843- Paixão de Cristo - Salto do Jacuí - tomo (III)

                        Muito do que se vê em cena é reflexo do que emana da platéia para o palco. A energia que o público envia para os atores, um misto de sua curiosidade, admiração e interesse na historia contada. De qualquer forma, imaginar que tudo o que acontece durante um espetáculo é graças ou culpa do talento dos atores, é na verdade um pouco de ignorância e ingenuidade. 
                        A equipe técnica, delimita e impõe o clima do espetáculo em 30%, o público em 40% e finalmente o trabalho do ator fica com outros 30%. Soma-se aí ainda o ambiente e a intempérie.  Sobre o palco, o teatro carrega toda a arte. O que me faz perguntar se a arte-cênica não é a aproximadora de todas as artes, já que uma representação teatral é uma estrutura composta por elementos que pertencem a todas as outras artes: Poesia, arquitetura, musica, dança, artes plásticas, oratória, moda, pintura, etc. Cada elemento traz consigo para o palco uma gama de signos e um grande número desses signos se perde, e há ainda os signos que se transformam em outros signos. 
                         Essa polissemia da arte teatral faz com que uma mesma cena possa ser compreendida diferentemente por espectadores diferentes. Por exemplo, representa-se uma cena de despedida, onde o diálogo é acompanhado por uma música. O espectador que seja músico dará uma importância preponderante à musica, mas para o espectador mais sensível à dicção prevalecerá o elemento declamatório. Esta polissemia da arte teatral que a distingue das outras artes, permite que espectadores com gostos diferentes e com exigências estéticas diferentes compreendam a mesma peça. 
                         A capela erguida no inicio do século passado, deu ao espetáculo o tom perfeito para impulsionar clima das cenas. Fiquei de pé oferecendo meu lugar a uma senhora uns dez anos mais velha que eu. Passei parte do espetáculo cuidando suas expressões. Sempre fui curiosa o que me confere uma capacidade de quase compreender o que se passa na mente das pessoas ao meu redor. Analiso suas reações, seus micro-gestos. Não sirvo para o palco, disso tenho certeza, mas sou observadora avida das posturas humanas. Logo de inicio percebi na senhorinha a curiosidade latente de quem procura compreender o que irá acontecer. Uma placa enorme a impediu de ver em toda a sua plenitude a cena de Maria com Jesus e Madalena. Eu me espichei o suficiente para ver a riqueza de detalhes com a qual Souza e Jorge tentaram melhorar sua cena. Ambas atrizes de anos. Que discretamente adentraram suas cenas com sutileza e vivacidade. La Jorge é a Maria perfeita, e embora em alguns poucos momentos tenha se atrapalhado na dublagem, concedeu ao espetáculo uma expressão corporal lindíssima. Coluna, níveis de deslocamento, equilíbrio de luxo, enfim tudo o que orgulharia o mestre Meyerhold. As cenas que se estenderam pelo palco da direita culminaram com o martírio do cristo, tão, tão triste que a senhorinha de nome Altiva (que vim a descobrir depois), não se conteve e lhe foi alcançado uma garrafinha d'água. Essa possibilidade catarziana foi de extrema importância para que o público não esqueça jamais de tão celebre apresentação. Mas também para revelar que havia algo estranho acontecendo. Eu mesma demorei para perceber os sinais. Mas eles estavam ali. O espetáculo havia sido prejudicado e muito por uma equipe técnica que de toda forma estruturou completamente equivoca a mise en scene. Sombras exageradas dignas de um expressionismo alemão; público muito distante dos atores; tilha sonora extremamente baixa; luzes que não foram acesas. Não sei por que Lorenzoni contratou a equipe de som e luz, mas é necessário conversar com eles. Rever posturas e equilibrar arestas. 
                       
 Parabéns ao diretor seus atores são muito bem preparados. Com tantas mudanças de níveis, de cenários naturais, ainda assim eles conseguem fazer um grande trabalho. 
                          Dona Altiva levantou-se em pé durante o texto da ressurreição e com as mãos unidas e cabeça baixa, parecia rezar. Foi tocada. Tocada por toda a força de um auto religioso. De uma "Paixão" no sentido teatral medieval da palavra. 
                           Eu voltei para Cruz Alta exausta. Triste por tudo o que a equipe de som e luz e os organizadores do evento promoveram durante o espetáculo, mas muito orgulhosa pelo profissionalismo e energia do Máschara.  
                              Vi grandes interpretações, vi alguns poucos equívocos, mas vi arte!
                               Nos apóstolos o destaque foi para Gabriel Giacomini que se coloca na cena com toda a postura de um grande ator. Um jovem de tantos talentos Douglas Maldaner as vezes parece preocupado mas vem melhorando a cada apresentação. 
                               Stalin Ciotti da um banho e para quem não viu, interpreta quatro personagens. Talento e instinto.
                              Ricardo Fnner amadureceu e muito bem como praticamente todos os atores do Máschara. Com o apoio de Vagner Nardes, a cena dos velhos do templo tem um enorme poder critico/politico. Em 2020 espero ver Nardes em outro grande papel.
                              A noite foi das mulheres, Lorenzoni me disse que Laura Hoover estava abatida durante o dia. Não pareceu-me. Ao contrário, estava ainda melhor que nos dias anteriores. Laura Heger buscando a bacia e quebrando e ainda a capacidade de Antonia Serquevittio de ir crescendo em cena a cada dia me encheram de admiração.
                                 
Alessandra Souza (*) muito capaz, mas pode ter ainda mais noção de equipe. Brigas nos bastidores são péssimos exemplos.
Dulce Jorge (***) orgânica e muito intensa, uma dama do palco
Renato Casagrande (*) Menos é mais, status um deve liderar com humildade, brigas nos bastidores são péssimos exemplos.
Douglas Maldaner (*) Um pouco mais de concentração, brigas nos bastidores são péssimos exemplos.
Stalin Ciotti (**) Ótimo ator, mas é necessário ensaiar tudo antes de cenas complexas para ter domínio junto a cenários e adereços.
Laura Hoover (***) Perfeita
Clara Devi ótima como sempre. Sua capacidade de ajudar os colegas merece (***)
Kauane Silva (***) Destaca-se muito na cena do templo
Cléber Lorenzoni (*) Estava magnifico, mas precisa aprender a não deixar os problema técnicos interferirem negativamente em suas cenas.
Gabriel Giacomini (***) O garoto dos talentos.
Ricardo Fenner (**) Maturidade cênica perfeita, pena ter deixado a porta do templo aberta, de onde eu  estava enxergava mochilas e bolsas.
Fabio Novello (**) Bom Pilatos, vem crescendo a cada apresentação.
Evaldo Goulart (***) Três papéis, muita energia, muita entrega.

Artistas Convidados:
 Antonia Serquevittio - Maria Antonia Silveira  Netto - Eliane Alessio - Laura Heger - Ellen Faccin (pela contra-regragem) (***)

Jesmar Peixoto - Antonio Longui  - Nicholas Miranda - Romeu Waier - Rick Artemii - Vagner Nardes - Gabriel Barbosa - Felipe Padilha (ser mais atento) (**)

Gabriela Fischer - Respeitar sempre os colegas e professores (*)

                                     Arte é Vida
                     
                                                                      A Rainha
                             

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