Analise critica do espetáculo O Hipocondríaco por alunos da ESMATE

Esperando o espetáculo começar, vi no centro do palco um cubo cheio de símbolos, entradas e saídas... Logo comecei a pensar: o que será proposto? E indaguei-me pela luz, música e cenário, contudo, a coxia que se mexia como que estivesse sendo balançada me voltava sempre para a realidade crua do ambiente. A minha realidade... Quando se iniciou a farsa, estavam em minha frente: Laura Heger, Renato Casagrande e M. Antônia Silveira Neto, ambos os atores com quem já contracenei e admirei em trabalhos anteriores. Renato tem a presença de ator ancião, a qualidade da voz, corpo, e entrega são características inquestionáveis e já esperadas. Laura Heger pareceu-me mais madura e entregue, comparando-a com ela mesma quando fizera: “lendas da mui leal cidade” é perceptível sua maior dedicação ao tetro. Sua voz aguda ainda precisa ser mais bem ouvida, falta-lhe volume e clareza em alguns momentos. Não é um problema apenas dela. E eu que sentei-me na primeira fileira fiquei pensando nos mais afastados do palco... M. Antônia é uma atriz que admiro, mas achei-a fraca nesta peça, faltou corpo, voz, objetivo e certa transformação, acredito que deve ter tido dificuldades em encontrar a personagem, o que é totalmente normal, e penso que deve continuar trabalhando e dedicando-se ao teatro. Ellen Faccin, atriz preocupada. A doutora do SUS fala com nitidez e encena de forma bem natural, vi alguns vícios corpóreos que me remeteu a uma versão farsesca de Anita (lendas), mas, a atriz arrancou-me boas risadas junto de Evaldo G. que estava magnifico, sem duvidas um dos melhores em cena. Alessandra Souza e Clara Devi me fizeram dar gargalhadas com o seu jogo em cena. Ambas com o trabalho corporal muito bem construído. Mas nada se compara a Nicolas Miranda, o ator construiu um personagem que roubava a atenção e nunca perdia a graça, não perdeu o ritmo em nenhum momento. Deixou-me de boca aberta! Conseguira triangular, jogar e me arrisco a igualar sua qualidade à atores como Cleber e Renato, nesta peça. Em Stalin Ciotti e Laura Hoover é visível a dedicação de ambos, a voz falada com nitidez e clareza, a entrega, a fé cênica e o trabalho corporal... Tudo de boa qualidade. A composição de Laura fez-me acha-la estranhamente fofa e junto de Ciotti e Cleber L. a cena deu um gás maravilhoso a peça. Stalin apesar do nome de forte e histórico mostrou-se muito delicado e romântico. É inegável, ótimos atores. Tudo que está no palco está ali com algum proposito. As roupas, a escolha do cenário, as músicas, luz, maquiagem... Tudo está ali com a intenção de nos fazer pensar sobre alguma coisa. O teatro tem essa função transformadora, fazer pensar! A peça “o Hipocondríaco” tem tudo para ser uma grande peça, e com certeza, para primeira apresentação, arrancou boas risadas e divertiu o público. Penso que muitos personagens devem ser melhores aprofundados. Confesso que as primeiras cenas me cansaram, faltou ritmo e volume. Os batimentos cardíacos de um ser humano variam entre o acelerar e o alentecer, dependendo da situação em que esse ser se encontra. Dando assim transformações rítmicas à vida, ao corpo e, para quem acredita, à alma. Quando se encerram as batidas, esse ritmo constante, encerra-se a vida, o corpo e alma vai-se embora. Dessa mesma maneira as artes cênicas dependem do ritmo para sua sobrevivência, sem ele não há nada que aprisione os olhares do público para dentro do universo teatral ali proposto. Essa reflexão, talvez um pouco “viajada”, proponho aos atores do hipocondríaco. Concluo-me aqui, ansiosa para a próxima peça e agradecida aos Deuses do teatro por esse espetáculo incrível. 

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