Os Saltimbancos - Escolinha Arco Íris - 784 (tomo 33)

                    Sempre que há teatro, todos os teatros, quaisquer teatros. Lá estou eu, disposta, ativa, interessada. Sou fã do trabalho do Máschara, que luta, luta, mete o pé, tentando impor o teatro em um mundo cada vez mais vazio de arte e cultura (que não são a mesma coisa). O problema é que estas são gotas, gotas pequenas em meio a fogueiras inteiras, queimadas de vazio cultural. A cada dia as pessoas mais se distanciam da arte, fecham museus, tornam-se viciadas em práticas deprimentes. Os modismos que surgem levam as plateias para todos os lados, menos ao teatro e a dança. Em Cruz Alta, o teatro do Máschara tem muitos adeptos, fãs, e isso me enche de orgulho.
                        Vi a trupe reunida na FENATRIGO, dias chuvosos e tristes, vendas, comercio, negócios, onde tentava-se emplacar algumas gotas culturais. Lá estavam os super-heróis do Máschara. Em uma criativa ideia de Cléber Lorenzoni, mas as vezes executada com menos interpretação e mais exibicionismo. Para ser arte é preciso mais da linguagem artística, mais construção e menos clima de "festa anos 80". No sábado surpreendi-me com um visual impecável. O verdadeiro circo místico.
Não há como não elogiar profundamente Renato Casagrande e Cléber Lorenzoni por suas ideias bombásticas. Claro que Alessandra Souza, e Douglas Maldaner podem e devem aprofundar-se muito mais nessa linguagem, vencer obstáculos. Visual sozinho não preenche espaços, não atrai público. O que atrai é talento/técnica. Já havia me retirado quando soube que um dos atores sofreu um acidente durante a prática de seu oficio. Fiquei preocupadíssima. Sei que acidentes acontecem e  certamente uma equipe tão unida se apoiou nessa hora. Pois como sempre digo, no teatro a vida do outro vale mais que a nossa.
Poucos dias depois (sim, o Máschara é incansável), lá estão eles em cena novamente, dessa vez com Os Saltimbancos. A inspiração de Chico Buarque para o conto dos Irmãos Grimm, Os Músicos de Bremen. Quando chegamos para assistir Os Saltimbancos, algumas coisas já vem em nosso consciente coletivo. Gata leve, Galinha com a cabeça para frente e corpo em pliè, cachorro com a parte de trás das mãos levantadas para cima e jumento pesado e lento. Pois bem, algumas dessas bases não estavam presentes. Escolhas. Renato Casagrande e Cléber Lorenzoni fazem o que querem com a platéia, isso os torna louváveis. Alessandra Souza estava impagável, divertidíssima. Evaldo Goulart é um ator jovem que precisa de mais maturidade. Quando está no palco, preenche maravilhosamente a cena. Mas o que quer? Qual sua caminhada? Para onde vai? Precisamos ter objetivos. O jumento de Goulart é fraco na cena, por vários momentos os colegas tentam lhe ajudar a conduzir a cena que começa a afundar, mas ele parece não querer essa ajuda. 
As vezes penso que os atores do Máschara deveriam descer de Status, pois se por um lado são mágicos, poderosos, eficientes e talentosos, por outro lado deixam a desejar em situações simples e que deveriam nos surpreender. 
Abrir perguntas ao público é matéria para atores de tarimba, pois é preciso saber conduzir as crianças, encerrar um assunto para começar outro. Renato Casagrande consegue se impor com sua voz e coordena a cena como bem quer. Cléber Lorenzoni usa de outros macetes, e com uma graça que adquiriu em sua caminhada teatral consegue reiniciar, recomeçar ou dar fim a cenas. 
Os Saltimbancos na escolinha Arco Íris, foi uma dessas situações em que o Máschara tenta lançar gotas, as crianças de Cruz Alta estão cada vez mais conquistadas pelo teatro, e isso gerará frutos no futuro. Espero que os pais percebam o quão bem essa presença do teatro faz bem aos jovens. Claro que apresentar um espetáculo em um espaço pequeno sem o aparato cênico acaba por esfarelar um pouco o trabalho, a criação cênica. A peça mais parecia uma contação de historias. Ainda assim, era o teatro fazendo sua parte. 
Quanto a trilha sonora, é preciso treinar melhor os operadores de som, comentários sobre a sonoplastia confusa podem ser sinônimo de incompetência profissional. E uma equipe como a do Máschara não pode se dar ao luxo de ser considerada incompetente. 
Ainda sobre status, atores bons não são superiores a ninguém. São bons e serão inesquecíveis, mas são ainda colegas de trabalho e devem não se encher de egos. Todos precisam de todos. Quem chegou para se apresentar deve ser agradecido a quem chegou muito antes e montou seu cenário. Quem precisa de seu cachê para pagar as contas do mês deve ser agradecido a quem ficou dias negociando um espetáculo. Quem recebeu o aplauso no final do espetáculo deve lembrar que não nasceu sabendo atuar, que ao contrário, precisou de muitos ensinamentos e dicas para chegar onde está. Quem veste o elenco deve lembrar que não ocupa espaço superior, apenas ganhou um voto de confiança para mostrar sua capacidade. Quem aparece uma vez ou outra para participar de algumas peças deve ser agradecido por as portas lhe estarem sempre abertas. Quem aponta defeitos em todos deve recordar-se que todos os temos. Quem tanto critica deve lembrar que não só com critica se ensina. Teatro é ensinamento, o que estou ensinando?


Arte é vida, você faz arte? Tem certeza? Então como é sua vida?

A Rainha


Cléber Lorenzoni (**-***-**)
Alessandra Souza (**-*-***)
Evaldo Goulart (**-**-*)
Douglas Maldaner - (**-**)
Stalin Ciotti (*)
Renato Casagrande (**-***-**)

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