791 A Roupa Nova do Rei- (tomo 2)

A Arte de conseguir fazer Arte com quem não sabe para que serve a arte...

                     Há algum tempo que acompanho as atividades do Grupo Teatral Máschara, e fico muitas vezes gratamente surpresa pelo que é apresentado, pelo nível alcançado por aqueles que realmente se dedicam ao teatro com seriedade. Na verdade são poucos os atores realmente aptos a se dizerem profissionalmente atores, com capacidade, versatilidade e talento. Agora, com o amadurecimento da ESMATE escola de teatro do Máschara, talvez surjam novos atores, para aumentarem nossa galeria de estrelas. Muitos atores saem de uma oficina, ou ostentam o diploma de um curso, ou ainda participam de alguma pequena esquete performática e já se acham capazes de se dizerem atores. Realmente o teatro confere a seus frequentadores essa equivocada capacidade de com apenas um ou outro pequeno salto ao palco se dizerem atores. Não nos cabe julgá-los ou culpá-los, isso é reflexo de uma platéia pouco exigente, reflexo da falta de escolas direcionadas e a falta de frequência em assistir teatro. 
                    A Roupa Nova do Rei de Andersen, foi uma montagem ousada, não por que trate de assuntos complexos, ou por qualquer outro motivo paradoxal, ao contrário, a narrativa é simples e de certa forma fácil de ser levada ao palco. A ousadia está em o Máschara conseguir aventurar-se em montagens quando possui em seu elenco um número pequeno de grandes atores. 
                         Uma companhia que alcançou vinte cinco anos, precisava ter paralelo a essa historia o crescimento de uma situação propicia a ela. Cursos de teatro, escolas de atores, crescimento de plateias, aberturas de salas de espetáculos, etc... É difícil dar vasão a uma historia de sucesso se a luta parece ser contra o todo a sua volta. Muito pouco foi feito para auxiliar a historia do Máschara. Os atores e diretores da Cia. lutaram, esforçaram-se em criar subterfúgios, locais alternativos, projetos. No entanto isso acaba por ser muito pouco. O teatro precisa se tornar uma realidade, ou haverá sempre o fantasma da evasão humana, a falta de estimulo por parte das familias, o desinteresse, o desrespeito, etc...
                     Cléber Lorenzoni, Dulce Jorge, Ricardo Fenner, Alessandra Souza e Renato Casagrande, de certa forma a atual diretoria do Máschara, vêm há mais de cinco anos lutando em todas as frentes para manter viva a chama. Aí acrescenta-se, Evaldo Goulart, Douglas Maldaner, Fernanda Peres, Raquel Arigony, Fabio Novello e Gabriel Giacomini que pulsam a sua volta.Parece um grupo grande, e é, mas é pequeno para esses vinte e cinco anos e para o que se almeja ainda alcançar. 
                      O Máschara viajou recentemente para mais uma das tantas cidades que vez ou outra decidem consumir teatro sem antes preparar a platéia para isso. As crianças tão acostumadas a redes sociais, videos do youtube e etc, não compreendem muito bem o que é teatro, para eles é algo entre cinema e uma recreação divertida. Alguns ousam pensar que atores são como aqueles palhaços que animam festas infantis, nos quais deseducadamente dá-se beliscões e empurrões. 
                           A Roupa Nova do Rei é um espetáculo que não subestima o público infantil, ao contrário, ele percebe a capacidade da criança em compreender as coisas, em pleno século vinte um, não poderíamos tratar nossas crianças apenas com marionetes falando com vozes debiloides, estaremos assim esquecendo de prepará-las para o mundo violento e competitivo que as aguarda. 
                            O Rei de Fan Fin Fon quer roupas novas, odeia roupas velhas, reclama do que tem e praticamente enlouquece seus fiéis puxa sacos, Flabeur e Lady Zuzu. Eis a ação inicial, um pouco longa, mas belissimamente costurada por Cléber Lorenzoni. Na principal circunstancia dada o Rei anuncia que costureiros devem ser procurados em todo o mundo. Está armado o imbróglio do espetáculo. E as crianças compraram a ideia. Compreenderam os perigos pelos quais o reizinho se arriscava. Maluc e Mulec, agora com nomes respectivamente corretos conseguiram apoderar-se do dinheiro dos cofres. 
                             O teatro tem essa força poderosa que parte do homem sobre o palco, a criatura humana atuando sobre o tablado decide os rumos do espetáculo. E isso se dá por questões filosóficas, sociais e orgânicas. Bom, foi dia de Cléber Lorenzoni comandar o rumo do navio. As crianças amaram o reizinho e quase demoliram com as cenas dos vilões. Merito logicamente também de Renato Casagrande que consegue vestir o manto da vilania. No entanto, o ator pode e deve saber abrir mão textos e cenas. O ator não é escrevo do texto, o texto, a palavra, está a serviço do interprete. Deve por tanto ser bem pronunciada, e ao mesmo tempo dispensada quando desnecessária. 
                               A partir do momento em que as crianças começaram a gritar que compreenderam o que acontecia, era hora de abrir mão, de pular para a parada real pelas ruas do reino. Elas estão ansiosas por ver se cumprir a charada que elas já mataram. Aí sim entra novamente a subestimação do público. 
                             Raquel Arigony e Alessandra Souza não estavam em um bom dia como na estréia. Raquel parecia tensa, preocupada. Talvez o pequeno espaço da coxia tenha feito com que ela soltasse ZuZu antes de sair completamente do palco rumo ao calabouço. Souza não se comunica. Alcança isso gritando ou mandando as crianças ouvirem, mas isso não é comunicar-se com a platéia, isso é apelar. Gabriel Giacomini dialoga muito bem com o reizinho e tem se mostrado ótima escada, mas precisa aprender também há abrir mão de coisas, a resumir cenas, etc.
                             A Roupa Nova do Rei aconteceu, graças a uma equipe inteira. Deve ser apresentado muitas vezes, e que sirva de estimulo para seus atores desafiarem-se e vencerem muitas outras barreiras que precisam ultrapassar para se tornarem grandes atores. 
                               O espetáculo tem um doce cuidado nos figurinos, uma limpeza de cenários, uma luz muito sutil, mas peca quando deixa o volume muito alto no palco. Atores berravam ao não conseguirem ouvir a própria voz. As vezes, quando apresentado em locais sem acústica, o operador precisa ter a sensibilidade de abrir mão de momentos sonoros em prol de que o público consiga ouvir a cena. Porém nos momentos finais do espetáculo algo aconteceu que quase não se ouviam algumas faixas. 
                               
                             Para lembrar: O teatro profissional não é algo para se fazer nas horas vagas, ou quando não tenho nada melhor para fazer. O teatro é escola, é profissão, é trabalho, é auto-conhecimento, precisa de dedicação, sacrifício e estudo.
                                  Para esquecer: O momento em que alguns atores continuam dando seu texto, teimando com a platéia, mesmo não sendo mais ouvidos por ela.

Texto: Adaptação do conto de Hans Cristhian Andersen por Cléber Lorenzoni. (**)
Direção:Cléber Lorenzoni (***)
Elenco: Cléber Lorenzoni (***)
             Renato Casagrande (**)
             Raquel Arigony (**)
             Gabriel Giacomini (**)
             Alessandra Souza (**)
Trilha Sonora: Renato Casagrande  e Cléber Lorenzoni (**)
           Operação  : Stalin Ciotti(*)
Contra-regragem: Laura Hoover (**)
                             Stalin Ciotti (**)
                             Evaldo Goulart (***)
 Iluminação : Fabio Novello (***)
Figurinos: Cléber Lorenzoni e Renato Casagrande (***)
Montagem de Palco: Evaldo Goulart, Fabio Novello, Laura Hoover, Cléber Lorenzoni (**)
Comercialização: Ricardo Fenner (**)
Cenário: O Grupo (**)
Produção: Grupo Máschara (**)
Condução: Pampa Turismo (***)



 Arte é vida

                                                           A Rainha


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