir e por que não, apreciar bons espetáculos. No sábado a tarde estive ocupada, mas não deixei de ir conferir um pequeno sucesso do Máschara que já conheço de longa data. Lili Inventa o Mundo foi apresentada sob o nome de "personagens infantis de quintana" certamente uma forma de atrair o público das redes.

                           Era teatro? Quem sou eu para julgar. A arte adapta-se qual vegetação em meio a rocha. A arte reflete os povos e suas culturas. Se vamos aderir a esse novo formato, se vamos aperfeiçoá-lo, eis aí a incógnita. Por enquanto, a arte filmada, a arte do palco colocada nas redes, me lembra muito uma homenagem ao teatro do qual tanto sentimos falta. Um passageiro momento que antecede algo. Como se nos sujeitássemos a espera de algo maior (o retorno). Alguns artistas que migraram para as redes, gostaram tanto que possivelmente permaneçam vivendo ali. Outros contam os dias para adentrar vigorosamente os palcos. Eu particularmente assisti teatro, um teatro singelo, que se quiser permanecer nesse novo endereço, precisará pensar esse novo formato. Mais restrito aos atores, mais propínquo. As regras do jogo terão que mudar, as nomenclaturas, os dogmas. A lei que rege o palco é milenar, independe de diretores falastrões, de coreógrafos geniosos, ou de atrizes estrelas. A lei do palco foi escrita a milhares de mãos, advém dos deuses e de ancestrais em volta do fogo. Para se criar um novo "gênero" será preciso mais uma dezena de anos. 


                    Mas comovemo-nos, entretemo-nos e torcemos para os mocinhos, apreciamos os vilões contraditoriamente  e cremos no final justo e surpreendente. 

                        Clara Devi foi assaz eficiente como a Lili que interage com o público e seu jogo com Renato Casagrande ultrapassou o limite dos pouco mais de vinte centímetros quadrados da tela. Cléber Lorenzoni pareceu arrastar a colega de cena Kauane Silva que pode se entregar mais e deve. Algumas marcas ficaram fora do enquadramento, o que foi uma pena, mas de toda forma, compreensível. A rapidez e versatilidade com que se abriu e fechou janelas foi admirável. No principio considerei Senhor Poeta e Mathias um tanto lentos se levarmos em conta a trajetória desses dois grandes do teatro Maschara, logo compreendi que eles estavam, se adaptando a plataforma escolhida, que tem um tempo muito próprio. Alessandra Souza por exemplo movimentou-se muito rápida como fada mascarada e as vezes ficou um tanto desfocada, por outro lado a triangulação  da atriz foi muito boa, bem como a estreia da aspirante atriz Martha Medeiro, que pelo que sei, segue como "prometeu" do grupo. Uma ótima aquisição se levarmos em conta o belíssimo trabalho da atriz como Rainha de todas as fadas. Quintana era muito apegado a figura de nossa senhora, por isso a direção coloca de forma muito sutil a presença divina da "mãe de todos" no espetáculo. Martha interpreta os versos de forma  doce  e perspicaz. Uma atriz de calibre que já provou seu talento em trabalhos como Lendas da Mui Leal Cidade(2018) e A Hora da Estrela(2019), esperemos apenas que saiba separar as auguras e delicias de ser um membro da Cia. 

                       Com pouco mais de quarenta minutos, "personagens de quintana" teve bom  publico e nos deu bons momentos de aproximação com o maior poeta do Rio Grande do Sul. Torçamos  que todos os trabalhos futuros dentro do programa Aldir Blanc tenham o profissionalismo e a entrega que vi hoje no perfil do Instagram de Kauane Silva.


Clara Devi (***)

Martha Medeiro (***)

Kauane Silva (**)


                               A Rainha     

          


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