Diário de Bordo DCCCXL - Lili Inventa o Mundo (tomo 111)

Atores e Alunos


                                         Sempre que o Grupo Máschara marca mais um Cena às 7 largo tudo para ir prestigiar, ainda que já haja assistido todos os espetáculos atuais da companhia. A escolha da vez foi Lili Inventa o Mundo, peça escrita por Cléber Lorenzoni a partir da obra do poeta Mario Quintana. Já tive o prazer de assistir com todos os elencos oferecidos pela trupe. A espevitada Lili de Kelem Padilha, a poética de Angélica Ertel, a desconfiada Lili de Daiane Albuquerque, a esperançosa de Fernanda Peres e ainda a brincalhona de Tatiana Quadros. 
                                        Agora a direção presenteou uma atriz Status cinco com uma personagem status um. Ousada tentativa de motivar e desafiar Clara Devi. A atriz esforça-se e foi talvez esse o seu maior empreendimento no papel. A carreira de interprete é difícil exatamente por que um ator ganha como presente uma personagem que ninguém sabe ao certo se ele tem capacidade para vencer. Mas todos ao redor precisam que ele vença; Clara Devi ainda vai descobrir muito de si mesma em cena, mas diria que lili é um desses papeis divisores de águas. Certamente agora ela subiu um degrau a mais em sua composição como atriz. Seu efeito cênico é muito interessante e seu perfil para mocinhas delicadas e doces é perfeito. 
                                               No palco três veteranos e três principiantes. Um equilíbrio de luxo. Cléber Lorenzoni organizou de forma que sempre havia um ator novo e um ator maduro em cena. Mais uma vez a generosidade cênica presente. Clara Devi precisa no entanto ser mais humilde na cena, não pensar que pode ou deve acertar e saber e conseguir fazer tudo. Deve por outro lado inspirar-se nos colegas.
                                             Alessandra Souza esteve muito bem, inteira, triangular. Se eu fosse dar uma dica seria: Canalize a energia, um pouco menos de tensão, leveza. A cena em que a fada mascarada caiu por cima de Lili e Mathias, pensei que fossem quebrar as penas. Leveza. Cenicidade. 
                                               O teatro não é arte do ensaio, do acerto, da perfeição. O teatro é a arte da verdade. A arte da alma. O público vai ao teatro para ver o ator interpretar e então passa a admirá-lo. Cléber Lorenzoni tem seus fãs, Alessandra Souza tem os seus, Renato Casagrande tem os seus. Cada ator tem suas capacidades, cada ator tem seu estilo, suas cartas na manga. 
                                              Maria Antonia Silveira Netto esteve um tanto apagadinha nessa apresentação. Tímida, nervosa. Muito diferente daquela Maria de Lendas ou Bruxamentos. Queremos ver aquela Maria. São momentos de se perguntar: que tipo de atriz quero ser. Lembre-se querida, a palavra Baste não se encaixa no texto da Rainha das Rainhas. Atrizes devem ler, ler ler muito!
                                               Kauane Silva ganhou, penso eu o papel mais difícil de Lili inventa o Mundo. Papel para um ator Status dois ou três. Talvez por isso falte-lhe bagagem. 
                                                 Os volumes das três novas atrizes foi muito baixo. é necessário retornar aos bancos da ESMATE.  Em compensação o jogo entre Cléber e Kauane e Renato e Clara cresceram muito. O que só fortalece a certeza de que teatro constrói-se no ensaio.
                                                  Lili Inventa o  Mundo é um espetáculo sensível. Simples. Gostoso de assistir e talvez por seu alto apelo poético e lúdico, prenda adultos e crianças. A trilha operada por Felipe Padilha podia ser um pouquinho mais baixa, talvez devido ao baixo volume das três atrizes jovens. 
                                                       Cléber Lorenzoni e Renato Casagrande apararam arestas, e assim como Alessandra Souza triangularam e muito. Lorenzoni tem essa capacidade de dirigir a peça enquanto ela está sendo apresentada. O que admira e preocupa. O achei um tanto cansado em cena, diria até desmotivado. Embora como sempre seu Senhor Poeta tenha sido divertidíssimo. Renato Casagrande é outro grande ator, mas pode ser ainda mais paciencioso com as novas atrizes. seu Mathias é doce e cheio de vida. De tal forma que embora o ator seja alto, consiga parecer pequeno e desprotegido perante a fada mascarada. 
                                                Essa é uma profissão difícil, não para fracassados, preguiçosos ou vadios, como as pessoas gostam de tachar os atores. Ao contrário, essa é uma profissão para fortes, guerreiros, ávidos por desafios e conquistas. É importante saber que cada fracasso e cada sucesso são degraus. Que cada conselho é precioso. E que os termos gostar ou não gostar é para medíocres,  troque-mo-los  por domino ou não domino. 


                                         Arte é Vida


                                                              A Rainha


                                          O melhor: A escolha de Lili Inventa o Mundo para abrir o Cena às 7 de 2019 e o trabalho dos três atores veteranos que lutaram minuto a minuto para manter o espetáculo vivo. 
                                                O pior: O volume baixo das atrizes jovens, que as vezes nos impedia de compreender determinadas cenas.

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