800-Paixão de Cristo (tomo 2) - A luta pelo teatro

              Palcos para todo o lado, som potente com direito a trio elétrico, figurinos impecáveis e um dia lindo de sol, nem isso foi o suficiente para levar um público maior que em 2017 para as ruas nesse feriado. O roteiro assinado por Cléber Lorenzoni deu mais espaço a figura feminina, tão abafada pelos viris heróis da bíblia. Cléber Lorenzoni abriu a cena no marco zero, com a passagem da Mulher Adultera, que realmente não é a Madalena, sim muita gente confunde as duas. Ainda entre as mulheres empoderadas, eis que surge Heródia, composição de Clara Devi (**), há quem diga que a atriz era muito nova para o papel, no entanto quem diz isso esquece o quanto o palco é democrático e muito mais tolerante com a idade dos atores do que por exemplo a televisão. 
               Eis aí também a perspicácia da direção, primeiro que Lorenzoni coloca um Herodes também jovem sobre o palco, segundo que em nenhum momento é dito ao público o que a personagem de vestido azul é do rei, sendo assim o público não chega a ter um ponto de vista. Ela poderia ser Heródia, Salomé ou outra dama da corte. 
                 Embora Cléber Lorenzoni tenha dado espaço as mulheres, parece ter resumido muito o espaço de Maria, (mãe de Jesus) que aliás é minha figura preferida no auto. Dulce Jorge (**) não esteve maravilhosa como em 2017, assim como o interprete de Jesus Cléber Lorenzoni, ( **) certamente como diretores da Cia. e preocupados com tantas augurais, acabaram não se entregando o suficiente em suas construções. Maria poderia ter aparecido antes na cena, já que se tratava de um roteiro que ousava dedicar-se mais ao feminino. 
                     Ainda no núcleo feminino grandes destaques, Alessandra Souza (***) abriu o espetáculo com muita energia, agregando a platéia e prometendo uma grande encenação. Izadora de Azevedo voltou nesse ano como Madalena (**) Gostei mais de sua Salomé, mas orgulhei-me de ver a ousadia de uma não atriz, contracenando sobre o primeiro palco ao lado de Cléber Lorenzoni. Virei fã dessa jovem. 

                                 Laura Hoover(**) teve muita "pegada", discernimento e a tal fé cênica na personagem Marta. A jovem  recebeu um papel sem muito status mas foi dando vida e profundidade a tal ponto de algumas pessoas quase debruçarem-se sobre o evangelho para procurá-la. Ainda no grupo feminino, Raquel Arigony e Sandra Lazzari cumpriram momentos muito relevantes. Arigony (**) me parece, nem reside mais em Cruz Alta, lá estava no entanto, presente, inteira e repleta de braços que se estendiam em várias funções. À Verônica de Sandra Lazzari (**) caberia um vigor maior, uns detalhes mais apurados. Mas ainda assim a atriz não deixa a desejar.
                                      
                 A figuração foi 100% feminina,  e muitas foram as jovens discípulas que merecem aplausos. Cada uma a seu momento fez muito pela cena. Não sei o nome de todas, mas dedico minha admiração pela coragem e determinação de todas. Duas delas aliás já haviam passando em anos anteriores pelas fileiras do Máschara. Su Estevam e Carolina Monteiro. 
             Cléber Lorenzoni com assessoria de    Renato Casagrande optou por um figurino mais limpo, quase uniforme. Saiu um pouco da veracidade hebreia  mas encantou a plateia com detalhes belos e pontuais. Palmas para a Senturia Romana. 
                  No elenco masculino, também foram vários atores dando aulas de interpretação. Renato Casagrande(***), Gabriel Giacomini(***) e Stalin Ciotti(***) foram as pérolas do Máschara.  Os três com dedicação, criatividade, diria até brilhantismo, o primeiro totalmente irreconhecível, levou o ódio do líder politico/religioso a estremos; o segundo ainda que jovem, entendeu perfeitamente o espirito de sua personagem e jogou, jogou muito em cena. Stalin, apesar de ser o mais novo da equipe em bagagem teatral, brincou pelo palco mostrando o quanto é importante o ator em cena divertir-se com sua personagem, água na platéia, chutes no Cristo, chapéu no chão. Tudo o que o ator fez segurava ainda mais nosso fôlego. Ricardo Fenner (**) não fica aquém não. Conseguiu compor algo bem diferente de seu estilo de interpretação em um ótimo desafio, destacando a critica que o espetáculo faz da manipulação das massas pelos detentores do poder. Paulo Guaraci (***) que em 2017 fora um apóstolo, agora irrompe o palco como José de Arimatéia, um dos sacerdotes do templo. Guarací  não tem muitas falas, mas esteve vivo e coerente em todos os momentos da ação.É maravilhoso como o teatro revela talentos e abre espaço para todos que se deixam tocar por ele. Outro destaque foi para Alcídes Cossetim que ainda como apóstolo conseguiu destacar-se também no papel de homem que tentava fazer a justiça de Moisés sobre a mulher adultera. Alcídes foi se destacando nos ensaios mas no dia entrou no palco com força e mordida.
                                                     No núcleo de soldados a direção dividiu os atores em soldados romanos e soldados judeus. Palmas à Douglas Maldaner (**) que foi extremante verdadeiro e violento como o soldado romano que mais flagelava o Cristo. Como Judas Douglas foi bem, mas poderia ter dado mais ação interna e detalhismo à personagem. Entre as fileiras apostolares, trabalho forte entre os figurantes mais maduros. O elenco mais jovem
poderia destacar-me com mais impeto. Vagner Nardes (*)como O discípulo amado precisa de mais pesquisa, o que vai alcançar rápido, já que é interessado e dedicado. Evaldo Goulart se sai bem como apóstolo e na operação da trilha, porém na cruz tanto ele quanto Ciotti deixam a desejar. Ora, tipos pontuais como os crucificados que tem os ohlares de todos em sua direção, precisam acertar plenamente a dublagem. Destaque para Felipe Padilha como Porta Estandarte e as crianças que encontram Jesus ainda no começo. Não ha como não elogiar a pequena notável Vitoria Ramos (***) que nasceu para o palco.
                         O texto adaptado por Cléber Lorenzoni guarda elegância sonora e em vários momentos carrega poeticidade, um trunfo da montagem desda milenar historia que veio para ficar.
                        Muitos foram os dramas, os percalços que o Máschara enfrentou para por A Paixão de Cristo nas ruas. Quem esteve no ensaio geral deve ter percebido mutia cosia que acaba sendo mantida em segredo e que poucos tomam conhecimento, mas não dá para não admirar um grupo que precisa se expor ao que o Máschara se expõe para fazer teatro.

Teatro é vida!
A Rainha

                        
            
          

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