751/752/753 = A Maldição do Vale Negro - tomo 27 / O Castelo Encantado - Tomo 106 / As Balzaquianas - tomo 9
Quando a prefeitura, ou a secretaria de
Nova Ramada, entraram em contato com o diretor da Script Produções, queria em
sua cidade, três espetáculos teatrais. Queriam de alguma forma repetir a
satisfação que obtiveram em 2015, quando a caravana Máschara lá aportou, com Ed
Mort, Os Saltimbancos e O Santo e a Porca. Novamente três espetáculos foram oferecidos.
A maldição do Vale Negro, O Castelo Encantado e As Balzaquianas. O teatro é uma
profissão, seu produto ( espetáculos) tem um valor, e uma importância. É sem
dúvida, um negócio lucrativo. E ainda que o artista na maioria das vezes,
porte-se como um ser superior, que parece escolher quando quer pisar em um
palco, ou uma motivação para fazê-lo, quem contrata, assim como qualquer
empregador, quer um bom trabalho, sem ressalvas.
O ator, na maioria das vezes, não
valoriza a própria profissão. Muitas vezes por que está desestabilizado com a
forma com que todos desonram sua profissão, desdizendo-as, ou desacreditando-a
enquanto profissão. Outros, fazem teatro como um passa tempo. Algo para se
relaxar as vezes. Tais posturas, no interior, podem ser aceitas, mas em algum
momento prejudicam o todo. Para se negociar um bom produto, é preciso que o
artesão da arte, compreenda que deve dedicar-se profundamente.
Em um mesmo, dia três espetáculos. Todos
de grande porte, com textos longos, musica, troca de roupas, curvas acentuadas.
E tudo exigindo muito de seus interpretes. Por trás da mise en scene, uma
técnica também complexa, com cenários significamente grandiosos, sobretudo nos
espetáculos adultos.
Em A Maldição do Vale Negro, três bons atores davam o tom. Cléber
Lorenzoni dando a curva para uma narrativa longa e embora cômica, muito
dependente do texto. O melodrama de Caio Fernando Abreu manteve atenta uma
plateia de adolescentes, cumprindo sua função de envolver a plateia em plena
era das redes sociais.
O Castelo Encantado subiu ao
palco a tarde com Alessandra Souza a frente das cortinas, dividindo com uma
plateia infantil as complexas e criativas personagens de Erico Verissimo.
Cléber Lorenzoni parecia ainda estar no espetáculo da manhã, pois deu-nos mais
cinco personagens.
Para encerrar, Dulce Jorge e
Cléber Lorenzoni recebem a plateia sob sombra chinesa, apresentando a uma
plateia desconfiada e surpresa, o universo feminino de duas criaturas muito
sui-generis.
Foi sim um dia de sucesso, muito riso pela manhã, encantamento a tarde e reflexão a noite. As vezes nós do teatro, temos a ideia de que o público precisa estar fazendo reações sonoras, para estar gostando de algo. Porém, a maior reflexão vem do silêncio. Talvez a população de Nova Ramada não estivesse a espera de algo tão contundente como As Balzaquianas, no entanto, a platéia não tem que estar preparada, ela precisa ser chocada, ser testada, ser surpreendida, ou o teatro perderá sua principal função.
E qual a receita do sucesso? Diria que a maturidade de uma equipe que vem trabalhando junto há vinte e cinco anos, a formalidade dos espetáculos, e o nível de exigência da direção. Claro que acrescenta-se aí o talento dos interpretes, embora sempre se questione muito a existência do tal "talento".
Pela manhã a curva foi muito bem dada, os três atores estiveram vivos, intensos. Ricardo Fenner tem se mostrado um ator admirável. Nos últimos meses seu nível de jogo e compreensão cênica elevaram-se a um nível muito alto. Fenner e Casagrande contiveram-se na primeira cena e aos poucos foram dando ao espetáculo um ritmo poderoso. Mesmo com quase noventa minutos de espetáculo, a plateia continuava interessadíssima. Cléber Lorenzoni improvisa muito e mesmo a queda da peruca não lhe tira o poder sobre a platéia. A trilha de Roberta Queiroz e operada por Evaldo Goulart poderia ser mais sensível, mas o Máschara sempre teve defasagem em sua equipe técnica.
Em O Castelo Encantado(2005), Alessandra Souza dá vida a quarta Rosa Maria do Máschara, e acredito alcance um lugar único. Méritos de sua maturidade cênica e sua competência. Mas ela não está só, conta com um elenco de apoio muito esforçado. O que falta em Souza é o jogo disposto com os colegas. A atriz tenta marcar os gols sozinha e uma disposição maior para a triangulação com os colegas lhe acrescentaria maior sucesso na cena. Renato Casagrande e Cléber Lorenzoni jogam bem, mas olharam-se pouco em cena. Teatro é olho no olho. Evaldo Goulart diverte-se e Raquel Arigony estréia com potencia, embora possa e deva melhorar a capacidade vocal. Sua dona do circo traz um novo colorido a peça.
O Castelo Encantado emociona e comove, a trilha é simplória e pouco acrescenta, apenas sublinha, algo desnecessário. Não é o caso da musica de fechamento e abertura, que para mim seriam as únicas necessárias.
Um cenário delicado e detalhista espera a plateia para o horário nobre da arte. A plateia é pequena, e está repleta de crianças. Ainda assim Dulce Jorge e Cléber Lorenzoni prendem, mantém o ritmo e surpreendem com um final bastante sensível. Cléber Lorenzoni parecia preocupado em cena. Era compreensivelmente seu lado diretor, tentando reparar arestas durante o espetáculo. Dulce Jorge esteve muito bem, embora seja uma atriz substituta, consegue dominar a personagem, remodelaria apenas seu falsete quando interpreta o marido insensível de Leninha. A contra-regragem consegue fazer milagres com a disposição da iluminação, mas continua defasada em sua operacionalização.
Foi um dia célebre para o Grupo Máschara. Quem ganhou foi uma cidade do interior que certamente passa esquecida pelas grandes companhias teatrais. O Máschara preocupa-se até com o lugar onde a platéia irá se sentar, seus atores não parecem ter medo do trabalho e montam praticamente a estrutura de um circo. Méritos também de Fabio Novello que se dedica muito em prol do melhor quando está presente.
Alessandra Souza (**)(***)(**)
Renato Casagrande (**)(***)(**)
Cléber Lorenzoni (***)(**)(**)
Evaldo Goulart (*)(**)(**)
Dulce Jorge(***)
Ricardo Fenner (***)
Fabio Novello (**)(**)(**)
Raquel Arigony (**)
Arte é Vida
A Rainha
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