Tempos obscuros
Em tempos em que o maior medo da sociedade passa a ser a
incerteza se a democracia respeitará os direitos dos cidadãos, se a empáfia, a
prepotência e a soberba não acabarão por
escravizar a liberdade conquistada depois de tanto esforço. No palco, um
déspota de estatura paradoxal, Cléber Lorenzoni compôs um reizinho que nos
parecia tão pequenino ao lado dos colegas de cena e ao mesmo tempo tão grande
devido a seus desmandos e postura ditatorial. Tao pequeno, tao filhote quando o
descobrimos um menino e tao grande pelo domínio de cena do interprete. Andersen
em sua seu conto original, criara uma metáfora à sociedade da época onde todos
vivem em função de modismos e não questionam os modos comportamentais da circulo social que os
rodeia. Esta postura pode até ser explicada
sob o aspecto da psicologia evolucionista, parece mais fácil seguir o
grupo do que questiona-lo. Certamente no tempo das cavernas, se um grupo de
pessoas estivesse correndo em uma direção, a atitude mais sensata seria a de se
unir ao grupo. Os que ficaram para saber o porquê, terminaram sendo comidos por
um leão e, consequentemente, não passaram o gene do “questionamento” para as
gerações seguintes. Olhando por essa ótica, pode parecer extremamente normal e
pouco condenável a postura do reizinho e de seu fiel conselheiro. Mas como não
questionar então as qualidades pouco sensatas de um homem que ocupa um cargo de
poder e que deveria em suma representar o juízo e a segurança de seu povo.
O público de A Roupa Nova do Rei do Grupo Máschara era
formado por famílias e adultos e crianças divertiram-se, o cenário muito
simples não atrapalhava ou sublinha coisas desnecessárias, na verdade era um
trabalho muito limpo, bem a meu gosto. O texto muito bem pronunciado, me dava
prazer em ver as crianças vendo teatro. Em nenhum momento bitolava ou subestimava
os pequenos, ao contrario a qualidade da farsa, muito bem colocada
principalmente pelos protagonista e antagonista, nos prendia minuto a minuto.
Não deu para perceber o espetáculo passar, quando nos damos por conta havia
acabado. Uma das maiores satisfações em ver um espetáculo desse porte, é
perceber o quanto o elenco é coeso. Todos me pareceram atores muito capazes,
dignos de uma grande turnê.
Que prazer depois de quase um ano voltar a ver a atriz
Raquel Arigony em cena, tao solta, tao entregue, tao viva ao lado de seu
partner. Casagrande e Arigony dialogam no palco sem deslumbres de atores que
apenas querem exibir-se. O fazem, mas com domínio de palco. Assim como no outro
time Giacomini e Lorenzoni trocam boas gags e pontuam brilhantemente as cenas.
O mais incrível é que tomada por uma epifania momentânea
compreendi aquelas duas forças se revelando em minha frente. Aquele que tira
dos ricos e dá aos pobres, que vai salvar a todos, e que ironicamente ou por
coincidência ou por perspicácia da direção está de vermelho, ao lado de uma
companheira do sexo feminino, preenchendo um personagem que pela tradição do conto seria do sexo masculino. Do outro
lado o ditador que manda e desmanda, as vezes com violência e sem domínio
nenhum do que comanda. Assim como na vida, nenhum é do bem ou do mal, ambos
passeiam pelos tortuosos caminhos da existência tentando sobreviver e fazer o
que julgam ser o melhor. Em meio as duas forças está Lady Zuzu, o povo. Que
tudo vê, mas acaba por dominado assim mesmo, por aquelas duas forças. Grita,
corre, choraminga, mas o poder não é seu.
Ao final, lições, catarses, mas o prazer de ver as crianças
acompanhando uma historia onde no final tudo fica bem. Não é preciso romper
amizades no face, ou ainda se julgar mas certo que outrem. O poder matriarcal
sobre o trono, está acima de todos e nos acalenta, a rainha, a imperatriz, a
dama encerra o espetáculo não punindo, não berrando, não judiando, mas contando
uma historia. Nesse ano de exercer o sufrágio, podemos escolher entre duas forças,
quem é capaz de dizer qual é a certa?
Lady Zuzu?
O
melhor - O jogo do elenco.
O
pior - a necessidade de se trabalhar e aperfeiçoar cada vez mais a equipe
técnica.
Arte é a
vida!
A
Rainha
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