A Maldição do Vale Negro - tomo 25 (777) - Colégio Santíssima Trindade

                       O Colégio das freiras em Cruz Alta, depois de mais de cem anos aqui residindo, e ainda que em um mundo evoluído, cheio de tecnologias, continua com seu aspecto sagrado e mítico. A imponência do franciscano na esquina da pinheiro, exala grandeza e parece guardar segredos e historias incríveis do passado de milhares que dentro daquelas paredes buscaram o conhecimento.
                             Toda a sua pompa, as imagens sacras, os genuflexórios, as colunas e vitros, sempre me pareceram teatrais, cênicos. Como a pintura do velho de barbas cinzas na parede dos fundos da capela, Deus. O teatro é a interpretação da vida, o teatro está nas "máscharas" do dia a dia, o teatro são as nossas posturas, são os nossos silêncios, são os nossos amores, são as nossas alegrias, o que nos fascina e o que nos entristece. O Teatro são as invenções, as cerimonias; as nossas dissimulações, nossas pequenas mentiras, nossas gentilezas exacerbadas. O teatro está por todos os lugares.
                             Adentrei ao colégio com aquele respeito teatral com o qual se pisa em solo sagrado, silêncios, cuidados, calmaria; Afinal ali há uma congregação, uma peça sendo representada, uma peça da comédia humana.
                            Quase trezentos alunos, casa lotada, assistiram A Maldição do Vale Negro, uma peça que passa longe do politicamente correto e talvez por isso mesmo não seja a escolha mais acertada a ser apresentada em um colégio. Porém seria equivocado de minha parte ignorar a bonita relação entre Grupo Máschara e colégio das irmãs, de onde advém um jornada de tramas apresentada que de certa forma abre um leque de percepções por parte dos alunos. Esconderijos do Tempo (2007) Lili Inventa o Mundo (2008) O Incidente (2008) Ed Mort (2015) O Incidente (2015) Os Saltimbancos (20015) O Santo e a Porca (2016). Sendo assim, o olhar dessa platéia especifica, pareceu enxergar além do simples texto de Caio Fernando Abreu. Ora, há uma gama de impressões, de mensagens, de signos e símbolos que um espetáculo emana , e quem dita a sua compreensão, é a sensibilidade do individuo.
                              A historia de Rosalinda, Úrsula e O Conde Mauricio do Belmont é contada com todos os maniqueísmos, escapismos, simplismos, e a intervenção decisiva da providência divina. O que surpreende é o culto pagão brilhando naquele teatro de convenções franciscanas. Claro eu respeito, e vou mais longe, sou devota de São Francisco. No entanto o exacerbamento da interpretação, o visual um tanto caricato e até mesmo o retorico parecem nos chocar. Aliás, alguns alunos pareciam debater-se entre rir, chocar-se ou prestar atenção.
                                 Não vou tecer elogios já esperados a Cléber Lorenzoni, que redirigiu mais uma vez algumas cenas, produzindo uma curva dramática muito correta e nos presenteou com uma impecável Úrsula de Beltmont. Alguns atores pensam que quando se interpreta um texto cômico, deva fazer rir o tempo todo, não, ao contrário, deve-se levar muito a serio, sem apelações, sem exageros, para que a graça nassa organicamente, naturalmente. Claro que nessa montagem de A Maldição, onde impera o pastelão, o escracho, técnicas tão próximas, não há como não soar exagerado e apelativo.
                                 Mas la estava uma obra ímpar, com sua versatilidade, energia e interpretação. Casagrande, Fenner e Lorenzoni seguraram a platéia, conseguiram vencer a barreira da falta de acústica, e tocaram mais algumas dezenas de adolescentes com o poder do teatro. Arte não foi feita simplesmente para gostar ou não, ela deve despertar, revolver dentro de nós, buscar nas profundezas. Apear claro de eu ter torcido para ver no palco do STS a peça Olhai os Lírios do Campo.
                                     Cada ator trouxe novas gags, novas piadas, "hoje é como se fosse outrora, e nunca mais outra vez".  Um espetáculo amadurece, torna-se outra coisa, outra obra, conta novas historias, ou as conta de outras formas. A sexualidade quase mundana do espetáculo faz parte de nossa realidade, portanto não há porque sermos hipócritas e pensarmos que as grossas paredes do convento irão proteger nossos filhos, mas esperei que houvesse um debate, um diálogo maior entre equipe e alunos, ou por que não dizer entre professores e atores antes do espetáculo. O público costuma ser leigo, constantemente precisa ser estimulado a raciocinar pois está acostumado com a linguagem televisiva onde tudo é mastigado.
                                      Quando olhamos para o palco vemos um cenário impecável, atores brilhantes, mas as vezes esquecemos que uma enorme equipe pôs tudo aquilo em pé. Alessandra Souza, Evaldo Goulart, Stalin Ciotti, Laura Hoover (esses dois últimos, talvez a nova geração do Máschara), e ainda Raquel Arigony, Dulce Jorge e Gabriel Giacomini, que mesmo não sendo contra-regras do espetáculo acorreram em auxiliar. A trilha sonora bastante óbvia cumpre-se embora em alguns instantes estivesse um tanto acima do volume necessário. A iluminação não pode se mostrar muito eficaz, já que no espaço não há urdimento, varas de luz etc... Contudo, percebe-se a crescente dedicação de Stalin Ciotti.            
                                   E principalmente em meio a fogueira das vaidades que as pessoas que fazem teatro promovem dentro de si, é importante lembrar que é uma arte de equipe, que o que é justo para mim pode não ser justo para meu colega. Façamos nossa parte bem feita, essa é nossa função e que os Deuses imperem sobre nós.
                                   Cléber Lorenzoni guardou-se para o final, apoiou-se em sua bota imobilizadora para fazer gracejos, depenou o Marquês na cena final e foi aplaudido em cena aberta. Não há como não admirar esse momento, no entanto todos sabemos que o teatro tem como qualidade o efêmero, o hoje significa o hoje, o amanhã é totalmente desconhecido. Torçamos para que tudo seja ainda melhor no próximo Tomo.

                                    Para lembrar: Sacrifícios, houveram muitos para A Maldição.
                          Para esquecer: Posturas negativas e climas desagradáveis que põe em risco a harmonia e até mesmo o profissionalismo.


A Maldição Do Vale NEgro
                   Texto : Caio Fernando Abreu
Direção e Assistência: Cléber Lorenzoni e Dulce Jorge
Elenco:
             AI -Cléber Lorenzoni (***)
             II - Renato Casagrande (***)
             AIII - Ricardo Fenner (***)
Auxiliar de cena
             III - Alessandra Souza (**)
Operador de Som:
             III - Evaldo Goulart (**)
Contra-regragem:
             S - Laura Hoover (**)
             S - Stalin Ciotti (**)
Apoio:
             III-Raquel Arigony
             IV-Gabriel Giacomini




                       Arte é Vida
                                                            A Rainha





 
   

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