802- Deu a Louca no Ator - (tomo 3)- 71º Cena às 7

                   De algum tempo, a esta parte, os críticos teatrais, principalmente aqueles que são ligados à chamada nova critica, andam sendo motivo de comentários e assunto de artigos, declarações. Ontem mesmo no palco, um dos atores disse cagar para a crítica teatral, não me surpreende, já que constantemente a crítica sofre ataques virulentos, de pessoas que dizem que espetáculo ruim é espetáculo ruim, espetáculo comercial é espetáculo comercial, público leigo é público, leigo, como se fosse impossível exigir mais qualidade, como se fosse impossível lapidar o bom gosto, como se fosse impossível formar plateias. 
                      Como se forma uma crítica teatral? Tentei fazer teatro há quarenta primaveras atrás, não me saí bem, não fui contundente e loquaz em cena, pelo contrario, emanei uma mediocridade gritante e por tanto afastei-me do palco. Percebi-me então apaixonada pela cena, como público, como platéia. Enfim descobri o prazer de questionar, de analisar, de ler e assistir tudo sobre o palco. Estudei-o a fundo. Fui de Stanislavski à Barba, de Marlowe à Beket e não quis mais parar. Quando saio de casa, encaminho-me à antiga capoeira, onde atualmente está nossa Casa de Cultura, como se fosse para meu local de trabalho. Vou para estudar cada fragmento de texto. Cada inflexão. 
                       Ser crítica teatral, é amar o palco, o ator, o diretor e a arte cênica. 
                   O texto de Deu a Louca no Ator, foi muito bem escrito. Sua carpintaria teatral conquistada pelo dramaturgo Antonio Fagundes, alcança eco nas palavras de Cléber Lorenzoni e adapta-se perfeitamente a realidade de qualquer lugar onde se faça teatro. O Texto presta homenagem a quem é do metier. O texto reverencia o amargor e o prazer da vida dedicada ao palco. E isso sendo pronunciado pelos baluartes do Máschara é incrível. Dulce Jorge, vinte e seis anos de palco, Ricardo Fenner dezesseis anos, Cléber Lorenzoni vinte e três anos, Alessandra Souza, dez anos, e Renato Casagrande nove anos. Como conseguiram fazer teatro por tanto tempo? Quantos desafios enfrentaram? Deu a Louca no ator reverencia essa profissão que tanto amo, e que só não é mais valorizada por que nosso país pouco sabe de valorizar a arte e os artistas. Como diz o próprio ator louco em cena, aqui pouco se lê, aqui pouco se fica sabendo da arte. Em Cruz Alta, muito foi feito, muito se conquistou, mas ainda há tanto trabalho...
                       Cléber Lorenzoni, Renato Casagrande e Alessandra Souza jogam, trocam, brincam em cena de forma magistral. Na verdade o primeiro ato do espetáculo passa por nós em questão de minutos. Alessandra Souza muito mais madura, Renato Casagrande faz graça e nos prende a cada entrar em cena. Cléber Lorenzoni é um paizão  no palco, contracena, e ao mesmo tempo sabe a hora de ficar quieto, deixando o espaço dos outros. É artilheiro e é atacante. 
                        No grupo de cômicos, Ricardo Fenner e Dulce Jorge se espalham de forma gostosa, cada um com sua função em um tripé onde a terceira perna é o iniciante Stalin Ciotti. Um menino que já desponta cheio de talento. A evangélica diz barbaridades, mas em nenhum momento o estereótipo é ofendido. Ao contrário a atriz que carrega a personagem mantem a elegância do tipo e sai de cena pós conquistar o público. A triangulação dos seis atores em cena é digna de aplausos.
                          O texto flui de forma clara, bem pronunciado, Cléber Lorenzoni pronunciou narizão, quando na verdade o correto é narigão. O falsete de Dulce Jorge flui e é muito bem articulado bem como o trabalho vocal de Alessandra Souza, atrizes fazendo caretinha e a gente na platéia compreendendo tudo, maravilhosamente as claras. 
                           Renato Casagrande da vida a um ator iniciante e cheio de vida, se sai muito bem e consegue parecer realmente um principiante cheio de idealismo, energia e vibração. Ricardo Fenner está engraçadíssimo. A Stalin, cabe trabalhar mais o emocional, mas como estréia entre grandes atores, não deixa a desejar. 
                            A concepção do espetáculo nos da um Macbeth em preto e branco, que parece sair da era vitoriana, no entanto rapidamente o ambiente vai se transformando, ficam pequenos detalhes que nos fazem pensar naquele espetáculo interrompido. A mencionada  rainha caída no chão, a capa modelo Jack estripador, que Lorenzoni usa sobre os ombros, as mangas bufantes, a calça sobre canela de Renato Casagrande. Enfim um pequeno detalhe que nos fez sentir vontade de conhecer essa versão  da tragédia de sangue de Shakespeare. 
                           Mas a peça não fala apenas sobre o teatro, fala sobre a vida corrida, a violência, a falta de tempo. A peça fala de comunicação, fala de amor a existência, e ainda menciona Téspis, Brecht, o Inspetor Geral de Gógol, a floresta de Elsinor, a tragédia grega, MArtha Graham, as batidas de Molière, Ciranô de Bergerac, a destruição de Sodoma e Gomôrra. Enfim uma infinidade de clássicos da literatura. 
                            Na contra-regragem, Douglas MAldaner e Gabriel Giacomini, abrindo as portas para o mundo da técnica, Douglas e Gabriel juntos foram extremamente delicados e profissionais, dois operadores cujo público merece ter como responsáveis pela parte técnica do cena às 7. 
                                 A iluminação de bom gosto e a trilha sonora elegantíssima nos enchem os olhos. 
                                 Em suma, quando um espetáculo pega  o público pela verdade, pelo cuidado, é difícil apontar problemas.
                               Orgulhosa, satisfeita e agradecida ao Máschara, assim me senti após Deu a Louca no ator.


P.S. Todos de parabéns, seria injusto não elevar aos céus todo o elenco e equipe técnica. 
Na contra-regragem: Sandra lazzari e Clara Devi (***)
Laura, Kauane, Vagner, Antonia, Vitoria, (**)

Deu a Louca no Ator
Texto- Adaptação da obra sete minutos de Antonio Fagundes
Direção- Cléber Lorenzoni
Elenco- Cléber Lorenzoni
              Renato Casagrande
              Alessandra Souza
             Ricardo Fenner
            Stalin Ciotti
                   e
                Dulce Jorge
Participação especial- Laura Hoover
Iluminação - Cléber Lorenzoni
Operação- Gabriel Giacomini
Trilha Sonora- Cléber Lorenzoni
operação - Douglas Maldaner
Figurinos- Cléber Lorenzoni e Renato Casagrande
Cenário-  Gabriel Wink
Maquaigem- O Grupo
Produção- Script produções
Bilheteria- Sandra Lazzari e Kauane Silva
Contra-regragem- Clara Devi, Antonia Serquevittio, Laura Hoover e Vitoria Ramos
Apoio- Vagner NArdes, Fabio Novello e Evaldo Goualrt



                        
                        

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