Noite de insegurança
O ator esparrama-se pelo
palco com todo o seu potencial, quando pode entrar em cena despreocupado, livre
para criar, sem preocupar-se com nada que não seja a sua ação cênica. Nesta
quinta noite de Complexo de Elecktra, atores e equipe técnica estavam tensos,
preocupados e isso vazava até a plateia. A Sessão Maldita tem um clima denso,
que precisa do mergulho dos atores em profundidades obscuras de seus
interiores. Concentração. Silêncios. Pausas. E isso tudo é matemático. Uma
matemática que vem do raciocínio e da sensibilidade em ouvir o outro e ouvir a plateia.
Mas como fazer tudo isso se os atores precisam fazer andar toda a maquinaria
teatral por traz das cortinas?
Sentada na platéia me vi muitas vezes incomodada, chocada as vezes e
isso é maravilhoso. No dia em que o público fica em dúvida entre continuar
assistindo ou se retirar, devido a um constrangimento, a produção de sessão
maldita pode sentir-se realizada. Pois o teatro e principalmente este tipo de
teatro vem para nos tirar da zona de conforto. Balançar nossos valores. A cena
de nudez de Ereda, a tentativa do coito entre Werner e Ereda, a masturbação da
mãe que pode ser muito mais aprofundada e uma outra gama de cenas. Não é teatro
para qualquer um, não é Olhai os Lírios do Campo, não é Esconderijos do Tempo e
não é Ed Mort. É preciso que os atores tenham compreensão de qual é seu produto.
No plano das construções e composições, não desgosto do penteado de
Ulrica. Lembra muito “tragédia-grega”, uma mulher com nome de Ulrica, (colônia
alemã), no campo, pendurando roupas em um varal, com porte de rainha... Se
pensarmos isso tridimensionalmente, uau, um grande acerto. Somos o que somos,
mesmo que estejamos varrendo uma rua, ou sentados no banquete de uma rainha. E
o que importa em Complexo, é o que está dentro! Por outro lado as
“tranças-familia-Adams” da protagonista, tiram sua força, tiram sua
sensualidade, e me lembram muito o universo rodriguiano. Como se Ereda fosse
uma ninfeta. Não é uma visão errada, mas não resume demais toda a sua
complexidade? Isso sem falar que pela lógica cronológica, Ereda usa tranças
todos os dias, mas para matar o tio ela o solta. Quando decidiu? O cabelo solto
tem a ver com a sensualidade? Por que então está preso durante a cena da nudez?
Tem a ver com assassinatos? Então por que está preso quando a mãe vai morrer?
Confuso...
As vezes a direção de um espetáculo nos dá espaço, para ver até onde vai
nossa logica criativa.
O trabalho vocal de parte do elenco é uma
aula a parte, mas precisa se estender por todos. Propulsão, força, interação,
ritmo, melodia, sonoridade, falsete, potencia, respiração... Vamos buscar?
Me
incomoda as vezes ficar presa, a espera
que me conduzam, quando quero seguir os personagens...
As
cenas tão bem escritas por Ivo Bender e que são representadas atrás do painel
da lembrança, foram as melhores nesta sessão. A agressividade de Werner ao
jogar o cenário para o chão pode ser um pouco mais cênica, ou os vidros da sala
podem estar condenados. Quando Ereda traz a cadeira de rodas com o tio, falta
plástica, aliás o elenco jovem de Complexo de elecktra precisa buscar a arte
dentro de si. Assistam mais filmes, leiam mais livros, ouçam outras musicas.
Nada tem a ver com gostar, ou com quais livros gostam de ler, e sim com
alimentar-se de códigos. Estar atenta como a Marquesa de Merteuil em Relações
Perigosas.
O
trágico deve ser buscado, mas o trágico passa por outros ramos e gêneros para
se compor. Isso quer dizer que as vezes dentro de um espetáculo trágico, minha
função é não ser trágico, para despertar o trágico em outros personagens...
Estranho paradoxo, mas interessante. Henrique por exemplo deve guardar todo o
trágico para o final do espetáculo, quando termina de matar a mãe. No decorrer
ele precisa investir em algo meio sinistro, confuso, pois é um menino confuso
na historia.
O
mundo de Ereda prestes a ensolarar-se deve ser buscado, pois simboliza a
necessidade que a natureza colabore com os planos humanos, no entanto a
natureza está possessa, os deuses querem justiça pois o homem que fazia a terra
produzir (pai), foi morto e os dois que a possuem agora, são dois incapazes.
Todo homem incapaz de fazer a terra produzir, não é digno de possuí-la. Bertold
e Ulrica nunca falam da terra, são egoístas demais. Werner, Henrique e Ereda
tem seus momentos de ode à terra. E esses momentos precisam ser honrados. O
melhor discurso que honra a mãe terra, fica até agora por conta de Evaldo
Goulart.
A sonoplastia do Complexo se confunde com a movimentação e muitas vezes
nem chega a plateia, mas precisa ser bem executada.
Desgosto totalmente do prólogo e da primeira cena.
Por outro lado reconheço o esforço e a garra da equipe. Que os Deuses
lhes deem forças para continuar e os
recompensem no final da caminhada.
Arte é vida
Atuação
Contra-Regragem
Renato Casagrande (**) Renato
Casagrande (*)
Alessandra Souza
(**) Alessandra Souza (**)
Evaldo Goulart (**) Evaldo
Goulart (***)
Gabriel Giacomini (**) Gabriel
Giacomini (***)
Cléber Lorenzoni (**) Cléber
Lorenzoni (***)
Raquel Prates (**) Raquel
Prates (**)
Douglas Maldaner
(**) Douglas
maldaner (*)
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