814 -O Castelo Encantado ( Tomo -134 )


                     Sempre que vou ao teatro para assistir um espetáculo infantil, fico receosa de que talvez esta ou aquela companhia tenham se equivocado e construído um espetáculo direcionado as crianças que exclua os adultos. Eu fui uma criança do meio do século passado. Sem televisão em casa, apenas as famílias mais ricas da cidade podiam se dar ao luxo de ter um aparelho televisivo. Brincava na rua com outras crianças, peteca, rolimã e pique-esconde eram comuns e estavam presentes sempre. Gostávamos de sentar e entre uma cinco marias e outra, cantarolávamos canções, nos imaginávamos como as grandes cantoras estampadas na revista grande hotel. Líamos muito, mas o apelo era de que ler era estudo e não laser como hoje em dia ele é apregoado. Amava ler, mas não tínhamos também acesso a muitos livros. O que posso dizer, é  que mantive em mim, viva a chama da infância, o espirito infantil, a vontade de querer buscar, de conhecer o novo, sem julgamentos, sem preconceitos...
                    O cerne do problema do mundo atual está no julgamento. A infância, mesmo que cada vez mais curta, sendo esmagada pela adolescência, continua como sempre: desprovida de capacidade de julgar. A criança descobre, não julga. Ela experimenta, sente, vive. O adolescente de dez anos de hoje também não julga: ele forma grupo. O que mais me anima, me interessa nos espetáculos infantis do Máschara, é que eles tem tramas fáceis, mas que não subestimam as crianças. A criança é criança, e quer conhecer o mundo, quer descobrir. Nós adultos rotulamos coisas, queremos colocar as coisas em seus supostos lugares.  A crianças conseguem aceitar criaturas com caudas, chifres em coelhos, super-heróis em aviões miniaturas, etc. As crianças querem descobrir. Ah! E descobrir é tão bom, conhecer, aprender, experimentar.
               Conforme as personagens de Erico Verissimo vão aparecendo, nós vamos nos deleitando e divertindo com a sal capacidade inventiva e a criatividade dos atores do Máschara que dão vida, não à cópias, mas a interpretações apaixonantes.
             Rosa Maria me pareceu mais adulta, mais madura que em apresentações anteriores, mas também menos chatinha. O que é ótimo para a personagem. As vezes os atores querem se parecer com crianças e eu sei que a criança original da historia é um bebê, no entanto para o público são outras as percepções necessárias nessa obra.
           Renato Casagrande e Alessandra Souza tentaram conquistar a plateia com a quebra da quarta parede obrigando a criança a falar o tempo todo como se estivéssemos em um programa de auditório, por Deus! O teatro é para se assistir quietinho, concentrado!
         Por sorte, aconselhados por alguém na coxia, ambos, bons atores que são, contornaram suas intenções. O problema é que o espetáculo ficou com dois desenhos. Primeiro espontâneo e quase interativo e depois redondo e fechado.
        Cléber Lorenzoni se divide em muitas figuras e arranca muito riso em quase todas. O ator tem a plateia na mão quebrando a quarta parede em apenas três momentos.  Deve apenas se dedicar mais aos bonequinhos assessores de Capitão Tormenta que quase foram desnecessários ao espetáculo.
       Fábio Novello aparece pouco, parece muito tranquilo e seu Dono do Circo, mas pode nos dar mais, assim como Douglas Maldaner. Na proposta da direção do espetáculo e com o talento dos atores, o espetáculo podia muito bem ser apresentado com cinco atores ao invés de sete. Se há sete atores é por que o diretor quis dar chances e espaços para mais atores. Estes devem portanto fazer por merecer.
           Evaldo Goulart possui muito talento e comunicação com os colegas e público. Uma pena que dedique tão pouco tempo ao palco. Devemos todos aprofundar os dons que a natureza nos oferece. Douglas Maldaner faz tudo direitinho, mas também não nos diz a que veio. Por que merece estar no palco?
           Um trabalho antigo, com doze anos de estrada, maduro, coerente.
           Gabriel Giacomini continua muito bem na cena, mas já o vi muito mais vivo.
         Foi enfim, uma tarde brilhante e a iluminação, e a composição do cenário correspondem a um exímio trabalho de equipe.

                 O melhor – A maturidade cênica de Cléber, Alessandra Souza e Renato Casagrande.
                   O pior: A necessidade em aprender que o público infantil não precisa ser excitado o tempo todo, que as crianças devem ainda muito cedo, aprender a ver teatro em silêncio e concentração.


                    Arte é vida  

                                              A Rainha 

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