833 - O Incidente (tomo 82)

Uma pequena prova de que coisas boas não morrem...

                  Em questão de minutos, os sete mortos invadiram a praça Erico Verissimo, vieram da direção onde a estátua do escritor jaz. Não sei se alguém viu de onde saíram, estabeleceram-se. Do nada. E em um passe de mágicas o público entregou-se. O Incidente é uma daquelas obras que interessam, principalmente quando apresentadas em cruz alta. O texto escrito na década de setenta, fala da ditadura e faz uma crítica tão intensa à sociedade e à politica que chega a melindrar parte da platéia. Os sete mortos deixados insepultos, aqui são interpretados por Cléber Lorenzoni, Dulce Jorge. Renato Casagrande, Alessandra Souza, Ricardo Fenner, Douglas Maldaner e Stalin Ciotti, encontram-se no coreto de Antares. O espetáculo mudou, mudou elenco, foi reduzido, depois aumentado, agora assistimos como uma performance, ou um fragmento, mas sua força continua a mesma. Perde um pouco se levarmos em conta o olhar divertido da platéia que toma O Incidente como um show de Halloween. Cléber, no papel que lidera os mortos, diz o que quer e o público aplaude e assina embaixo. Isso me surpreende mas não tanto, é interessante perceber o quanto a platéia muitas vezes e dependendo de seu grau de ignorância, não capta o que está na entrelinha. Uma pena já que defendo que o teatro não deve ser mastigado como a tv. Se nossa capacidade interpretativa e nossa rapidez de raciocínio começam a decair, logo os espetáculos terão que ser cada vez mais medíocres. 
                     Lorenzoni alcançou um ponto de compreensão do teatro em que o usa para falar o que quer, Acho no mínimo estimulante quando um ator chega nesse ponto, em que sabe que não está mais a serviço do teatro e sim o teatro está a seu serviço de artista. 
                       Durante o espetáculo falou-se dos ônibus, das ruas, do pouco tempo dado à performance, do sol, e até mesmo da impertinente invasão no palco por parte do técnico de som da feira. 
                       A trilha foi um tanto bagunçada, mal operada, não deu para compreender o que se queria, eu aconselharia a usar apenas a trilha tema do espetáculo. Teatro na rua tem várias formas de alcançar o público, as formas de se contar não respeitam as mesmas regras do palco italiano. O Máschara compreende isso, mas as vezes peca. 
                             Dulce Jorge e Alessandra Souza estavam muito bem na cena. Os outros todos fizeram o que se esperava. Ficamos com fome, com vontade de ver mais... Incidente precisa e deve ser reapresentado muitas vezes. Um espetáculo que nos mostra o verdadeiro Erico, aquele Erico critico, que está em O Tempo e o Vento, mas passa meio escondido por causa da saga dos Terra Cambará, aliás na primeira parte de Antares, ele retorna com a mesma linha falando de Campolargo e Vacariano. Mas é ali, no segundo capitulo, ou segunda parte que Verissimo se entrega e nos faz engolirmos em seco...
                                 Foi enfim uma ótima tarde de espetáculo, pena que não foi o espetáculo inteiro.

                                 Arte é vida.
 
                                  A Rainha


Alessandra Souza (***)
Renato Casagrande (**)
Dulce Jorge (***)
Ricardo Fenner (**)
Cléber Lorenzoni (***)
Stalin Ciotti (**)
Douglas Maldaner (**)
Gabriel Giacomini (*) 
                                 

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