845- A Roupa Nova do Rei (tomo 4)

                   Há tempos venho acompanhando as atividades teatrais no interior do estado, principalmente no que elas tem apresentado em seu movimento renovador; ficamos nas mais das vezes, gratamente surpreendido pelo que é realizado, pelo nível atingido por aqueles que realmente se dedicam ao teatro com seriedade, pois, ao lado dos acontecimentos teatrais, temos procurado acompanhar o movimento de formação dos atores, que infelizmente em muitos grupos e companhias continua aquém das necessidades mínimas dos nossos teatros. 
                                 A formação dos atores é preocupação de poucos e mesmo os jovens atores são pouco motivados a procurar o conhecimento e a teoria, o que já devia estar neles no dia em que decidem integrar companhias teatrais. 
                                   Essa falta de atores treinados, de bons professores ou boas escolas preparadas é o que gera a falta de grupos de teatro, sim o estado deveria ter muito mais companhias. Atores interessados em falar, diretores criativos que colocassem seus pontos de vista a serviço da sociedade.
                                   Costumo dizer que se faltam grupos de teatro é por que talvez faltem coisas a ser ditas, talvez os jovens de hoje não tenham ponto de vista a que declarar. No entanto no interior, em cidades, vilarejos, distritos onde nunca houve teatro, onde grupos oriundos de grandes cidades nunca passaram, ali o teatro não tem raízes.
                                    O Máschara me enche de orgulho por que há nele uma busca continua que se vê principalmente na fala de Cléber Lorenzoni. Um correr atrás da ação perfeita, do jogo correto. O Máschara não quer só levar ao público uma boa peça, mas também um bom texto, boas canções, uma proposta estética a altura. Esperança, emoção, deslumbramento. A Roupa nova do Rei é um espetáculo infantil, mas tão bem colocado, tão elegantemente pontual. Trabalho de primeira com um jogo cênico perfeito.
                                    Em cena cinco atores: Cléber Lorenzoni que também assina a dramaturgia, Renato Casagrande, Alessandra Souza, Raquel Arigony e Gabriel Giacomini.  Lorenzoni nos propõe uma farsa cheia de energia, ritmo, densidade. Em cena Renato Casagrande como vilão em uma interpretação forte, sua principal característica é a energia com que entra em cena, o potencial sonoro e o trabalho corporal.
                                         No Máschara a formação se dá pela "tradição", herdam-se muitos papéis, advindos de atores que duraram muitos anos na companhia e se tornaram excelentes no que faziam. Aprende-se muito do oficio "na raça". No século  XIX os principiantes aprendiam e desenvolviam seus talentos nas periferias, fazendo pontas, substituições e finalmente bons papéis. Ora, de certa forma essa é a regra do Máschara, a diferença é que naquele tempo as marcações eram simples: levanta-se, sentar-se, dar três passos a frente, para proferir uma fala diante da caixa do ponto. As personagens correspondiam a tipos convencionais. Em suma, era preciso somente dizer o texto com certa desenvoltura e conhecer alguns truques para "tirar efeitos". Isso era maravilhoso, pois assim os atores aprendiam na observação, no jogo com atores mais velhos, uma prática infalível. No Máschara há um diferencial que é o ESMATE. Ali os atores aprendem os mais diferentes temas, debate-se estuda-se todo tipo de técnicas, autores. Dali surge o jovem Gabriel Giacomini, aluno do espaço Máschara, esforçado, curioso, e que reflete os seis anos de ESMATE em suas cenas. Durante os ultimos ensaios foram das a ele novas coordenadas, e essas foram vistas em cena. Ele contracena com Cléber Lorenzoni com uma sinergia incrível. Ambos transitam um pela esfera do outro. Quando se vê um jovem como ele, com a tridimensionalidade que alcançou, não há como não se emocionar. O poder do teatro...
                                           No âmbito feminino, duas forças bem específicas: Alessandra Souza e Raquel Arigony, a primeira mais buscadora da técnica perfeita, regida por regras ancestrais do fazer teatral. A segunda não menos voltada para a ancestralidade, mas instintiva, antropofágica. Ambas esparramam-se pelo palco cada uma com sua verdade. Raquel tem a seu favor uma compreensão corporal tão intensa, que a personagem chega até nós muito mais por sensações do que por convenções do velho teatro. Souza triangula com um corporal muito intenso, posturas da commedia dell art. O que me preocupa é um certo virtuosismo que parece aquém do espetáculo, uma preocupação em estar em cena e não em ser em cena.
                                                Cléber Lorenzoni tem um estilo muito interessante de dirigir e conceber. Seu texto é construído em câmara, com improvisações e testes sobre os atores. Não há narrativa advinda de libretos que o detenham. Não há papéis pequenos, não há número de falas, há intensidade cênica. Um ator de Cléber Lorenzoni é valorizado como parte de um todo e em todo esse todo reflete-se sua atuação.
                                                 A iluminação que havia no espetáculo era pouco perceptível, quase uma geral branca. A operação do som é feita de forma perigosa, quase colcoa em risco com volumes exacerbados e ausências inexplicáveis. A trilha sonora, o cenário, os figurinos e a maquiagem nos dão a grandiosidade detalhista da pesquisa sobre o tema: Fantasia, fábula, contos, palácios, medievo... Enfim um espetáculo infantil delicioso que todas as crianças deveriam assistir.

Cléber Lorenzoi (**)
Renato Casagrande (**)
Alessandra Souza (**)
Gabriel Giacomini (***)
Raquel Arigony (**)
Fabio Novello (*)
Stalin Ciotti (*)
Clara Devi(***)
Laura Hoover (**)
Kauane Silva (**)
Evaldo Goulart (***)

                               Arte é vida


                                               A Rainha
                                              

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