Auto de Natal - familia de nazaré (tomo 5)


                 De repente uma invenção pequena, uma coreografia, vários ensaios e uma lista de figurinos  dão lugar à emoção, candura, e singeleza...
                        Assim é o Auto de Natal do Máschara, pelo menos para mim que sou diretor. Existe um apelo engraçado, para nós que nascemos em berços cristãos católicos. A historia mitológica de Maria de Nazaré exerce um poder enorme, uma influencia avassaladora em nossas ideias da criação do mundo. 
                     Eu frequentei a igreja por mais tempo que realmente queria. Foi lá, entre velas derretidas, orações que não compreendia direito e lindas imagens cheias de símbolos que pela primeira vez vislumbrei a representação. O incenso das cerimônias, os cânticos, as liturgias repletas de sentar-se, levantar-se, ou ajoelhar-se, me deram a perfeita noção do quanto o cerimonial, o cênico, é necessário, indispensável para o humano.  Ao mesmo tempo percebia que o mistério era necessário, o desconhecido. Foi disso que a igreja serviu-se durante quase dois mil anos. Uma instituição necessária, filosófica e poderosa. Finalmente o mundo ocidental começou a compreender a alegoria mitológica do cristianismo, necessária logicamente, mas mutável como a sociedade humana. 
                             Ainda assim, por algum motivo, acredita-se que um anjo visitou uma virgem e lhe descreveu uma gravidez advinda de um espirito santo. Nós queremos mistério, nós queremos encanto, nós queremos o lúdico, nós queremos crer no divino. Talvez esteja aí a explicação para tamanha comoção da platéia ao assistir o Auto de Natal. 
                              Eu dirigi um espetáculo repleto de dança, canto e interpretação. Um espetáculo de quase uma hora de duração que passeia por contos bíblicos e parábolas de conhecimento universal. Um espetáculo tão alegórico que ultrapassa as noções da logica exatamente por que mergulha na arte, visual e semiótica. 
                     A interpretação de Alessandra Souza por exemplo, mostra uma Maria humana, tridimensional. O Herodes de Renato Casagrande é jovem, genioso e tirano. Há um clima jovem, infantil e extremamente harmônico em todo o espetáculo. 
                        A entrega, a dedicação, a energia, o profissionalismo, tudo são itens de um trabalho serio e grandioso. Muitos são os atores que se destacam, mas enquanto diretor, preciso reverenciar Laura Salles Heger pela capacidade de com tão pouco tempo de teatro, estar ainda assim tão intensa, firme no palco qual atriz que sabe o que faz. Anita Coelho, que foi a revelação da noite, corajosa e mesmo com poucos ensaios,  tão disposta. Antonia Serquevittio é uma atriz que não tem tido muito tempo livre para dedicar-se a ESMATE, mas quanta entrega, profissionalismo, e a disposição para ensaiar até mesmo com um bebê nos braços. Nicolas Miranda é um jovem que vem amadurecendo, sua prestatividade na hora de substituir a colega foi muito elogiável. 
                              Outro grande exemplo de profissionalismo foi a performance de Ellen Faccin como contra-regra, educada, dedicada, preocupada em fazer um bom trabalho, todas as companhias deviam ter uma Ellen Faccin, claro que ainda lhe falta estudo, compreensão dos macetes técnicos, coisas que aprende-se com o tempo.  Este auto de natal é extremamente simbolista, repleto de alegorias, tudo se desenvolve no campo da forma. Minha preocupação com a partitura está mais presente nas personagens masculinas, os velhos do tempo por exemplo e os reis magos refletem uma preocupação física muito bonita. A maternidade, o lirismo e a ardilosidade aparecem de tempos em tempos e somam-se na cena da matança dos bebês. 
                           É engraçado eu falar, analisar meu próprio trabalho, prefiro logicamente ler a crítica de outros. No entanto é necessário elencar, elogiar ou criticar algumas coisas dessa grande esfera. Doroty dizia em O Mágico de Óz, não há lugar melhor que a casa da gente. Pois bem, minha casa é o Máschara, o teatro. Aquelas vinte pessoas reunidas, se ajudando, se maquiando, lutando para fazer o melhor em cena. Por isso fico triste quando atores perdem coisas, esquecem coisas, dizem que irão aparecer mas não vem. É como se a casa da gente de repente estivesse desabando. Nossa estrutura é muito frágil  só podemos confiar uns nos outros. 
                                  Teatro é vida

Renato Casagrande (**)
Evaldo Goulart (**)
Ricardo Fenner (***)
Kauane SIlva (***)
Laura Hoover (*)  *cuidar dos materiais do grupo.
Anita Coelho (***)
Fabio Novello(**) 
Alessandra Souza (*) ser mais atenta. (não esquecer coisas de suas funções)
Clara Devi (**)
Douglas Maldaner (**)
Antonia Serquevittio (***)
Ellen Faccin (***)
Laura Heger (***)
Maria Antonia Silveira netto (**)
Stalin Ciotti (**)
Nicolas Miranda (***)
Vagner Nardes (**)
Luis Felipe Padilha (**)

                            Arte é trabalho!


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