Complexo de Elecktra - (tomo 5) 736

Noite de insegurança

                      O ator esparrama-se pelo palco com todo o seu potencial, quando pode entrar em cena despreocupado, livre para criar, sem preocupar-se com nada que não seja a sua ação cênica. Nesta quinta noite de Complexo de Elecktra, atores e equipe técnica estavam tensos, preocupados e isso vazava até a plateia. A Sessão Maldita tem um clima denso, que precisa do mergulho dos atores em profundidades obscuras de seus interiores. Concentração. Silêncios. Pausas. E isso tudo é matemático. Uma matemática que vem do raciocínio e da sensibilidade em ouvir o outro e ouvir a plateia. Mas como fazer tudo isso se os atores precisam fazer andar toda a maquinaria teatral por traz das cortinas?
                    Sentada na platéia me vi muitas vezes incomodada, chocada as vezes e isso é maravilhoso. No dia em que o público fica em dúvida entre continuar assistindo ou se retirar, devido a um constrangimento, a produção de sessão maldita pode sentir-se realizada. Pois o teatro e principalmente este tipo de teatro vem para nos tirar da zona de conforto. Balançar nossos valores. A cena de nudez de Ereda, a tentativa do coito entre Werner e Ereda, a masturbação da mãe que pode ser muito mais aprofundada e uma outra gama de cenas. Não é teatro para qualquer um, não é Olhai os Lírios do Campo, não é Esconderijos do Tempo e não é Ed Mort. É preciso que os atores tenham compreensão de qual  é seu produto.
                No plano das construções e composições, não desgosto do penteado de Ulrica. Lembra muito “tragédia-grega”, uma mulher com nome de Ulrica, (colônia alemã), no campo, pendurando roupas em um varal, com porte de rainha... Se pensarmos isso tridimensionalmente, uau, um grande acerto. Somos o que somos, mesmo que estejamos varrendo uma rua, ou sentados no banquete de uma rainha. E o que importa em Complexo, é o que está dentro! Por outro lado as “tranças-familia-Adams” da protagonista, tiram sua força, tiram sua sensualidade, e me lembram muito o universo rodriguiano. Como se Ereda fosse uma ninfeta. Não é uma visão errada, mas não resume demais toda a sua complexidade? Isso sem falar que pela lógica cronológica, Ereda usa tranças todos os dias, mas para matar o tio ela o solta. Quando decidiu? O cabelo solto tem a ver com a sensualidade? Por que então está preso durante a cena da nudez? Tem a ver com assassinatos? Então por que está preso quando a mãe vai morrer? Confuso...
             As vezes a direção de um espetáculo nos dá espaço, para ver até onde vai nossa logica criativa.
           O trabalho vocal de parte do elenco é uma aula a parte, mas precisa se estender por todos. Propulsão, força, interação, ritmo, melodia, sonoridade, falsete, potencia, respiração... Vamos buscar?
         Me incomoda as vezes ficar presa, a espera  que me conduzam, quando quero seguir os personagens...
         As cenas tão bem escritas por Ivo Bender e que são representadas atrás do painel da lembrança, foram as melhores nesta sessão. A agressividade de Werner ao jogar o cenário para o chão pode ser um pouco mais cênica, ou os vidros da sala podem estar condenados. Quando Ereda traz a cadeira de rodas com o tio, falta plástica, aliás o elenco jovem de Complexo de elecktra precisa buscar a arte dentro de si. Assistam mais filmes, leiam mais livros, ouçam outras musicas. Nada tem a ver com gostar, ou com quais livros gostam de ler, e sim com alimentar-se de códigos. Estar atenta como a Marquesa de Merteuil em Relações Perigosas. 
           O trágico deve ser buscado, mas o trágico passa por outros ramos e gêneros para se compor. Isso quer dizer que as vezes dentro de um espetáculo trágico, minha função é não ser trágico, para despertar o trágico em outros personagens... Estranho paradoxo, mas interessante. Henrique por exemplo deve guardar todo o trágico para o final do espetáculo, quando termina de matar a mãe. No decorrer ele precisa investir em algo meio sinistro, confuso, pois é um menino confuso na historia.
          O mundo de Ereda prestes a ensolarar-se deve ser buscado, pois simboliza a necessidade que a natureza colabore com os planos humanos, no entanto a natureza está possessa, os deuses querem justiça pois o homem que fazia a terra produzir (pai), foi morto e os dois que a possuem agora, são dois incapazes. Todo homem incapaz de fazer a terra produzir, não é digno de possuí-la. Bertold e Ulrica nunca falam da terra, são egoístas demais. Werner, Henrique e Ereda tem seus momentos de ode à terra. E esses momentos precisam ser honrados. O melhor discurso que honra a mãe terra, fica até agora por conta de Evaldo Goulart.
             A sonoplastia do Complexo se confunde com a movimentação e muitas vezes nem chega a plateia, mas precisa ser bem executada. 
            Desgosto totalmente do prólogo e da primeira cena.
            Por outro lado reconheço o esforço e a garra da equipe. Que os Deuses lhes deem forças para continuar  e os recompensem no final da caminhada.


Arte é vida
Atuação                                                                              Contra-Regragem

Renato Casagrande (**)                                Renato Casagrande (*)
Alessandra Souza     (**)                              Alessandra Souza (**)
Evaldo Goulart         (**)                              Evaldo Goulart (***)
Gabriel Giacomini     (**)                           Gabriel Giacomini (***)
Cléber Lorenzoni       (**)                             Cléber Lorenzoni (***)
Raquel Prates           (**)                                    Raquel Prates (**)
Douglas Maldaner   (**)                                Douglas maldaner (*)  
       

             

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