Um último auto/ato de 2019?

                    O verdadeiro espirito do natal não está em um presépio, este é a simbólica representação de uma lenda, um acontecimento mitológico com mais de dois mil anos de historia. O que nasce em dezembro não é Jesus, até por que segundo a historia ele nasceu provavelmente em meados de Julho. A igreja católica romana precisava de uma data simbólica que pela posteridade mantivesse vivo o espirito de renovação. E isso o natal significa, a renovação, o recomeço. Em Dezembro no emisfério norte o inverno tem no dia 22 a noite mais longa e o dia mais curto. É quando na verdade o sol está mais distante da terra e então ele renasce e recomeça seu ciclo. Isso significa o natal. O recomeço da vida. O astro rei interferindo em colheitas e em marés. 
                        Falar de recomeço e fé em meio a tempos loucos torna-se difícil, principalmente quando pensamos na poética aristotélica. Passar mensagens positivas sem ousar pincelar os problemas sociais? Como? Se o que mais tem nos tocado nos últimos tempos tem sido a desigualdade social, o abuso dos grandes sobre os pequenos... 
                         Talvez por isso Cléber Lorenzoni centralize em sua trama um idoso prestes a ser despejado, com problemas de saúde e abandonado ao lado do esposa por seu filho. O perdão terá importância máxima  em uma época do ano em que todos estamos tão emotivos. O prólogo e o epílogo passeiam pelo lúdico, mas a narrativa central é um tanto medíocre. A trama não se resolve por completo, perguntas ficam no ar... A dívida foi resolvida? O despejo acontecerá? Até onde vai o milagre? 
                         Fabio Novello e Eliani Aléssio estiveram muito bem nessa ultima sessão(***), ambos compuseram física e emocionalmente muito bem seus tipos e personagens. É interessante que no leque de Marias, o Máschara teve  Dulce Jorge, Fernanda Peres, Alessandra Souza, Vera Porto e mais recentemente Eliane. Isso se ignorarmos as Marias de Raquel Arigony, muito rapidamente em uma gravação e a jovem Maria de Maria Antonia Silveira Netto. Cada uma com um estilo muito específico. Eliani passa uma serenidade muito perspicaz. 
                                Gostei muito da presença das musicas cantadas ao vivo, mas não sei até que ponto não emperrou o espetáculo. Talvez se os cantores estivessem caracterizados, ou não ficassem entrando e saindo o tempo todo, acrescessem mais ä cena. Douglas Maldaner e Gabriela Fischer podem e devem ser mais cênicos, mais dramáticos, principalmente em um espetáculo de rua. 
                                Aprecio muito as alegorias, o prólogo é em si um espetáculo à parte. Há nele muita simbologia, difícil até mesmo para essa senhora decodificar. 
                                 As paredes da prefeitura deram todo um charme ao show, no entanto havia um clima de espetáculo pobre, simplório. Muito diferente do que vi na estréia em 2018. Os duendes estavam divertidíssimos, mas sem duvida a cena foi prejudicada pela canção escolhida. 
                                     Vitoria Ramos e Gabriel Giacomini mesmo sem muito ensaio, fizeram sua parte muito bem feito. Vitoria jogando com Cléber e Renato consegue captar muito bem as necessidade de cena sem que alguém precisa verbalizar algo.
                                Não sou de me render a crianças em cena, elas praticamente sempre atrapalham no palco. Chamam muito a atenção e desconcentram os atores. Mas Aurora Serquevitio brilhou muito elegantemente e digna. Espero que daí surja uma grande artista. 
                                  No mais, elogios ä Clara Devi e a Ellen Faccin, duas contra-regras observadoras, discretas, opinantes, pontuais e capazes. Clara Devi precisa manter a calma, é natural algumas situações nos fugirem as mãos. Evaldo Goualrt e Vagner Nardes foram mal aproveitados nas sacadas e o público pequeno foi um dos grandes fracassos de um evento que deveria conseguir lotar para compensar o uso do dinheiro público. 
                               O que mais admiro nessa Cia. é a forma como seus diretores arquitetam as coisas. Uma equipe que trabalha junto. De onde estava vi passar Antônia Serquevittio, Ricardo Fenner carregando caixas. Uma família de teatro. Alguns ainda não perceberam mas quando um ganha todos ganham em uma equipe. Quando um perde, infelizmente todos perdem. Deveriam todos ser mais gratos, quando um cresce no grupo ou na hierarquia todos ganham. Por exemplo, não sei o que acontece dentro das quatro paredes, mas imagino que estejam felizes com Clara Devi, pois agora quando terminam uma apresentação tem mais uma pessoa para ajudar a dobrar seus figurinos. Será que são agradecidos a ela?

Eliani Aléssio (***)
Clara Devi (**)
Ellen Faccin (***)
Laura Hoover (**)
Laura Heger (**)
Felipe Padilha (**)
Kauane Silva (**)
Stalin Ciotti (**)
Evaldo Goualrt (**)
Marta Medeiro (**)
Gabriela Fischer (**)
Douglas Maldaner (**)
Gabriel Giacomini (**)
Vagner NArdes (**)
Vitoria Ramos (**)


                             Arte é Vida


                                                     A Rainha
                          

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