Olhai os lírios do campo (tomo 3) 746

"Para que exista arte, é necessário que a 
idéia de uma coisa seja representada 
por uma outra coisa."

                    A terceira inserção de Olhai os Lírios levou o público em uma noite fria, ao prédio teatral, para receber de braços e corações abertos, o que lhes seria apresentado. O público não sabia ao certo se seria uma comédia, ou uma drama. Alguns talvez conheciam a obra do imortal Erico Verissimo, mas provavelmente mesmo as que conhecessem, não se dirigiram ao acontecimento cênico, sabendo o que as esperava. E por que?
                       Por que o público de alguma forma sabe seu lugar, compreende sua função. A função da platéia é cordialmente prestar-se a função de expectador e muitas vezes, por mais que critiquemos a plateia, ela está ali, exercendo dignamente sua função. Salvo em algumas vezes que o caos por algum motivo se estabelece e que os atores do Máschara já puderam presenciar. Qual é portanto o lugar do ator? Qual sua função? Estar pronto, estar inteiro sobre o palco e sempre com um corpo cênico; quando falo em corpo-cênico, refiro-me à presença física dilatada. Assim como se refere Barba, ao falar do corpo do ator, como um corpo que sente, reflete, vê, move-se, dança, canta e fala como uma unidade em sintonia, em conexão e resposta ao que está acontecendo ao seu redor no momento da cena. 
                           Podemos chamar isso de elã, de energia, de virtuosismo, de talento, de técnica, ou ainda outros tantos nomes dados por críticos e estudiosos do teatro. No entanto o ponto de vista de Eugênio Barba, referindo-se a um corpo-cênico, engloba uma visão brilhante das capacidades humanas na arte de representar. E isso é buscado  já há algum tempo pelo modo de fazer teatro no Máschara. 
                          O teatro não é um passeio entre amigos, não é um momento de diversão para se contar anedotas, não é uma forma de relaxar depois de um dia de trabalho.  Tudo isso pode até vir junto na bandeja que uma vida dedicada ao interpretar oferece. Mas jamais poderá ser o fio condutor.                           Teatro é trabalho, reflexo de mais trabalho. Teatro precisa ser encarado com dignidade, coisa que vi durante a apresentação do Máschara em Catuípe, mas que deixou escapar detalhes perigosíssimos junto à platéia. Sombras, adereços pelo chão, 
                              Atrasos, iluminação incoerente com a exigência da Cia., textos pronunciados com dicção frágil as vezes. e ainda insegurança por parte de algumas atrizes. 
                                 Acredito piamente que o teatro é um exemplo de generosidade humana, e o ator precisa ser generoso, abrir mão de sua vida as vezes em prol do outro. E esse outro pode ser platéia, podem ser os colegas, etc...
                                 A direção do espetáculo apareceu, aparece nos detalhes, na adaptação do texto literário, aparece no estilo de interpretação adequado, na curva dramática etc... Mas o trabalho de alguns foi atrapalhado pela incompetência técnica da equipe contratada para montar a iluminação. Foi prejudicada também pelo longo atraso do protocolo. 
                               Dulce Jorge parecia insegura em seu texto e Cléber Lorenzoni muito preocupado tentando dirigir durante o espetáculo. 
                               Renato Casagrande, Fabio Novello e Evaldo Goulart trabalharam muito para por o espetáculo sobre o palco. Gabriel Giacomini precisa apurar mais seu timing, apesar de jovem, deve encarar com mais esforço suas funções. Ser ator no interior não é apenas fazer a sua parte. É fazer a sua e de tantos quantos puder a sua volta. 
                              Alessandra Souza esteve bem, mas a noite foi sem duvida da família fontes que conseguiu marcar. Teatro é a arte da repetição, talvez estejam acontecendo poucas repetições, poucos ensaios.
                                 Nunca esqueçamos que para o teatro e o público, não há frio, cansaço, descanso, etc...
                               Continuo admirando o trabalho dos valorosos jovens do Máschara, mas me entristeço quando o teatro não é encarado com todo profissionalismo que ele exige.

Cléber Lorenzoni (*)
Alessandra Souza (**)
Dulce Jorge (*)
Ricardo Fenner (**)
Raquel Arigony (***)
Renato Casagrande (***)
Fernanda Peres (***)
Evaldo Goulart (**)
Douglas Maldaner (*)
Gabriel Giacomini (*)
Fabio Novello (**)

                                 Arte é vida


                                                        A Rainha
                          

Comentários