Os Saltimbancos 781 (32)

Espetáculo com cara de Performance

                            Eu implico com apresentações teatrais em palcos de feiras, em locais onde todos se movimentam o tempo todo como formigas loucas sem saber o que buscam em verdade. Uma praça de alimentação então, é a visão do inferno. Pessoas comendo, comprando, conversando, ouvindo musicas, acessando celulares, e o pior, escapes de luz. Muita luz!
                            Não digo que em uma praça de alimentação não haja alguém interessado em ver teatro. Há com certeza, no entanto são todos prejudicados por aqueles que estão passando sem o minimo interesse na arte cênica. Um espetáculo de rua, com o intuito de chocar, ou de surpreender, com alguma temática especifica, talvez casasse com a situação. Ou uma performance, como as que o Máschara fez em anos interiores. 
                              Sobre um palco de concreto, péssimo para os tendões dos atores que dançam durante o espetáculo, aconteceu um resumo da obra de Chico Buarque. Não teve efeito catarseano, aliás, certamente os presentes imaginaram se tratar de um divertido momento em que quatro bichinhos vinham divertir a "criançada". Ok, essa também é a função do artista, mas essa não é de forma alguma a função do teatro. Pensemos então que naquela situação extremamente contraditória, talvez, alguma criança tenha tido seu coração flechado pelo cupido e se apaixonado pelo teatro. Difícil...
                             Mas o Máschara está lá, está sempre lá. Não importa o que aconteça. Está lá desde 1992, cumprindo sua função de troca com a comunidade na qual está inserido. O Máschara recebe da comunidade, do público, abraços carinhosos, aplausos, doações para seu acervo, apoio financeiro, gentilezas... Em troca devolve a cidade um sem número de performances (sem e não cem numérico). Cléber Lorenzoni, diretor artístico da companhia se esmera em colocar seu elenco sempre perfeito frente ao público. Para isso conta com o apoio imensurável de Renato Casagrande. São caracterizações, coreografias, esquetes... Enfim tudo o que um ser artístico é capaz de bolar com sua capacidade de muitas vezes por em risco seus atores, sacrificá-los, expô-los. No entanto tudo feito com consentimento, desprendimento,por que não dizer, amor!
                             Ora, o Máschara é uma instituição já com mais de vinte e cinco anos. Muitos talentos cruzaram e continuam cruzando por ele. Alguns visitaram, outros deixaram um pouquinho de si e levaram consigo um pouco da arte desse grupo. Alguns criaram raízes, foram amados, odiados, aplaudidos. Dentre as paredes do Máschara debate-se, julga-se, anima-se, motiva-se, libera-se... Oh Deus! Como fazer um leigo entender? O paradoxo está exatamente na barreira entre a mente de um leigo e a mente dos seres que nascem com esse jugo, marcados para serem criaturas do palco. Criaturas diferentes, corajosas, marcadas. Os seres do palco, entregam-se a ele com volúpia, força. Jogam-se como trapezistas de olhos vendados. Lá no final recebem tão pouco, por que nada paga o preço de sua alma, e é a alma que está ali.
                                   Os quatro animaizinhos, frágeis perante a humanidade, os "saltimbancos", procurando um espaço para fazer sua arte. Com medo dos perigos da cidade que não os compreende ou respeita. Ingênuos por sua natureza, unindo forças. Descobrindo suas diferenças. Aprendendo com elas. E ao final, apesar de serem ou terem tão pouco, ainda dando seu melhor na canção final. Assim vi Os Saltimbancos na ultima quinta-feira.
                                    Havia no palco da praça de alimentação da Fenatrigo, vários membros dessa equipe. Atores, diretores, contra-regras, estagiários. A pergunta que deve ficar, é: quais desses todos compreendem o que acontecia ali? Quais compreendem que podem fazer teatro em qualquer lugar do mundo, mas que no Máschara estão "trabalhando". Para durar vinte e cinco anos, em meio há tantos leigos que não frequentam teatro. Que são "interioranos" e que não aceitam muito bem o "diferente". É preciso convencer a todos a cada instante que o que se faz é sagrado e digno de respeito. Para durar vinte e cinco anos, é preciso ser quase perfeito, sem erros, sem sombras de dúvidas. Não da para expor-se nas redes sociais com figurinos, não da para levantar dúvida quanto a moral, não dá para não ser ético. Eu sei, teatro é a gangrena! Ah, tão fácil para Nelson Rodrigues propagar isso do todo de sua carreira já solidificada. Vá fazer gangrena e veja quantas pessoas terás em uma cidade do interior sentadas em seu teatro. O Teatro deve estar a frente, deve romper barreiras, deve chocar. mas não pode usar a seu favor a bandeira da incompetência, da vagabundagem ou do descaso. Infelizmente se queres ser ator, deves trabalhar duas vezes mais que os outros. E no final sorrir e tirar fotos.
                                        Fiquei muito feliz ao ver como a Máschara está abrindo espaço para novos integrantes, preparando-os, mas aconselho a direção a observar muito bem os que vão chegando. A de se merecer, para fazer parte de um grupo tão esforçado! Um conselho: Durante os espetáculos, observem os atores mais velhos, observem as cenas, aprende-se muito observando, olhando. Sejam humildes e não julguem, apenas estejam abertos, orgulho não torna ninguém ator. Orgulho apenas afasta o público e ator sem público é como professor sem aluno... Vocês passarão, o Máschara ficará, se querem fazer parte por um tempo, aprender, construírem uma bela historia e serem sempre lembrados, façam por merecer.
                                     Durante o espetáculo alguns descuidos e essa mania de algumas pessoas de teatro não perceberem que o sonoplasta é figura tão importante quanto qualquer ator, as vezes até mais. Pensei que isso teria sido aprendido com a participação de Gabriel Giacomini interpretando a sonoplastia sobre o palco em O Castelo Encantado. Cléber Lorenzoni como sempre socorreu o colega Evaldo Goulart e roubou a cena com a Gata. Interessante analisar que não fez isso para se exibir, mas por que era isso que a platéia queria. Prova disso foi a forma como mergulharam no mundo da gatinha. É preciso  observar o que a platéia quer e dar isso a eles, são como abelhas em busca do mel.
Alessandra Souza e Renato Casagrande fizeram o esperado, mas as vezes pareciam um pouco perdidos, talvez por causa dos microfones. Evaldo Goulart é tão talentoso, espero que não faça como outros grandes talentos que passaram pelo Máschara, e que por preguiça, acomodação deixaram seu talento de lado e ao curvar-se a vida dita "normal", mergulharam em uma vida triste e vazia. "Quem sou eu" para dizer o que é uma vida triste e vazia. Mas a gente vê nos olhos de alguém que se acomodou, o quanto abandonar a arte é triste e devastador. 
                                        
                                           Para Lembrar: Sou uma senhora idosa, por isso demoro a postar as críticas. Tenham calma, ocupem esse tempo para ler sobre teatro...
                                           Para esquecer: Não esqueçam nada, esquecer é péssimo, principalmente malas com adereços.


                                  Cléber Lorenzoni: (***)
                                  Alessandra Souza (*)
                                  Evaldo Goulart (*)
                                  Renato Casagrande (**)
                                  Stalim Ciotti (*)
                                  Gabriel Giacomini (*)
                                  Laura Hoover (*)

                                               A Rainha
       

Comentários