Oficina de Iniciação

                     Quando mergulhamos em uma oficina, nunca sabemos para onde ela irá nos levar, qual embarcação, nau em mar aberto. Claro que o oficineiro leva com ele um roteiro, uma ideia. No entanto imaginar que aquilo que você construiu em casa, irá nortear toda a oficina é no mínimo ingenuidade ou desconhecimento das infindáveis possibilidades humano-artísticas. A equipe foi formada por alunos da ESMATE e duas visitantes que não eram exatamente desconhecedoras da arte da interpretação. Sendo assim, pude exigir um pouco mais dentro das capacidades. Optei por um ritmo explosivo, sem dar muito espaço para os alunos ficarem cheios de dúvidas. Quis obrigá-los a criar rapidamente, Gosto de atores pensantes, mas também gosto de atores que em oficinas mergulham sem se preocupar com as cartas nas mangas, com as ditas zonas de conforto. 
                    Na terceira aula comecei a mergulhar em uma linguagem simbolista inspirada em pequenas cenas do teatro de Lorca. Os alunos compraram a ideia e produziram coisas muito interessantes. Ellen Faccin traz os pés no chão de uma forma bastante técnica, prática nas escolhas, matemática. Laura Heger e Martha Medeiro são ansiosas, uma mais poética, a outra mais meninota. Caroline Guma também traz uma meninice gostosa de contracenar e ao mesmo tempo uma entrega seria e concentrada. 
                              Marli Guma rouba a cena com uma coragem de quem não tem medo de errar, o que é ótimo. Rauhei ainda é bastante introspectiva, mas foi quebrando a casca e em seu tempo certamente fará grandes evoluções na ESMATE. Clara Devi tem um olhar cuidoso com tudo e com todos, o que credita confiança entre a turma. Alessandra Souza também é bastante matemática, mas está nadando para novos olhares... Para encerrar Renato Casagrande acelerado e entregue... Um ator bom de dirigir. 
                                  Ergueu-se rapidamente uma pequena proposta alegórica de Yerma, um texto escrito há mais de um século. Uma tragédia moderna, ao contrário da tragédia clássica, o homem é o seu próprio motivador trágico. A mesma algema que te aprisiona é a algema que te liberta. 
                                 Yerma deseja um filho e isso a afasta da convivência social, traz uma angustia e dor muito grande a ponto de pensar em trair seu esposo. A personagem e depara com uma mulher do presente. Caroline (os nomes dos atores foram mantidos para aproximá-los da narrativa) , deseja mais que tudo ter um filho, mas seu marido deseja ter uma vida de casal tranquila, sem crianças por perto. Os conflitos internos que perpassam por cenas simbólicas, contrapontos de épocas e uma pequena pincelada poética, acaba por criando um universo lúdico e fantasioso. 
                                          Caroline leva a extremos seu desejo de ser mãe e inspirada pela Yerma da obra, acaba matando seu companheiro. Não há deuses malvados e geniosos, Há apenas os conflitos humanos alcançando extremos... 
                                          Para concluir, a tradicional oficina de iniciação cumpriu sua função promovendo a discussão, o debate e os pensares dos quais a arte se alimenta. 
                                                Enfim uma oficina de sucesso!!!
                           

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