825- Olhai os lírios do campo (tomo 8)

Resgatando uma obra

Dizer que o teatro tem que ser feito, apresentado, mostrado e pronto, pelo simples motivo de que é importante, é uma ideia vazia e simplista. O teatro deve ser feito sim, mas por motivos específicos. A escolha do texto, ou a obra plástica, ou o questionamento estético, ou a crítica social, ou a discussão científica... Enfim, a equipe, a produção, o elenco, ou a direção precisam saber qual o objetivo pelo qual uma obra teatral será levada à cena. 
Nesta quinta-feira, o espetáculo Olhai os Lírios do Campo subiu ao palco do colégio Santíssima Trindade. Tentei elencar os motivos. Erico Verissimo na escola? A adaptação do diretor Cléber Lorenzoni? O trabalho de atores brilhantes? A arte na escola? Olhai os Lírios do Campo como fonte de estudo para aula de literatura? Arrisco até a dizer: Uma mensagem sobre egoísmos e complexos para adolescentes filhos da classe mais abastada de Cruz Alta...
Será que o teatro transforma quem não quer ser transformado? Será que o público não se deixa observar o teatro como quem olha para a parede de um muro? Será que a catarse acontece? Poderia dizer que quando o espetáculo é bom a catarse acontece. No entanto seria esquecer que um terço do espetáculo é de responsabilidade única da forma como a platéia se coloca, anceia, observa, concentra-se, emana. A platéia do colégio Santissima Trindade foi educada, fez tudo direitinho, mas me entristece ver o quão pouco preparados os jovens dessa faixa etária estão para o "acontecimento artístico", para a obra teatral em sua frente. E então chegamos a uma conclusão, o teatro deve ser levado a qualquer custo para o palco, espetáculos infantis, juvenis e adultos, a toda hora, repetidas vezes. Se o Máschara continuar durante bons dez anos, sem parar, fazendo talvez o triplo do que faz, talvez, somente talvez, daqui há dez anos, o teatro finalmente será prato de necessidade extrema na mesa do público. Por isso que surjam mais atores, mais espetáculos, mais diretores, mais cenas. Cléber Lorenzoni é um druida do teatro, há anos ele planeja, cria situações, busca jovens, prepara o futuro para o teatro. E nós? Qual nossa contribuição?
Olhai os Lírios do Campo está muito mais maduro, ao menos o elenco principal. Alessandra Souza embora não estivesse em um bom dia, talvez seja uma atriz que o cansaço atrapalha em cena, esteve mais serena. Dulce Jorge pareceu nervosa e falou um pouco baixo. Cléber Lorenzoni sempre dirigindo enquanto atua. Não quero ficar elogiando o ator, mas me agrada muito um ator que sabe o que está fazendo, que vai cortando, adaptando, resolvendo, solucionando durante a cena. Renato Casagrande também está se tornando um ator-diretor, ser ator-diretor confere aos atores o domínio perfeito da cena. 
No elenco de volta Raquel Arigony, mais madura, mais triangular, faltou-lhe um pouco de volume, na sala tão sem acústica. Kauane Silva nos brindou com boa energia, um arrojo.  Ricardo Fenner, e Douglas Maldaner cumpriram direitinho, embora o ultimo parecesse um tanto gessado. De volta a cena Evaldo Goulart que pensei ter se retirado da Cia. 
Olhai os Lírios do Campo não é uma grande obra artística, na verdade é até um pouco simplória, dividida em dois quadros, a infância sofrida da família Fontes, responsável por tantos complexos no jovem Genoca e a vida amorosa de Eugênio, outro grande fracasso humano, que termina com a decisão de recomeçar. 
Como todo o drama, Eugênio perde tudo o que realmente descobre importar e tem sua catarse de forma simples, tornando-se um homem melhor. 
No salão de eventos da escola, nada de iluminação complexa, cenário levemente amontado, cortina marrom ao fundo do palco. Os atores precisam e devem adaptar-se para que o teatro aconteça, nos toca porém, o fato de algumas vezes as obras serem prostituídas, enfraquecidas. 
Era teatro, mas os sensíveis devem se perguntar: A que preço?!


                 O melhor: Ver os atores Raquel Arigony e Evaldo Goulart de volta ao palco, além do trabalho louvável de Kauane Silva.
                      O Pior : O olhar quase compadecido com que os alunos olharam para o espetáculo.


                                 Arte é Vida

Alessandra Souza (**)
Renato Casagrande (**)
Kauane Silva (***)
Dulce Jorge (**)
Raquel Arigony(**)
Evaldo Goulart (**)
Cléber Lorenzoni (**)
Ricardo Fenner (**)
Douglas Maldaner (**)
Laura Hoover (**)
Stalin Ciotti (*)
Felipe Padilha (***)
Fabio Novello (**)
Colégio STS (*)

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