Zah Zuuu, a construção que deu certo

                     Para o público leigo, um palhaço é só um palhaço, e realmente algumas crianças e adultos vão para casa pensando: "Nossa, que monte de bobagens". Afinal de contas o âmago da técnica é exatamente a extrema e genuína busca do que há de mais simples e puro no interior de cada interprete. Aliás, eu diria que clown não é interpretação, clown é vivência. Algumas noções de triangulação, ou até bases advindas de Stanislavski, estão presentes, mas não são elas que comandam a ação. O Clown surge do despojo e da aceitação em ser ridículo, em permitir-se cair, soltar pum, tropeçar e etc... Quantos atores permitem-se a isso? Principalmente no inicio de sua carreira.
                           Fazer clown é um exercício que todo ator deveria vivenciar. O ator é um antes e outro depois, do clown. Mas não confunda, não será qualquer ator que conseguirá fazer um clown.  Cada um de nós é um universo em si próprio. E no palco ao ver os dois atores que carregam Rahri e Babah -3-, sinto uma certa melancolia, o que aconteceu? Onde estão todos os outros talentosos atores do Máschara? Renato e Cléber contam uma historia simples, mal acabada, mas bem bolada. Os detalhes são muitos e o riso ainda pode crescer muito. Mas esse clown está sendo posto a serviço da Cia.? Como se chegou a eles? 
                               Acredito muito em fases, em momentos. Cada espetáculo de um grupo não surge ao acaso, mas para preencher determinadas lacunas, ele é reflexo de um estado de espirito que em efeito dominó toma conta de toda a equipe. Energias. Climas. 
                               Zah Zuuu fala de convívio, convívio humano que se torna cênico. Não é a toa que Renato Casagrande é ator de primeiro escalão do Máschara, sua criatividade e jogo com o partner da vez, é perfeito. Em cena pai e filho, ou irmãos? Ou um casal? Essa pergunta tendenciosa me assombra durante todo o espetáculo, e a resposta? Bom, o espetáculo fala de convivência. Fala de amor. Apesar de tudo, ao fim do dia, alguém estará lá para te dar um colo. 
                             Em cena um quarto de menino, sexista ao extremo, o que me incomoda, mas ajuda de forma "tendenciosa", a acreditarmos que se trata de um menino. Ou um "bebê", como disse uma criança da platéia.  As gags pai e filho funcionam e muito, e poderiam ir mais longe, o espetáculo passa voando, poderia ter mais cenas, mais acontecimentos que certamente vão surgir com o tempo, é preciso portanto estar sempre coma  mente aberta. Não se permitir o gessamento.
                             Renato Casagrande tem uma máschara maravilhosa, que lembra muito a bufanaria, claro que o clown é uma versão evoluída do bufo, por isso mesmo o ator pode trazer muito mais para a cena. O Clown é a pedra lapidada, o bufo é seu estado bruto. Tanto o Clown quanto o bufo, tem uma forma peculiar de ver o mundo e essa forma está muito presente em Lorenzoni-3-, que a leva para o palco. Isso aparece muito em seu físico e também no colega de cena, ambos tem uma pequena curvatura espinhal, o que se dá por que o clown tem suas reações e posicionamentos afetivos e emotivos, corporificados em partes precisas do corpo. 
                            A iluminação de Zah Zuuu é muito mais pontual que a de qualquer outro espetáculo infantil apresentado na "Matinê do Máschara", no entanto é triste ver a criatividade castrada pela ausência de um espaço apropriado. A trilha Sonora-1- é pessimamente operada, muito alta, com ruídos confusos que apenas sublinham. Um espetáculo tão singelo deveria ter uma trilha exclusiva e os sons todos pesquisados em instrumentos de percussão, a serem operados por um bom contra-regra-2-. Enfim, Zah Zuuu é uma pérola, não deve ser escamoteada pela falta de boa vontade de uma equipe, onde as vezes os orgulhos se sobressaem, onde as vezes parece haver uma tentativa de concorrência, quando o que deveria haver deveria ser um companheirismo. Uma boa companhia teatral se constrói com entrega, com união, tolerância e apoio. Ou o teatro ficará em segundo plano.
                              


A Rainha


                                    
                                 

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