A Bruxinha Diferente - Montagem da ESMATE - Pré-Estréia

                    Em 1958 estreou no Rio de Janeiro, na escola da Professora MAria Clara Machado, Tablado, A Bruxinha que era boa. A historia de uma bruxinha delicada e graciosa que não era aceita por ser diferente, ter cabelo rosa e gostar de flores. Quase sessenta anos depois estréia em Cruz Alta, na escola do professor Cléber Lorenzoni, ESMATE, A Bruxinha Diferente, a historia de uma fada que foi criada por uma bruxa... 
                     

   Saí de casa com minha filha, a ideia era assistirmos teatro, na ESMATE, sede do Grupo Máschara. Fui alertada várias vezes, "peça de alunos", "trabalho amador", "estréia"... Tudo bem, adoro coisas novas, adoro jovens impetuosos e corajosos. A escola de teatro do Grupo Máschara, é uma pérola encravada no centro de Cruz Alta, ali acontece magia, fantasia, ali se ousa sonhar... Já nas escadas, surpresas, arte, brilho, e uma escada dolorosa para meus idos anos. Só não cheguei exausta ao topo por que fui parando para observar quadros, troféus, uma historia tão bonita da arte cênica. 

                  O antigo salão nobre da UNICRUZ deu espaço ao palco italiano/elisabetano da ESMATE, cortina interna fechada e uma floresta representada por folhas secas e ramas que se espalhavam pelas pernas. A sonoplastia deu o clima inicial, embora se mostra-se totalmente confusa e desorganizada no decorrer do espetáculo. Abriram a cena dois duendes ou gnomos, doces e endiabrados que anunciaram as figuras fantásticas que viriam. A caracterização de Renato Casagrande  foi esplendida e se estendeu à todos os personagens. 
                   A esquete com cara de espetáculo inicia com bruxas, gritos,

sons mágicos, e reflete a ideia da direção. A cortina interna se abre, bem a moda do teatro elisabetano, revelando outro plano: a casa de Pedrinho. Ariana dos Santos me pareceu um tanto insegura, mas compunha muito bem a figura da mãe, deveria investir mais em oficinas, me parece ter nascido para o palco. Alessandro peca na dicção mas dentro de suas restrições, consegue manter-se vivo na cena. O Pedrinho de Giacomini poderia nos dar mais, e embora esteja muito seguro em cena, quem brilha é Laura Hoover. A "pequena notável" que tanto elogiei em "Quero ser criança", volta a brilhar, agora como a bruxinha "Helena", nome que particularmente não apreciei. Laura tem um olhar vivo, uma segurança instintiva, uma sutileza de quem nasceu para o palco. 

                  As cenas são curtas, reflexo de uma oficina intensiva, rápida e com muitos alunos. Renato Casagrande brilhou como Belzebu, mas seu destaque vai para assistente de direção, é ali que brilha mais intensamente. Alessandra Souza me encheu os olhos. Em nenhum momento parecia estar em uma esquete, parecia estar em um espetáculo verdadeiro e profissional. Gostei muito do que vi, sem vícios e inteira. Meu aplauso mais caloroso foi a essa atriz que me arrancou lágrimas na cena final. 
                     
O parnaso das fadas foi delicado, composto de forma brilhante com palco aberto e dois cubos brancos em contraponto com o colorido vibrante das fadas, nada de branco chapado, ao contrário! Azul, rosa, verde e amarelo. As fadas falaram um tanto baixo e Raquel Arigony e Antonia Serquevitio ergueram a cena. Luana Brasil tem uma figura altiva, bonita para o palco, mas pode render mais. 
O roteiro de Cléber Lorenzoni é muito sucinto e põe em risco as personalidades de algumas personagens, mas compreendo a necessidade de cenas curtas para atores principiantes. Maria Antonia Silveiraneto e Nicholas Miranda seguram muito bem suas cenas, primeiramente auxiliados por atores tarimbados, logo depois sozinhos. Nicholas é ótimo em cena, tem tempo de comédia, potencia vocal e energia. Maria Antonia não criou uma figura específica, mas sua Crinolina estava inteira em cena. Ela e Nicholas jogaram muito e arrancaram boas risadas da platéia. O romance de Helena e Pedrinho nos propõe amor a primeira vista, e encanta principalmente quando se sabe que os dois interpretes são jovens enamorados, no entanto o brinco da garota deveria ter sido tirado. Destoava do visual. 
                Minha cena preferida foi a reunião de todas as bruxas, No quesito construção, fé cênica, gostei muito de Kauane Silva, que se manteve viva por inteiro, com fé cênica, como diria Stanislavski,  com uma das melhores expressões faciais da esquete. Gabriela Souza e Sabrina Gonçalves são muito tímidas, mas me emociona muito ver jovens se esforçando, se entregando. Ambas encaram o público e segundo comentários, evoluíram muito durante a construção do trabalho. 
                 A batalha das criaturas fantásticas teve algumas vozes baixas, é preciso praticar sempre, se policiar. Até por que o próximo passo é a casa de cultura. Raquel Arigony preenche a cena final com uma calma cênica gostosa de ver, sutil, mas inteira. Energia bem canalizada. 
            A curva dramática nos surpreende com uma revelação melodramática e foi esplendida a forma como a direção segurou tantos focos na cena final. As bruxas saem ganhando, e no grupo das fadas Alana Cunha poderia estar mais viva.   
            O final foi extremamente prejudicado pela sonoplastia, e me entristeceu bem como a cena das magicas, que embora criativa foi confusa com a incompetência de quem deveria ter puxado a caixinha de prendedores.    
      A maquiagem de Cléber Lorenzoni e sua equipe encaixaram perfeitamente, e a criatura do ogro ficou única, com a cara do trabalho. Executada com esmero por Marcelo Padilha. 
                                                   O teatro aconteceu, uma historia foi contada, falava de diferenças, de tolerância. A bruxinha diferente cumpriu duas funções. A lição dada nos poderosos, por dois duendes muito fofos, Vitoria Ramos e Felipe Padilha, nos lembra que todos podemos aprender lições, e que prepotência tem seu preço. Senti falta apenas de mais inserções dos pequenos, Vitoria Ramos preenche o palco graciosamente, parece ter cinco metros de altura. Felipe é muito espoleta, pode ter mais calma, falar devagar...
                  Depois de pouco mais de meia hora, chegava ao fim A Bruxinha Diferente, com uma verdadeira cena de musical da Brodway, tenho certeza aliás que se a ESMATE tivesse mais possibilidades, veríamos apoteoses, engrenagens e tal. Ainda assim há vida, vivacidade, espontaneidade. A musica da nova turma do Balão Mágico de 1987 casou com perfeição. Parece até que a esquete foi  montada à partir da canção. 
             Foi uma tarde agradável, com teatro, e acredito que em sua forma mais simples e gostosa. Teatro sem muita enrolação, frescura, linguagens complexas. Foi o faz de conta universal. Cor, diversão, brincadeira e uma boa historinha.     
           Obrigada crianças, por divertirem essa velha senhora!!
                       



Alessandra Souza (***)
Vitoria Ramos (***)
 Antonia Serquevitio (***)
Nicholas Miranda (***)
Maria Antonia  Silveiraneto (***)
Alana dos Santos da Cunha (*)
Ariana dos Santos (**)
Sabrina Gonçalves Souza (**)
Gabriela Souza (***)
Luana Brasil (**)
Gabriel Giacomini (***)
Renato Casagrande (***)
MArcelo Padilha (**)
Felipe Padilha (**)
Raquel Arigony (**)
Alessandro Padilha (**)
Laura Hoover (***)
Kauane Silva (***)



                                Arte é vida             


                                                                       A Rainha

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