Complexo de Elecktra - 12ª Edição

Vem aí 25 anos


                     Em 2017 o Máschara completará vinte e cinco anos de historia. De altos e baixos. De conquistas e perdas. De sucessos e fracassos. Parece algo simples, afinal, é só um grupo de" jovens montando historinhas sobre o palco com a cara rebocada de sombras coloridas". Mas se você aproximar bem o olhar do mosaico, verá detalhes incríveis. Vinte e cinco anos, foi o tempo de ir embora uma linda escola de Ballet de Cruz Alta. Foi o ápice e o acalmar do grupo Chaleira Preta. Foi o surgimento da escola de danças Aline Bucco, foi o surgimento do grupo de danças Continente de São Pedro e depois sua extinção. Surgiram grupo Teatral GR produções, grupo teatral Chaplin. Surgiram grandes artistas. Roger Castro, A bruxa da hora do conto, o palhaço chevrolet. Inaugurou-se e depois extinguiu-se o curso superior de danças da UNICRUZ. Nasceu o grupo de danças ABAMBAÉ, que depois mudou-se para outra cidade. Em meio a isso muitos outros artistas, escritores surgiram, perderam-se, desistiram, fracassaram, partiram. No ramo do teatro, dezenas de jovens se embrenharam pelos caminhos da interpretação. Alguns vingaram nesse caminho,  Alexandre Dill, Lauanda Varone, Nádia Régia, Angelica Ertel, Geltom Quadros, Simone De Dordi, Leonardo oliveira e talvez outros que eu nem me recorde. Para alguns o teatro foi um porto seguro, para outros um porto de passagem muito rápido. Para outros um lar. Mas de qualquer forma, um lugar onde penso, cada um deveria se orgulhar. 
                           O Máschara já não pertence a um ou dois. O Grupo Máschara não pode acabar, pois já passou a ser um patrimônio de nossa cidade. Pois vidas passaram ali e acresceram emoção, alegria, pensares, diversão e uma gama de outras benesses para nossas vidas. 
                        Triste é quem não aprendeu nada, não absorveu nada em todos esses anos. O Máschara já teve, Giane Ries a sua frente. Depois, de certa forma Jorge e Dione Silva. Depois Janaíne Peroti e Dulce Jorge E agora Cléber Lorenzoni. 
                           E pergunto-lhes, sabeis todos qual é a função de quem dirige esse grupo? 
                           Mantê-lo, reunir as pessoas, auxiliá-las na descoberta do que é fazer teatro, ajudá-las a desenvolver seus talentos, aprimorar suas técnicas e principalmente: não deixar o teatro morrer, pelo contrário, fincá-lo no chão dessa cidade, para que o valor de tantos que por aqui passaram e lutaram, e se dedicaram, não tenha sido em vão. 
                             Ninguém dura para sempre, mas um baluarte da arte como esse, precisa ficar. 
                       Mas não é tarefa fácil conviver com artistas, prepará-los, até educá-los em alguns casos. Pois há em meio a eles, seus orgulhos, seus brios, seus árduos desejos, seus preconceitos. E infelizmente no que diz respeito aos jovens: a prepotência e a competição. E ambas podem destruir a caminhada de um artista. Talvez seja uma ilusão minha, uma visão poética das coisas, mas a arte deve ser melhor que nós seres humanos, ela é a fonte de nossa almejada perfeição. Nela encontramos a fraternidade, a filosofia, e até Deus. Nela encontramos o homem!
                            Em algum momento Cléber Lorenzoni não mais estará a frente do Máschara, será que de todos aqueles jovens que tentam brilhar nos palcos, algum continuará com esse grupo? Talvez isso seja questão para daqui há muito tempo. Mas muito triste seria ver tantos figurinos, cenários, vidas, energias, historias, indo parar em lixeiras, sendo dividido e acabando em brechós relaxados e de quinta categoria... 
                            Ontem foi um dia de distribuir louros em Complexo de Elecktra. Foi um outro tom, foram outras interpretações. Mas tudo graças a um clima estabelecido bem antes... Um clima de desentendimento, desacorçoamento, insatisfação, preocupação. Sim, pois o teatro é reflexo do clima a sua volta. O teatro é termômetro do conviver humano. Os desentendimentos de alguns artistas, a falta de público, o frio, a preocupação em errar ou acertar, o descaso de alguns colegas, a agonia com o horário. Tudo isso junto e mais mil idiossincrasias, vão resultar no espetáculo sobre o palco. 
                              Foi verdadeiro, intenso, sussurrado, valoroso. Que agradável sensação ver Douglas Maldaner esparramado em seu jogo. A surra cheia de ódio que Ulrica jogou sobre Ereda. O crescimento de Evaldo Goulart. 
                               Complexo de Elecktra na noite de quinta feira, foi um tanto melodramática. Bem como gosto. Não sei se algum dos leitores desse texto já leu Senhora dos Afogados de Nelson Rodrigues, escrita em 1947, e inspirada em O luto cai bem em Electra (1931) de Eugene O'neill e por conseguinte em Oréstia de Ésquilo.  O fato é que Nelson foi a fundo no melodrama em sua Senhora dos Afogados, e isso percebi na sessão de hoje. Revelações, segredos, interpretação dolorosa na mãe. Vilania, voz exaltada. Algumas pessoas diriam, mas melodrama na tragédia? Não sabemos. As tragédias foram interpretadas muito antes do jovem cristo nazareno cruzar pela terra. Então pouco se sabe quanto a forma que as tragédias eram interpretadas, apenas tentamos supô-las à partir de seu texto. De fato há alguns paradigmas e dogmas quanto a tragédia. Mas cada um tenta chegar a um lugar que julga próximo ao que se espera. Para mim, ontem foi a melhor noite de Complexo. 
                             Poderia elencar vários momentos da tragédia.  Mas meu preferido foi a cena final entre Ulrica e Ereda, embora a interprete da filha demonstrasse já esperar o tapa dado por Ulrica. Arigony e Lorenzoni também estiveram muito bem em sua cena. Renato Casagrande sabe ouvir em cena, sabe pontuar e isso me envolve demasiado. 
                                Hoje não vou fazer minha explanação final, a qual sei que todos ficam esperando. Acredito que cada um tem noção de seu esforço, sair de casa para atucanar os outros. Não se preocupar se vai desestabilizar os colegas com colocações pouco ortodoxas. Fazer paulatinamente seu trabalho. Duvidar da ética e da lisura de seus diretores. Brincar no horário de trabalhar. Não conseguir ficar parado em sua função. Fazer pouco para sua capacidade e achar que fez muito. Dissimular cansaço. Querer criar e opinar a tudo antes de concluir com louvor suas próprias funções. Valorizar tanto o material quando se deveria valorizar mais o fazer artístico...
                                Façamos teatro senhores de coração aberto. Isso sim é vida!


                           Para recordar: A presença da aluna da ESMATE na platéia Sandra Lazzari
                                                   Dulce Jorge conduzindo de forma ágil o público
                 


  
                          

Comentários


  1. Cléber Lorenzoni (***)
    Renato Casagrande (**)
    Alessandra Souza (***)
    Evaldo Gullart (*)
    Douglas Maldaner (***)
    Gabriel Araujo (**)
    Raquel Arigony (***)
    Príncipe Herry

    ResponderExcluir

Postar um comentário