Cenas de Pluft


PLUFT, O FANTASMINHA

Prólogo

Fantasmas assustam. Posessão clica em um rádio após dizer”som na caixa!” e começam a dançar…

Pluft – (interrompendo a dança) Tia Elga, gente existe?
Elga – Não sei, nunca vi e assusto quem já viu… (sai)
Pluft – Tia Valma, gente existe?
Valma – O que você disse?
Pluft – Eu perguntei se existe gente….
Valma – O que? Tu quer alpiste quente? Pera aí que eu vou pegar… (sai)
Pluft – Tia Maria, gente existe?
Maria – Pluft… (interrompida)
Posessão – (vestida com roupa de marinheiro) Eu sou o capitão dos sete mares! (Pluft sai de cena morrendo de medo)
Maria – Possessão! Quer matar seu irmão do coração? (saem)
Cena I

Aparecem os marujos nas janelas da casa da cultura

Ainda era uma criança, Quando saiu para o mar A aprender a navegar
O Capitão Bonança!

Depois morreu no mar, Deixou de navegar.
Onde está a herança Do Capitão Bonança!?




SEBASTIÃO – Deve ser aqui! Pegue o mapa, Julião!
JULIÃO – Mas está com você Sebastião.
SEBASTIÃO – Deve estar com João, ele é o encarregado do mapa.
JOÃO – O mapa não está comigo, eu disse pra você pegar…
SEBASTIÃO – Ninguém me disse nada…
JOÃO – Isso quer dizer que estamos sem mapa?
JULIÃO – Pelos mares, estamos perdidos! (os 3 marujos começam a chorar)
(aparece Vegas Locomotiva abaixo deles)
VEGAS – Parem de chorar seus tolos, o mapa está comigo! Prestem atenção, aqui diz que devemos encontrar uma casa perdida na areia branca perto do mar verde...
JULIÃO - Deve estar por perto...
JOÃO - Veja na luneta, Julião.
JULIÃO – (Olhando pelo lado contrário) Estou vendo um mar calmo com algumas ondinhas brancas.
SEBASTIÃO – Me dê isso! Estou vendo um mar verde com areia branca… mas nada de casa…
JOÃO – Deixa-me ver… Eu vejo! Eu vejo! Uma casinha abandonada! Sim, eu vejo!
VEGAS – Então vamos! (sai)
JOÃO – Pobre Maribel!
JULIÃO – Pobre Maribel!
SEBASTIÃO – Pobre Maribel! (tom) Precisamos salvar a neta do nosso grande capitão Bonança!
JOÃO – (Mesmo) Precisamos achar o tesouro da neta do grande Capitão Bonança!
JULIÃO – Precisamos pegar o ladrão do tesouro da neta do grande capitão Bonança!
SEBASTIÃO – Viva o grande capitão Bonança!
TODOS – Vivaaaa!
VEGAS – (voltando) Vamos seu tolos! Ou jamais iremos salvar a menina Maribel! (todos saem)

Cena II

PLUFT – Mamãe!
MÃE – O que é, Pluft?
PLUFT – Mamãe, gente existe?
MÃE – Claro, Pluft. Claro que gente existe.
PLUFT – Mamãe, tenho tanto medo de gente!
MÃE – Bobagem, Pluft.
PLUFT – Ontem passou lá embaixo, perto do mar, e eu vi.
POSESSÃO – (entrando) Eu também vi…
MÃE – Viu o que, Pluft?
PLUFT – Vi gente, mamãe. Só pode ser.
POSESSÃO – E eram quatro.
MÃE – Quatro o que?
POSESSÃO – Quatro gente!
MÃE – E você teve medo?
POSESSÃO – Eu não!
PLUFT –  Eu tive, tive muito mamãe.
MÃE – Você é bobo, Pluft. Gente é que tem medo de fantasma e não fantasma que tem medo de gente.
PLUFT – Mas eu tenho.
MÃE – Se seu pai fosse vivo, Pluft, você apanharia uma surra com esse medo bobo. Qualquer dia destes eu vou te levar ao mundo para vê-los de perto.
POSESSÃO – Eba!
PLUFT – Ao mundo, mamãe?!!
MÃE – É, ao mundo. Lá embaixo, na cidade...
PLUFT – Não, não, não. Eu não acredito em gente, pronto...
MÃE – Vai sim, e acabará com estas bobagens. São histórias demais que o tio Gerúndio conta para você. (Posessão corre até um canto e apanha um chapéu)
POSESSÃO – Olha, mamãe, olha o que eu descobri! O que é isto?! (Pluft vai até onde Posessão encontrou o chapéu e mexe nas coisas)
MÃE – Isto tio Gerúndio trouxe do mar.
POSESSÃO – Por que tio Gerúndio não trabalha mais no mar, hem, mamãe?
MÃE – Porque o mar perdeu a graça para ele...
PLUFT - (encontrando um espartilho) E isto, mamãe, (aparecendo) que é isso? Ele trouxe isto também do mar? (Coloca o espartilho na cabeça e passeia em volta da mãe.)
MÃE – Chega de remexer tanto nas coisas...
PLUFT – (para Posessão) Vamos brincar, tá bem? Finge que eu sou gente. (Veste-se de fraque e de cartola, enquanto isso, Posessão coloca a mesma roupa do prólogo, e assusta Pluft novamente, ele vai para a janela)
MÃE – (Sem vê-los) Chega de fazer desordem. Vocês acabam acordando tio Gerúndio.
POSESSÃO – (Pé ante pé, chega por detrás da cadeira da mãe e grita) Uuuuh! (A mãe leva um grande susto e deixa cair as agulhas e o tricô) Eu sabia! Eu sabia que você também tinha medo de gente. Peguei! Peguei! Peguei mamãe com medo de gente...peguei mamãe com medo de gente!...
MÃE – Posessão, você quer apanhar? Como é que eu posso acabar o meu tricô para os fantasminhas pobres, se você não me deixa trabalhar?
PLUFT – (na janela) Eu não iria nem a pau.
MÃE – Onde, Pluft?
PLUFT – Trabalhar no mar. Tenho medo de gente e de mar também. É muito grande e azul demais.. (De repente Pluft se assusta) Oh! (Corre até a mãe sem voz e torna à janela) Mamãe, olha lá. Iiii...Estão vindo (Corre e senta-se no colo da mãe)
POSESSÃO – Mamãe, mamãe, acode!! Eles estão vindo...vindo do mar...e subindo a praia.
MÃE – (Desvencilhando-se de Pluft, que continua agarrado à sua saia, dirige-se até a janela) Não é possível. Desde que nos mudamos para cá ninguém subiu aqui! (pausa) É verdade. Lá vêm eles. (Dirige-se rapidamente para um canto) Prima Bolha?  Venha cá! (entra prima bolha) Olha, uma surpresa hoje, aqui. Adivinha só. Gente! Ainda não sei. Sim...sim... querida. Chame as titias, eles estão se aproximando (prima bolha sai). Vem, Pluft.
PLUFT – (Tremendo) Que medo... que medo... que medo...
POSESSÃO - (Abrindo o baú) Acorda, tio Gerúndio. Vem gente!
GERÚNDIO – (Levantando-se, espreguiçando) Uuuuuu! Tô com um sono!...
PLUFT – De verdade, tio Gerúndio. Gente mesmo. O mundo todo vem aí!
GERÚNDIO – (Sonolento) Tô com sono!... (Fecha a tampa do baú e desaparece, roncando.)
(Pluft, Posessão e a mãe põem-se a escutar. Ouve-se o barulho de passadas pesadas. Todos saem. Ouve-se o canto dos piratas, o navio entra em cena)



Eu sou o barba ruiva
Pirata de fato
Eu uso uma bota, espada e chapéu
Trapaçeiro e malvado como eu
Não existe ninguém de baixo do céu

Salve, salve, salve o barba ruiva
Hahá
Salve, salve, salve o barba ruiva

Sequestrei a menininha Maribel
E aqui estou eu
Procurando o tesouro de seu vô
que já morreu
no baú tem muito ouro
que eu quero só pra mim
há muito tempo que eu procuro
e vai chegando logo o fim

Salve, salve, salve o barba ruiva
Hahá
Salve, salve, salve o barba ruiva


BARBA RUIVA – É aqui mesmo. Foi aqui que o Capitão Bonança escondeu o tesouro. (Corre até a janela)
PERNA DE PAU – Aqueles patetas nunca descobrirão esta casa.
BARBA RUIVA – Então eles queriam ser mais espertinhos do que o marinheiro Barba Ruiva, hem?
MAREMOTO – Queriam salvar a netinha do Capitão, hem? Mas o Capitão Bonança Arco-Íris morreu e quem vai encontrar o tesouro sou eu!
FURACÃO – Serei eu…
CALDINHO – Não, serei eu…
PERNA DE PAU – Eu encontrarei o tesouro do Capitão Bonança e ficarei rico!
MAREMOTO – Eu encontrarei e serei a pirata mais rica dos sete mares…
CALDINHO – Eu encontrarei e vou comprar pernas de pau e ficarei mais alto que todos voc…
BARBA RUIVA – Ninguém vai ficar com o tesouro, por que o tesouro é meu!
TODOS – (contra gusto) Sim… Salve, salve, salve o Barba Ruiva…
BARBA RUIVA – (para Maribel) Está ouvindo? Sou eu. Então o vovô Bonança pensou que podia deixar o mapa do tesouro com a netinha e com os aqueles patetas, hem? Ah! Ah! Ah! Então o capitão vovô não sabia que o marinheiro BARBA RUIVA estava à espreita? Há dez anos que eu espero. Estou cansado, também, ora...Sabem lá o que é esperar 10 anos pelo tesouro do navio fantasma? (Começa a procurar)
FURACÃO – Aqui está o chapéu do Capitão Bonança! (Põe o chapéu e faz continência, depois, aos brados, imitando capitão de navio)
MAREMOTO – (pega o chapéu) Levantar velas! Carrega punhos aos papa- figas!
PERNA DE PAU – (pega o chapéu) Afrouxar a bujarrona! Entra a bombordo, agüenta a guinada!
CALDINHO – Ah! ah! ah! (pega o chapéu) Agora o capitão sou eu...(Escurece de repente)
BARBA RUIVA - Que é isto? (Vai à janela) Ainda é cedo, sol dorminhoco! Que escuro! Oh! Onde está a lanterna? Maremoto?
MAREMOTO – Não sei…
BARBA RUIVA – Perna de Pau?!
PERNA DE PAU – Estava com o Furacão…
FURACÃO – Não senhor, o Caldinho disse que ia pegar..
CALDINHO – Está na minha bolsa! (mostra a bolsa com um buraco) Quero dizer… estava na minha bolsa…
BARBA RUIVA – Ah! Incompetentes! E agora, como vamos ficar aqui no escuro?
MAREMOTO – Eu trouxe velas!!
FURACÃO – Estamos salvos!
BARBA RUIVA – Fósforos? Onde estão?
CALDINHO – Estão na minha bolsa! (repete-se a ação) Estavam…
BARBA RUIVA – Ah incompetentes, os marujos mais idiotas que eu fui arranjar!
PERNA DE PAU – E agora?
CALDINHO – Não podemos ficar no escuro… eu tenho medo..
MAREMOTO – No escuro tem fantasmas… (os  marujos se abraçam)
BARBA RUIVA – Ah seus medrosos, não há nada aqui! (ouve-se um barulho)
TODOS – Ah!!!!!
BARBA RUIVA – Já sei, vamos até a cidade buscar uma lanterna. Você vai ficar aí presinha na cadeira. Mas não precisa fazer essa cara de vítima, que o Capitão Barba Ruiva é bonzinho... Ele não vai te matar não... por enquanto! HAHAHAHA! Vamos buscar a lanterna e voltamos… (saem todos, a menina tira a mordaça)

MARIBEL – Socorro! Socorro! Socorro! João! Julião! Sebastião! Vegas! Meus amigos... me salvem!
PLUFT – Oh! (A menina ao ver Pluft, desmaia.)
MÃE – (Chegando) Ora, Pluft, quem mandou você aparecer?... assustou a menina...
POSESSÃO – Ela morreu?
MÃE – Não, só desmaiou…
PLUFT(Agarrando-se à saia da mãe) E agora?
MÃE – (Coloca a menina na cadeira) Agora temos que esperar que ela volte do desmaio. Coitadinha! (Saindo) Vou procurar algum remédio para desmaio de gente. Posessão, vá chamar suas tias. (a fantasminha sai) E você (para Pluft) fica aí tomando conta dela.
PLUFT – (Segurando a mãe) Eu?!
MÃE – (Voltando-se) Você, sim.
PLUFT – Mas eu tenho medo de gente, mamãe!
MÃE – Você tem medo dela?
PLUFT – Dela...muito não. Mas deles, tenho sim!...
MÃE – (De dentro) Eles não voltarão tão cedo. A cidade é muito longe. (Pluft fica na dúvida, vendo se segue a mãe ou não. Por fim, na ponta dos pés trata de observar a menina com curiosidade e medo. Um momento a menina se mexe e Pluft sai correndo, quase sem fôlego, voltando depois para tornar a observá-la. Pega nos cabelos da menina e sente prazer.)
PLUFT – Gente é engraçado!... (Continua a observá-la até que a menina torna a mexer) Mamãe!
MÃE – (De dentro) Que é, Pluft?
PLUFT – Você está aí?
MÃE – Estou.
PLUFT – (Aliviado)Ah!... (A menina torna a mexer-se) Mamãe, quem sabe a gente pega isto aí e joga na noite e depois fechamos bem a porta e botamos o baú de tio Gerúndio, com tio Gerúndio e tudo dentro, bem em frente da porta para o marinheiro não voltar, e ficamos aqui, nós sozinhos, fantasmas e gente não...
MÃE – (De dentro) Pluft, quem te ensinou a ser ruim assim? Foi o tio Gerúndio?
PLUFT – (Sempre olhando a menina em atitude de defesa) Não é ruindade não, mamãe...É medo!
MÃE – (De dentro) Se seu pai fosse vivo! Que fantasma corajoso ele era. (Aparecendo só de rosto e tornando a desaparecer) Você quer mesmo jogar esta menina fora pela janela, Pluft?
PLUFT – Acho que não quero não. Mas ela podia bem ir logo embora. (Rodeia a menina, muito aflito) Você não acha, mamãe? (Pluft levanta a cabeça da menina) Ooooooooh!
MÃE – (De dentro) O que é, Pluft?
PLUFT – (Radiante) Mas gente é uma gracinha., mamãe...
MÃE – (De dentro) Nem sempre, meu filho, nem sempre...
(Pluft se aproxima e cutuca a menina. Esta torna a se mexer um pouco...Pluft se assusta menos. Maribel torna a ver Pluft, se assusta, mas se levanta e fita Pluft,  espantada. Os dois ficam, um em frente do outro, guardando certa distância, em atitude de mútua contemplação. Silenciosos, com respiração presa, ficam assim por algum tempo.)

MARIBEL – (Tensa) Como é que você se chama?
PLUFT – (Tenso) Pluft. E você?
MARIBEL – Eu sou Maribel.
PLUFT – Você é gente, não é?
MARIBEL – Sou. E você?
PLUFT – Eu sou fantasma.
MARIBEL – Fantasma, mesmo?
PLUFT – É. Fantasma mesmo. Mamãe também é fantasma.
MARIBEL – (Relaxando) Engraçado, de você eu não tenho medo!...
PLUFT – (Idem) Nem eu de você. Engraçado...
MÃE - (De dentro) Pluft!
PLUFT – É minha mãe. Com licença. Que é, mamãe?
MÃE – (De dentro) Com quem é que você está falando?
PLUFT – Com Maribel.
MÃE – Com quem?
PLUFT – (Gabando-se) Ora, mamãe, com gente... (Aproximando-se mais da menina com ar de velha amizade) Com Maribel.
MÃE – Ah! Então ela já acordou?
MARIBEL – Mas sua mãe também é fantasma?
PLUFT – Claro, ora! (Ofendido) Você queria que ela fosse peixe?
MARIBEL – E seu pai?
PLUFT – Meu pai era fantasma da Ópera.
MARIBEL – Fantasma da Ópera?
PUFT – É. Trabalhava num teatro grande!... Agora ele morreu. Virou papel celofane. (Em tom confidencial) Mamãe não gosta que se fale nisto não. Ela fica muito triste, coitada. Quando papai morreu...
MARIBEL – Virou papel celofane?
PLUFT – É. Quando papai virou papel celofane, a família teve que deixar o teatro e vir morar aqui com tio Gerúndio.
MARIBEL – Quem é tio Gerúndio?
PLUFT – (Puxando-a para o baú) Tio Gerúndio dorme aqui dentro. Ele era fantasma de navio.
MARIBEL – Fantasma de navio?
PLUFT – É. Dum navio fantasma. Ele trabalhava à beça...
MARIBEL – Será que era o navio de meu avô, o Capitão Bonança Arco-Íris?
PLUFT – É isto mesmo. Ele é meu tio. O fantasma do navio de seu avô é meu tio.
MARIBEL – Que coincidência, hem?
PLUFT – Que coincidência: seu avô e meu tio trabalharem no mesmo navio!
(Os dois ficam rindo por alguns momentos, contentes com a descoberta mútua.
Um cutuca o outro)
POSESSÃO – (entrando) Mãe! O Pluft tá mexendo na gente!
MARIBEL – Quem é você?
POSESSÃO – Eu sou o seu pior pesadelo. BU! (tenta assustar a menina)
MARIBEL – Eu não tenho medo de você!
POSESSÃO – Mãe! O Pluft estragou essa gente, ela não se assusta mais… (sai chorando)
PLUFT – Não liga pra ela não…
MARIBEL – (Lembrando-se) Oh! (Vai até a janela) O Barba Ruiva vai voltar, meu Deus do Céu. Ele quer roubar o tesouro do meu avô e vai me levar para o mar... (quando olha para trás estão as três tias paradas) Ah! (desmaia novamente)
PLUFT – Acho que ela não estragou…
ELGA – Isso é gente? Achei que gente era maior…
VALMA – Que fofinha…
MARIA – Isso não está certo, temos que tirar essa gente daqui, é muito perigoso…
PLUFT– Ela não é perigosa tia Maria, ela até é do bem…
VALMA – O quê? Ela veio de trem? Como se estamos em uma ilha?
PLUFT – (falando mais alto) Não tia, eu disse que ela é do bem…
VALMA – Ah tá, mas não precisa gritar…
MÃE – (entrando com Posessão) Ela desmaiou de novo?
PLUFT – Sim mamãe…
MÃE – Eu não achei nenhum remédio…
MARIA – Pelos meus cálculos, algo com o cheiro forte pode ajudar…
MÃE – (pensando) Mas o que?
PLUFT – Já sei! (pega uma meia no baú) Isso pode ajudar…
TIAS – A meia do Gerúndio! (ele coloca no nariz de Maribel e ela acorda)
MARIBEL – (para as tias) Quem são vocês?
PLUFT – São minhas tias: Elga Poltergeist, Valma Penada e Maria Assombração…
MARIBEL – Elas também são fantasmas?
MARIA – Espere aí, ninguém aqui é fantasma, somos criaturas extra dimensionais de consistência semi etéria cujo existência quanticamente provocada como reflexo de outra realidade.
MARIBEL – (baixinho para Pluft) E o que isso quer dizer?
PLUFT – Que somos fantasmas… (riem)
MARIBEL – (lembrando) Ah não, o Barba Ruiva vai voltar e encontrar o tesouro do meu avô o Capitão Bonança Arco-íris e depois ele vai… ele vai… (chora)
PLUFT – Que lindo! Que lindo! Que lindo!... Mamãe, mamãe... acode aqui... a menina está derramando o mar todo pelos olhos!..
MÃE – (De dentro) Ela está chorando, meu filho.
PLUFT – Que lindo é chorar, mamãe... Também quero!
POSESSÃO – Etá bem! (belisca ele)
PLUFT – Ai, isso doeu…
MÃE – Fantasma não chora, Pluft. Senão derrete. (para Posessão) Vá buscar um pano para enxugar os olhinhos dela.
PLUFT – Para pegar o choro dela?
MÃE – É. (A mãe fantasma passa a mão na cabeça da menina, que se assusta ao vê-la) Aceita um pastel de vento? Vamos tias, para a cozinha! (saem)
POSESSÂO - (Chegando com um pano) Toma para você pegar seu choro.
(ouve-se barulhos)
MARIBEL – Essa não, eles estão voltando… (passa prima bolha pelo palco com uma bandeija vazia)
MÃE – Volta aqui prima Bolha, esses pastéis são para as visitas!!
MARIBEL – Quem era essa?
PLUFT – Essa é a prima bolha… (ela volta resmungando e logo depois entra mãe)
MÃE – Quer pastéis de vento querida? (ela oferece pastéis imaginários e  ao mesmo tempo come Pluft pega um,.)
MARIBEL – Muito obrigada, senhora Fantasma, a senhora é muito gentil. Mas estou tão nervosa, que nem posso comer. Tenho medo do marinheiro Barba Ruiva. Ele quer roubar o tesouro do vovô Bonança e me levar para o mar. E meus amigos, João, Julião, Sebastião e Vegas Locomotiva, que vinham para me salvar, desapareceram... (Desanda a chorar.)
(Dona Fantasma, muito comovida, mas sempre mastigando, vai saindo meneando a cabeça, mas interrompida por Gerúndio.)
GERÚNDIO – (Levantando a tampa do baú) Pastel! (Senhora Fantasma chega até ele e oferece. Gerúndio faz que tira uns três e torna entrar no baú, sempre com sono. Senhora Fantasma sai.)
MARIBEL – Se meus amigos não chegam, o Barba Ruiva vai me levar para o mar e sabe-se lá o que pode me acontecer…
PLUFT – Mas onde estão seus amigos?
MARIBEL – Não sei. Na certa estão me procurando aí pela praia...
PLUFT – Quem sabe, tio Gerúndio pode dar um jeito? Ele é tão sabido.
MARIBEL – Será que ele ajuda a me livrar do Barba Ruiva?
PLUFT – Vamos perguntar. (Abre a tampa e chama) Tio Gerúndio! Tio Gerúndio! (Desanimado) Está roncando de sono. (Gerúndio tenta se levantar mas apenas se ajeita melhor para continuar a dormir) Não adianta; ele agora só gosta de dormir e de pastel de vento...
MARIBEL – E agora?
PLUFT – Já sei… Tia Maria!
MARIA – (entrando) O que foi Pluft?
PLUFT – Maribel precisa de ajuda…
MARIBEL – Senhora fantasma eu q…
MARIA – Hei, hei, hei, o que eu já disse? Ninguém aqui é fantasma, somos criaturas extra dimensionais de consistência semi etéria cujo existência quanticamente provocada como reflexo de outra realidade.
MARIBEL – Me desculpe senhora, esta história de fantasm…
MARIA – O que?
MARIBEL – (concertando) … essa história de criaturas extra dimensionais de consistência semi etéria cujo existência quanticamente provocada como reflexo de outra realidade é nova pra mim… Mas eu preciso de ajuda, preciso me livrar do Barba Ruiva e seus comparças…
MARIA – Ah, mas eu não sou a pessoa qualificada para isso, não entendo de gente e muito menos de Barba… (sai)
MARIBEL – (Saindo) Então tenho que fugir depressa.
PLUFT – Sozinha nesta praia branca?!
MARIBEL – É.
PLUFT – Neste escuro preto?!
MARIBEL – É. Já vou, antes que eles voltem.
PLUFT - Espera! (Pára e respira fundo) Pronto! Tomei coragem. Mamãe, mamãe... Eu vou.
Eu vou ao mundo procurar os amigos de Maribel. (Entra a mãe e Posessão.)
MÃE - (Numa efusão de alegria) Meu Filho! (Abraçam-se) Se seu pai fosse vivo, ficaria orgulhoso de você. (Sai rápida)
POSESSÃO – Duvido que você tenha coragem…
PLUFT - Vou fingindo de gente. Onde está aquela roupa Posessão? Aquela que você me assustou?
POSESSÃO – Você vai mesmo?
PLUFT – Sim…
POSESSÃO – Então eu quero ir junto!
PLUFT – Está bem, vem me ajudar. Maribel você também. (cena tangencial)
MÃE - (Chegando com uma malinha) Toma aqui, uns pastéis de vento para vocês comerem no caminho. (Ajeita o filho) Cuidado com o sol para não te derretes... (para Posessão) Procura o vento sudoeste que é o mais agradável. (para Pluft)Trata de ser um fantasminha decente, sim? (para Posessão) Só prega susto naqueles que merecerem. Se encontrares algum outro fantasma assustando alguém, procura outra gente para assustar. Há trabalho para todos. E volta um fantasma de verdade. Tenho certeza de que vais gostar do mundo. Abram bem os olhos para ver as coisas bonitas que existem por aí e cuidem bem da menina.
PLUFT – (De mão dada com Maribel) Sim, mamãe... sim... adeus! (Toma a benção da mãe) Vamos, Maribel, vamos procurar seus amigos.
MARIBEL – Adeus, senhora. Voltaremos para procurar o tesouro. Nunca vi família mais simpática, muito obrigada...
PLUFT – Vamos, Maribel!... Iiiiii! Está me nascendo uma coragem!
POSESSÃO – Vamos logo antes que esta coragem vá embora… (saem)
MÃE – Prima Bolha! Prima Bolha! (entra) Querida, imagine que o meu Pluft resolveu ir!!! Sim, Sim... Tal pai, tal Pluft! Que coragem, hem, prima Bolha? Que coragem!... que coragem...
(Na disparada entram Pluft e Maribel)
PLUFT - (Ajoelhando-se aos pés da mãe e agarrando-se à sua saia) Lá vem ele, mamãe, vem ele. Que medo! que medo! que medo!...
MÃE – (Desiludida) Pluft!...
PLUFT – Mas ele é enorme, mamãe!
MÃE – E onde está sua irmã?
PLUFT – Não sei, ela correu para o outro lado e depois não vi mais…
MARIBEL – (Pondo a mordaça e sentando-se na cadeira) Depressa, para ele não desconfiar... (Pluft e a mãe ajudam com grande aflição a amarrar a menina enquanto já se ouve o canto do Barba Ruiva.)
BARBA RUIVA - A menina Maribel... bel... bel...
Tem os olhos cor do céu... céu... céu... E os cabelos cor de mel... mel... mel...
(Pluft e a mãe desaparecem.. Entram os piratas com velas)
BARBA RUIVA – Ah! Maremoto, tira a mordaça da menina!  
CALDINHO - Você ainda está acordada?
PERNA DE PAU – Você não teve medo do escuro?
FURACÃO – Será que ela viu algum fantasma, ela não fala nada…
TORNADO – Acho que um rato comeu a língua dela (ri)..
CALDINHO – Rato?! Onde? (sobe em cima do baú)
BARBA RUIVA – Deixe de ser medroso! Vamos procurar o tesouro! Pois agora podemos procurar a noite toda... (mostram as velas e começam a rir) De manhãzinha sairemos para navegar... navegar... navegar... (Olhando para o encosto da cadeira) Que é isto? O laço afrouxou? Furacão, aperte o laço! (Pluft, nas pontas dos pés, apaga a vela e corre de novo para o seu lugar; a cena escurece)
FURACÃO - Oh! O vento apagou a vela. (Tira uma caixa de fósforos do bolso e volta a acender a vela)
CALDINHO – (com medo) Vento? Mas as janelas estão fechadas…
PERNA DE PAU – Será que foi um fantasm.. (Pluft apaga a vela dele) Essa não, minha vela apagou… (Pluft apaga as outras velas)
MAREMOTO – A minha também apagou…
CALDINHO – E a minha também… (o palco fica no ecuro)
BARBA RUIVA – Calem a boca todos! Caldinho dê-me a caixa de fósforos!
CALDINHO – Ótima idéia Capitão! A caixa está na minha bolsa. (tempo) Estava…
BARBA RUIVA – Ah!!! Seus incompetents!
MAREMOTO – Eu tenho uma aqui! (acendem as velas e o palco também)
BARBA RUIVA -Vamos começar a busca.
MAREMOTO - (Ilumina uma velha espada que está pendurada na parede) Ah! Cá está a espada do Capitão Bonança! Agora é minha.
FURACÃO – (tomando) Será minha!
PERNA DE PAU – Será minha!
CALDINHO – Será … (interrompido)
BARBA RUIVA – MINHA! (Pega a espada e simula uma luta de esgrima, depois, satisfeito, coloca a espada na cintura, Pluft volta.)
MARIBEL - Ai!
BARBA RUIVA – (Virando-se para ela) Que é? (Pluft aproveita o momento e torna a apagar a vela)
FURACÃO - Apagou de novo!
MAREMOTO - O que foi, hem, menina?
MARIBEL – (Disfarçando) Estou com medo...







BARBA RUIVA - Medo? Perto do Capitão BARBA RUIVA? (Risada) Ah! ah! ah! Foi vento (Acende de novo) Nem vento pode com o Capitão BARBA RUIVA. Pergunta ao mar, se eu tinha medo de vento. (Lá fora o vento começa a soprar) O vento é que tem medo de mim. (Ouve-se uma grande trovoada com ventos fortes. É o vento protestando. BARBA RUIVA estremece e corre para a janela para se desculpar) Eu estava brincando... eu estava brincando. (O vento cessa. BARBA RUIVA dirige-se ao baú do tio Gerúndio) Ah! Aqui está o baú do velho Bonança. Onde é o lugar de guardar tesouros? (Demonstrando muita lógica) Lugar de guardar tesouros é baú, ora! (Começa a abrir o baú, e quando aproxima a vela, Maribel grita de novo.)


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