Sempre que vou ao teatro para assistir um espetáculo infantil, fico
receosa de que talvez esta ou aquela companhia tenham se equivocado e
construído um espetáculo direcionado as crianças que exclua os adultos. Eu fui
uma criança do meio do século passado. Sem televisão em casa, apenas as famílias
mais ricas da cidade podiam se dar ao luxo de ter um aparelho televisivo. Brincava
na rua com outras crianças, peteca, rolimã e pique-esconde eram comuns e
estavam presentes sempre. Gostávamos de sentar e entre uma cinco marias e
outra, cantarolávamos canções, nos imaginávamos como as grandes cantoras
estampadas na revista grande hotel. Líamos muito, mas o apelo era de que ler
era estudo e não laser como hoje em dia ele é apregoado. Amava ler, mas não tínhamos
também acesso a muitos livros. O que posso dizer, é que mantive em mim, viva a chama da infância,
o espirito infantil, a vontade de querer buscar, de conhecer o novo, sem julgamentos,
sem preconceitos...
O cerne do problema do mundo atual está no julgamento. A infância, mesmo
que cada vez mais curta, sendo esmagada pela adolescência, continua como
sempre: desprovida de capacidade de julgar. A criança descobre, não julga. Ela
experimenta, sente, vive. O adolescente de dez anos de hoje também não julga:
ele forma grupo. O que mais me anima, me interessa nos espetáculos infantis do
Máschara, é que eles tem tramas fáceis, mas que não subestimam as crianças. A
criança é criança, e quer conhecer o mundo, quer descobrir. Nós adultos
rotulamos coisas, queremos colocar as coisas em seus supostos lugares. A crianças conseguem aceitar criaturas com
caudas, chifres em coelhos, super-heróis em aviões miniaturas, etc. As crianças
querem descobrir. Ah! E descobrir é tão bom, conhecer, aprender, experimentar.
Conforme as personagens de Erico Verissimo vão aparecendo, nós vamos nos
deleitando e divertindo com a sal capacidade inventiva e a criatividade dos
atores do Máschara que dão vida, não à cópias, mas a interpretações
apaixonantes.
Rosa Maria me pareceu mais adulta, mais madura que em apresentações
anteriores, mas também menos chatinha. O que é ótimo para a personagem. As
vezes os atores querem se parecer com crianças e eu sei que a criança original
da historia é um bebê, no entanto para o público são outras as percepções
necessárias nessa obra.
Renato Casagrande e Alessandra Souza tentaram conquistar a plateia com a
quebra da quarta parede obrigando a criança a falar o tempo todo como se estivéssemos
em um programa de auditório, por Deus! O teatro é para se assistir quietinho,
concentrado!
Por
sorte, aconselhados por alguém na coxia, ambos, bons atores que são,
contornaram suas intenções. O problema é que o espetáculo ficou com dois desenhos.
Primeiro espontâneo e quase interativo e depois redondo e fechado.
Cléber Lorenzoni se divide em muitas figuras e arranca muito riso em
quase todas. O ator tem a plateia na mão quebrando a quarta parede em apenas três
momentos. Deve apenas se dedicar mais
aos bonequinhos assessores de Capitão Tormenta que quase foram desnecessários
ao espetáculo.
Fábio
Novello aparece pouco, parece muito tranquilo e seu Dono do Circo, mas pode nos
dar mais, assim como Douglas Maldaner. Na proposta da direção do espetáculo e
com o talento dos atores, o espetáculo podia muito bem ser apresentado com
cinco atores ao invés de sete. Se há sete atores é por que o diretor quis dar
chances e espaços para mais atores. Estes devem portanto fazer por merecer.
Evaldo Goulart possui muito talento e comunicação com os colegas e
público. Uma pena que dedique tão pouco tempo ao palco. Devemos todos
aprofundar os dons que a natureza nos oferece. Douglas Maldaner faz tudo
direitinho, mas também não nos diz a que veio. Por que merece estar no palco?
Um
trabalho antigo, com doze anos de estrada, maduro, coerente.
Gabriel Giacomini continua muito bem na
cena, mas já o vi muito mais vivo.
Foi
enfim, uma tarde brilhante e a iluminação, e a composição do cenário correspondem
a um exímio trabalho de equipe.
O melhor – A maturidade cênica de Cléber, Alessandra Souza e Renato
Casagrande.
O pior: A necessidade em aprender que o público infantil não precisa ser
excitado o tempo todo, que as crianças devem ainda muito cedo, aprender a ver
teatro em silêncio e concentração.
Arte é vida
A Rainha
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