Análise de Contos do Vovô Erico - Episódio III

 O Lúdico 


                      Nas adaptações de Cléber Lorenzoni para o palco ou agora para o vídeo, há uma regra, simples, mas significativa: o lúdico. As obras do Máschara sempre tem um "quê" de poesia, de beleza quase clichê ou simplória, mas que nos toca na medida certa. Em Tartufo os personagens pareciam crianças brincando, se divertindo. Em Macbeth de Shakespeare os próprios atores eram espectros que flutuavam pelo palco assombrando Lady Macbeth. O que falar de Esconderijos? Com seu aquário de tule, ou ainda as transformações absurdas em A Maldição do Vale Negro. 

                     Ser ator é manter viva a criança dentro de nós, Cléber Lorenzoni passeia maravilhosamente com nossas idades. Ser ator é estar pronto, é ser profissional, é ser ousado e ao mesmo tempo partícipe da criação. Até por isso esse diretor faz de tudo para exigir um leque de possibilidades e habilidades de seus atores. Com alguns funciona, artistas ambiciosos que querem aprender mais e mais, buscar, que não se acomodam. Aliás acredito que essa seja a premissa da ESMATE (espaço Máschara de teatro). 

                     Quando assisto à Os contos do vovô Erico, observo o quanto se mergulha sem proteção em novas possibilidades, o quanto ousa-se, o quanto arrisca-se. E ainda arrisco em  dizer que sempre que a ousadia vem atrelada à sinceridade, a uma busca verdadeira pelo novo, não há como errar. 

                     O espetáculo O castelo Encantado foi dissecado e rende a cada semana uma nova trama, "adaptada", ou seja, há Verissimo, mas há muito Lorenzoni.  

                     Talvez soe assim: -Essa senhora só fala do diretor". É que o vídeo é a arte do diretor, enquanto obviamente o teatro é a arte do ator. No palco, o ator cria e recria, o ator tem poder sobre sua criação. Porém frente à câmera, o ator é usado, pinçado em gotas para dar vazão às formas, imbróglios que vão se formando na mente do diretor. Então esta senhora vai dar uma dica: "abra-se, entregue-se para que o diretor  possa fazer arte através de ti". 

                     Esse momento de enfermidade epidêmica vai gerar novos olhares e pensares sobre as artes, alguns se reinventarão, outros se tornarão ultrapassados e quase superados. Que é o que costuma acontecer com artistas que param no tempo, por falta de estudo, de busca, de curiosidade no "outro". Ser artista é querer compreender o outro. O eu mesmo nos acompanha todos os dias, é o outro que me confunde, me interroga, me encuca, e finalmente me desafia.

                             A historia do Urso com música na barriga me faz pensar no mundo das crianças, as vezes ilógico, onde vilões e mocinhos mudam de posição de forma rápida. Uma vez Lorenzoni me disse que quando montava espetáculos infantis não tentava se colocar no lugar das crianças, mas lembrar do que mais gostava no mundo ao redor quando era criança. Algumas gags são impagáveis, como quando o urso aqui interpretado pelo próprio diretor, debocha do jeito dos contadores de historia. Sacadas rápidas que fogem à regras caretas de tratamento dada aos protagonistas "bonzinhos" de algumas peças infantis. 

                              O teatro dentro do teatro, dentro do vídeo é a parte mais divertida desse terceiro episódio, fica claro para a assistência que trata-se de um jogo de faz de conto, (teatro). E então o teatro filmado se cumpre. A menina que se diz a responsável pelo cenário nos oferece uma noção de tridimensionalidade do teatro. Há alguém que dirige, há alguém que organiza os objetos da historia e finalmente alguém que interpreta. O contador, que pode ser o escritor, que pode ser o dramaturgo, faz a criança delinear uma estrutura organizada, que é a que rege o teatro. 

                                 Stalin Ciotti interpreta o menino Rafael, o menino curioso que quer descobrir por que o urso toca musica, talvez esse conflito não tenha sido aproveitado o suficiente. No entanto a interpretação do ator é bastante interessante, há de se aprimorar algumas intonações.  A dobradinha Alessandra Souza e Renato Casagrande revela um jogo muito gostoso e ágil, embora como disse antes, essa subjetividade mescla o trabalho dos atores e a edição dos diretores. 

                                           Clara Devi brinca com a câmera, conversa com ela de forma muito perspicaz, tem melhorado muito sua dicção, a atriz deve e merece ser mais aproveitada.  Aliás dentro da hierarquia do Máschara pela qual sou muito interessada, acredito que Devi deve ocupar um espaço maior.

                                           A trama se desenrola de forma rápida como nos outros episódios dos contos adaptados. de Erico e que fazem parte da franquia do Máschara. No entanto me pareceu que o final termina de forma muito rápida, embora a sequencia do ator Stalin Ciotti correndo para uma rotunda e revelando o maquinário do palco, nos dá a medida exata da ideia de Lorenzoni e por que não dizer de Casagrande, que certamente deveria parecer também coimo diretor nos créditos finais.

                                        

                                        O melhor: O trabalho de edição na construção do trabalho.               

                                                       O pior: alguns momentos em que infelizmente percebe-se uma falta de equipamento para a edição. 



                                 Arte é vida, em todas as suas formas...


                                      A rainha

Clara Devi : ***

Stalin Ciotti :**

Alessandra Souza :**

Renato Casagrande : **



                               


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