774 - Olhai os Lírios do Campo - tomo 7-

                         
O retorno do Cena às 7



                           Quatro anos, esse foi o tempo ao qual o Máschara foi condenado a ficar sem o palco de sua cidade. Para o ator, o palco é algo sagrado, e de importância ímpar. Tudo o que acontece em nossas vida, eu disse tudo!, nos acrescenta algo. Pois bem, esses quatro anos de ausência fizeram com que o Máschara criasse a ESMATE, lutasse, tentasse implantar o teatro no coração das pessoas. Funcionou!
                           No entanto, o Cena às 7 é um projeto incrível, corajoso e vem incentivando a cultura em nossa cidade. O teatro precisa continuar e cumprir sua função humana, social e até politica. Pessoas reunidas, sorvendo uma historia, ouvindo uma ideia, inspirando-se, alimentando-se no altar dos Deuses.   
                             Eu aprecio qualquer espetáculo do Máschara, são todos produzidos com dedicação, esmero e luta. Já havia assistido a obra de Erico Verissimo transformada em teatro, mas precisava voltar a refletir. Teatro é assim, cada vez que assistimos percebemos um novo detalhe, tiramos novas conclusões.
                               Olhai os Lírios do Campo traz um panorama da sociedade dos anos 30, não muito diferente da sociedade atual. Cheia de hipocrisia, fútil e vazia. O personagem de Eugênio Fontes, interpretado pelo ator Cléber Lorenzoni, é ambicioso, pessimista e complexado pelo seu passado. Cléber o defende muito bem, no entanto, embora seja um ator vigoroso em cena, com um trabalho vocal assombroso, ainda assim sua interpretação pareceu-me comedida. (*) Havia algo de desconfortável que o desconcentrava durante as cenas. A curva dramática imposta pelo intérprete foi prejudicada por algumas interpretações. Aliás, houve um equilibro interessante no conjunto de atores sem destaques específicos. Cléber Lorenzoni e Dulce Jorge ainda conseguiram produzir uma belíssima cena de embate na separação do casal Cintra Fontes, prejudicado pelo presença de muitas crianças no público. 
                           Alessandra Souza é Olívia (**), a mulher "idealizada", característica própria do Modernismo, em voga nos anos 30, a atriz passeia com domínio pela cena, embora obtusa em alguns momentos, consegue convencer o público, falta-lhe porém uma mordida, uma gana capaz de torná-la inesquecível.  Dulce Jorge(**) e Ricardo Fenner(**) fecham o time do elenco principal, ela com presença forte, poderia trazer mais proporção vocal, ele por outro lado, emociona, cumpre, mas as vezes deixou transparecer uma certa insegurança.
                                  No segundo escalão, Renato Casagrande (**) e Raquel Arigony(**) encabeçam o time, ele com grande expansividade, ela  com detalhes sutis mas perceptíveis. 
                                   O que realmente me instiga a perscrutação, são os penteados do elenco, tão distantes da realidade dos anos 30. Eugênio e Ernesto pareciam ter saído de alguma obra hippie dos anos 70. Ele deveria estar com o cabelo bem aprumado, até mesmo com ondas, tipicas da toillete masculina da época. Ernesto é um "bom vivã", interessado em mulheres e na noite da Porto Alegre dos anos 20, tão repleta de barbearias. 
                                  A volta do Cena às 7 teve bom público e uma grande preocupação técnica, deixando de lado um pouco do instinto. Gabriel Giacomini (*) pode se concentrar mais, uma boa sonoplastia merece sutileza, presença imperceptível das falanges do sonoplasta. A luz de Fabio Novello (**) não alcança sua capacidade devido a singela ou escassa presença do material cênico necessário. No entanto, os climas propostos se estabelecem e contam de forma capaz o intento cênico do diretor. 
                                 Faltou na reestreia do Cena às 7, o trabalho em grupo, o estar atentos, a entrega sem rede. A mensagem chegou, com o efeito devastador do sistema capitalista, a historia foi muito bem contada, a adaptação é muito bem feita. Me prende, há o recurso teatral, a noção stanislaviska do fazer teatral. Porém o melodrama interpretado com surrealismo podia ser mais intenso, mais triste, mais dramático. 
                                
                                   Para lembrar: A capacidade vocal de Cléber Lorenzoni e a necessária presença perene do Cena às 7.
                                   Para esquecer: os pequenos desencontros mecânicos causados por uma ausência de jogo de quase todo o elenco.

                            


Arte é vida


                                     A Rainha




Ficha Técnica

Espetáculo : Olhai os Lírios do Campo

Direção: Cléber Lorenzoni
Produção: O Grupo
Elenco: Cléber Lorenzoni, Alessandra Souza, Dulce Jorge, Ricardo Fenner, Renato Casagrande, Raquel Arigony(**), Fernanda Peres(**), Douglas Maldaner(**) e Evaldo Goulart (*)
Trilha Sonora: Cléber Lorenzoni e  Renato Casagrande
Operador de Som: Gabriel Giacomini
Iluminação e operação: Cléber Lorenzoni e Fábio Novello
Contra-Regragem: Laura Hoover (**), Stalin Siotti(***), Kauane Silva(**), e Nicholas Miranda(**)


                                  

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