Contos do vovô Erico - Episódio II - A vida do elefante Basílio

 Grandes idéias, poucos recursos...


                     ... Essa  talvez seja, a principal característica do terceiro teatro, o primeiro e o segundo se promovem através dos grandes patrocínios de estatais, empresas, governo, enfim... O Máschara sempre se destacou pela capacidade criativa, as soluções rápidas para fazer o que poucos conseguem fazer com o pouco que se tem. A franquia de contos do vovô Erico, carrega consigo essa necessidade de manter viva a arte em meio a pandemia, a necessidade do contato com o público. 

                       O trabalho de adaptação é algo muito delicado, como dissecar uma obra sem colocar em risco sua alma, e mais, como detectar a alma de um autor, dramaturgo, etc... O teatro sempre lida de alguma forma com as adaptações, afinal, o que vamos contar em uma montagem de um determinado texto não é o mesmo que outro diretor quis contar. Admiro por exemplo e muito o cuidado e trabalho que o Máschara teve com os grandes clássicos: Antígona, Tartufo e Macbeth respectivamente em 2000, 2001 e 2002. No entanto, em 2005, 2006, 2015 e 2019 a Cia. mergulhou em obras literárias, Verissimo, Quintana e Lispector. Eles ganharam vida através do olhar dos atores do Máschara, com suas impressões e reflexões. As vezes essas reflexões são tão ousadas que desagradam leitores ou fãs.

                      A obra infantil de Erico havia sido visitada em 2005, e o trabalho que levou o nome de O Castelo Encantado, parecia um pot porri que acaba por ter um sentido em si próprio, ou seja, não era a obra infantil de Verissimo, era uma nova historia à partir do escritor. Erico. O que conhecemos ali são diversos personagens em uma colagem, uma colagem que nos conta uma nova historia. 

                        Nos contos do Vovô Erico, Lorenzoni decide contar separadamente cada historia, embora, una todas as obras através dos contadores. Contadores esses que aliás se comunicam muito bem com o público. Renato Casagrande, Cléber Lorenzoni, Alessandra Souza e Clara Devi se comunicam de forma muito verdadeira e persuasiva, algo que eu chamaria de presença e que não é fácil de se adquirir. 

                          A primeira parte toma forma de contação de historia, o que aprecio muito, mas credito que ali,  Alessandra e Clara poderiam ter investido mais em suas criações. Renato Casagrande surge como o malvado dono do circo e Souza está impagável como o gnomo de cavanhaque magenta. Clara Devi nos apresenta a menina criada por Lorenzoni para ser a interlocutora do drama de Basílio. Seu nome, uma homenagem a filha de Verissimo, Clarissa, pena que a dicção da atriz tenha transformado em Clarita. Ora, corpo, voz e expressão precisam ser um só! 

                          Cléber Lorenzoni triangula muito bem como Basílio e as soluções encontrada pela edição, solucionam o espaço de filmagem que se tornou imenso na tela. Basílio quer ser uma "barbuleta" , Erico se torna extremamente contemporâneo, atual. "cada um pode ser aquilo que quiser". A solução não ficou muito bem resolvida, no palco ela funcionava, mas o lúdico ou cênico no tempo do cinema, é diferente do tempo do teatro. 

                           Penso que há alguns problemas de edição que não vi no primeiro vídeo, como a voz desencontrada da ação labial dos artistas, o fundo vermelho estourado, mas como já disse na crítica anterior, são detalhes que surgem na busca de um novo jeito de fazer arte. Quem erra tentando fazer seu melhor merece toda nossa compreensão. 

                           O lúdico fica a cargo do teatro na tv. Não se trata de cinema, se trata de teatro filmado. Isso é importante ser mensurado, principalmente pela grandeza do projeto. O público, acostumado com o cinema ou outros programas de tv, não tem mais contado direto com o teatro. No entanto a linguagem cênica do teatro, onde as coisas se transformam em nossa frente... Um ator sobre as costas de outro vira um elefante, uma atriz de joelhos é uma criança. Enfim, uma linguagem necessária para o mundo infantil.

                           Indico aos atores que cuidem a pronuncia, a dicção e a continuidade. No mais, orgulhosa com tanta entrega.


                           A vida do elefante Basílio

                                    

O melhor: A comunicação dos atores com a câmera

O pior: A falta de dicção em alguns momentos.


                                    Direção : Cléber Lorenzoni

                       Roteiro: Cléber Lorenzoni

Edição: Renato Casagrande

Iluminação: Alessandra Souza e Renato Casagrande

Figurinos: Clara Devi

Caracterização: Cléber Lorenzoni e Renato Casagrande

Direção Geral: Cléber Lorenzoni

Elenco:

Cléber Lorenzoni

Renato Casagrande

Alessandra Souza

Clara Devi - (**)



Arte é vida


A rainha




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