A arte está acima...
“A vida é
curta, a arte é longa, a oportunidade fugidia, a experiência enganosa, o
julgamento difícil”
Hipócrates
Ouvindo doutor
Eugênio Fontes explanar sobre seus anseios, seus desejos, sua ambição e ainda
vislumbrando sua contraditória marcha em busca do reconhecimento e da
construção de uma carreira, recordei-me de todos os médicos aos quais recorri até
hoje em momentos de dor e mazelas físicas. Curioso como algumas das profissões
exercidas pelo homem nos confundem e são vistas não como meras manifestações
profissionais, mas como lampejos do poderoso senso de humanismo.
Doutor Eugênio Fontes
descobre talvez da pior forma, e por que não dizer, tarde demais, que pode ser
melhor, que pode pôr sua existência a favor do próximo. Há algum tempo perdi
uma amiga, uma senhorinha que ficou durante dois dias em coma e nenhum doutor
quis atendê-la, após discussões, embates e apelos, um doutor “Eugênio” resolveu
tomar alguma providência. Tarde demais, a pobre senhora não resistiu.
Costumo ouvir
muitas pessoas dizerem: “nunca é tarde demais para...”, discordo, as vezes é
tarde demais sim! Para Olívia e Doutor Eugênio Fontes, foi tarde demais. Eunice
Cintra ainda era jovem, poderia casar-se mais um sem número de vezes, mas
Eugênio e Olívia perderam-se no tempo.
A maior função do
teatro não é divertir e fazer rir, a maior função do teatro é fazer pensar.
Posso sim, rir enquanto penso, posso rir para pensar melhor, mas jamais, posso
concordar em praticar tão sagrado ato com o simples interesse do gracejo vazio,
isso seria supervalorizar a transloucada ignorância e a disseminação do
supérfluo, tão valorizado nas redes sociais. Aí dirão que essa senhora é velha
e quadrada, sim, sou mas o legado de tanta frivolidade é um futuro com cidadãos
vazios e pouco preocupados com as questões do mundo.
Na plateia todos
somos pacientes, mas foi a primeira vez que vi nas cadeiras do teatro, tantos
médicos, espero que tenham feito o exercício catártico necessário a quem
assiste um espetáculo teatral. Sobre o palco ao menos ele foi feito e a curva
dramática foi muito intensa. Na verdade Olhai os Lírios do Campo vem crescendo,
tornando-se um espetáculo brilhante. Concepção inteligente, Iluminação
belíssima, Trilha sonora bem exercida, e uma mensagem que nos faz pensar e muito.
Sobre o palco uma
constelação. Alguns batalhando há anos pelo respeito, admiração, e aceitação do
público. Outros, poucos, tentando aprender, crescer, descobrir, tornar-se artistas completos. E ainda alguns perdidos
entre o amar e o simplesmente estar ali. O Máschara possui um grupo muito
versátil e cheio de diversidade. Isso o torna colorido, criativo, cheio de
vieses em suas possibilidades artísticas.
Foi sem dúvida
a melhor interpretação de Cléber Lorenzoni em Doutor Fontes adulto. Dulce Jorge
e Alessandra Souza são grandes atrizes mas em alguns momentos haviam escapes de
texto, e uma certa desconcentração. Possivelmente reflexos de uma insegurança
causada por poucos ensaios. A curva dramática emocionou, e algumas cenas foram
brilhantes, principalmente a passagem do tempo sobre o caminho móvel, e a
discussão que encerra o casamento entre Eunice e Eugênio.
Quando observo
um espetáculo como esse sobre o palco, fico fascinada e encantada com a
capacidade de uma equipe que pouco apoio tem, e que ainda assim nos emociona e
toca a cada apresentação. O olho no olho entre os colegas de cena. A lúdica
cena das crianças com dona Alzira, a emocionada cena de Dr. Eugênio no colo de
Alessandra Souza, o final tão de bom gosto...
Aconselharia
a entrada de Seu Ângelo mais rápida com o tarro, foi percebível que Cléber
Lorenzoni não tinha o que fazer para impedir estar vendo o colega muito antes
desse chegar ao centro do palco. A dicção de Douglas Maldaner como Seu Jango
precisa ser melhor trabalhada. Um grupo de atores tão ávidos de brilhar, de contar, afinal somos todos contadores de historias, pode e deve sempre melhorar seu trabalho. Alessandra Souza pode deixar ainda mais interessante a leitura da ultima carta à Eugênio. O Bebê, embora logo transformado em espectro imaginário, pode ser melhor disfarçado, para que possamos acreditar que ali está a pequena Ana Maria.
A iluminação e trilha Sonora exercidas por Fábio Novello e gabriel Giacomini, fizeram jus há dois dias de trabalho para se alcançar a maestria. Os tons e sutilezas na operação, renderam momentos lindos no espetáculo.
A iluminação e trilha Sonora exercidas por Fábio Novello e gabriel Giacomini, fizeram jus há dois dias de trabalho para se alcançar a maestria. Os tons e sutilezas na operação, renderam momentos lindos no espetáculo.
Olhai os Lírios
do Campo é um acerto, um libelo à Erico Verissimo e a certeza de que muitos
outros grandes trabalhos do Máschara subirão ao palco.
Alessandra Souza (**)
Cléber Lorenzoni (***)
Dulce Jorge (**)
Renato Casagrande (***)
Fernanda Peres (***)
Ricardo Fenner (**)
Douglas Maldaner (**)
Evaldo Goulart (**)
Raquel Arigony (**)
Fabio Novello (**)
Gabriel Giacomini (**)
Fabio Novello (**)
Gabriel Giacomini (**)
A Rainha
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