890- Tem chorume no quintal - (tomo 08)

                                   Quando analisamos a atual situação da arte na vida da sociedade e mais precisamente o teatro, é impossível não ficar indignados. O teatro é a capacidade de reunir as pessoas e com arte exigir mudanças, mostras posturas equivocadas, reverenciar posturas heroicas. Não se faz teatro como passatempo, o teatro é muito mais grandioso. O teatro está aí para modificar pessoas e posturas. 
                                            A ganância de um líder absolutista, a generosidade de uma mãe lutadora, a paixão avassaladora de uma mulher fraca, o desejo da eterna juventude... Enfim, o teatro reúne as pessoas e através do cênico propõe a discussão e o pensar. As vezes contamos com o dinheiro público para isso, e quando o dinheiro é público, saiu do meu, do seu, saiu do bolso de todos. Precisa ser respeitado, valorizado e frutificar em ações que beneficiem um número grande de pessoas. 
                                             Promover um espetáculo, para um público de cinco mil pessoas, é uma pequena gota na imensidão, e fazer para cem? Para sessenta? 
                                               "Se dois se reunirem em meu nome, ali estarei!" - Sim, a arte emana do homem e pode sim emanar até de uma única pessoa. Mas precisa frutificar, precisa tocar o maior número possível de pessoas. 
                                                Em Panambi na última quarta-feira um espetáculo muito capaz acabou por tocar um público pequeno, por motivos que não cabem serem dispostos aqui, mas espero profundamente que aqueles que foram tocados, possam duplicar, ou mesmo triplicar a reflexão de um mundo mais valoroso para com o meio ambiente. 
                                                 A produção foi de Romeu Waier, artista local que decidiu inscrever um projeto teatral em sua cidade. Uma iniciativa louvável quando se escolhe um grupo da tarimba do Grupo Máschara. O espaço foi bastante adequado e promoveu eficiência na ação. Eficiência física e cênica. Os sete atores profissionais da equipe tocaram o público, fizeram rir e cumpriram certamente a meta de plantar uma semente positiva na questão da proteção do meio ambiente. Cléber Lorenzoni, Renato Casagrande e Alessandra Souza mostraram o domínio de palco que adquiriram em anos de palco. Engraçados, dinâmicos e cheios de ritmo. A trama é deliciosa, simples sim, porém cumpridora de sua função. Assistindo o espetáculo temos vontade de prescrutar sobre técnicas de compostagem, reciclagem, separação correta do lixo. Nós crescemos jogando lixo em qualquer lugar, deixando latas e garrafas na beira da praia. Nossos pais durante a infância brincavam de bodoque e matavam dezenas de pássaros por um misto de aventura e desafio. A água era um bem que parecia nunca correr risco de escassez e nossas lixeiras ficavam apinhadas de itens que hoje nem ousamos jogar fora.  
                                                   Clara Devi encabeça o elenco e segura com efeito positivo o espetáculo. Mas preciso elogiar sua entrega como camareira e contra-regra. as duas ultimas gerações não havia entrado ninguém tão capaz no Máschara. Eis uma boa continuidade para o contra-regra Renato Casagrande. Stalin Ciotti entrega-se de forma divertidíssima. Ainda como boa escada Vagner Nardes e participação de Evaldo Goulart como o fiscal Laércio. 
                                                   Tem chorume é um pocket funcional, sem presunção, honesto e que muito mais do que falar em proteger o meio ambiente, fala em aproveitá-lo, curti-lo. Diverti-me demasiadamente e percebi um ótimo momento para analisar quem trabalha de verdade na companhia  e quem apenas viaja junto. As excursões do Máschara não promovem dias de passeio, para conhecer cidades, são dias de trabalho, trabalho puxado. gente perdida, olhando os outros trabalhar não ajudam em nada e ainda podem atrapalhar. A função de cada um nesses dias não é perguntar: O que faço? -Mas ter ideia de fazer algo para melhorar a apresentação ou montagem.


                          Teatro é trabalho.




Cléber Lorenzoni 
Renato Casagrande 
Alessandra Souza
Evaldo Goular (**)
Vagner Nardes (**)
Clara Devi (***)
Stalin Ciotti (***)
Laura Hoover (**)
Kauane Silva (**)

                                                  A Rainha

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