Grupo Máschara em Nova Ramada-depoimento

              Hoje vou dar esse espaço ao diretor dos espetáculos do Máschara e ficar bem comportadinha. Acredito que mais importante que minha crítica hoje, é o senso de gratidão.
                            
                            Lidar com o ser humano é como preparar-se para entrar no mar, não se sabe o que sairá dele, há a correnteza, a força das ondes, a profundidade, os bancos de areia e ainda os animais marítimos... Mas assim como entrar no mar, lidar com o ser humano tem toda uma gama de prazeres que tocam os sentidos: a temperatura da água, o vento, o calorzinho logo que se volta à areia, a sensação dos pés afundando no chão. A prazerosa sensação de quase ser levado pelas ondas e então no ultimo instante nadar e escapar de volta à terra firme. 
                            Nesses dezenove anos de Grupo Teatral Máschara, muitas foram as sensações e muitas as pessoas que passaram por mim, pessoas que trouxeram um pouco de si e levaram um pouco de mim. Com algumas aprendi a amar ainda mais o teatro, com outros tive a desprazerosa revolta de quase desistir de fazer teatro. Com algumas aprendi a realizar melhor ainda o meu sacerdócio, com outras me desacreditei da vida e da sensação de que há de se ser generoso. Quando digo e sempre digo, que ser artista é ser um ser melhor, o faço por que realmente acredito nisso. E não há como não acreditar nisso quando vejo o ator Fabio Novello vindo la de longe para fazer teatro conosco em troca de tão pouco. Ou quando vejo os sacrifícios da atriz Alessandra Souza pelo teatro. Há ainda a generosa paciência de Renato Casagrande em auxiliar a todos, ajudar cada um em suas dificuldades, em seus figurinos e maquiagens. Há a dedicação do pai de família Ricardo Fenner, que mesmo após um dia inteiro de trabalho, tem tempo e físico para dedicar a nosso sonho louco de interpretar. E Evaldo Goulartt, que tão jovenzinho, esforçou-se para orgulhar seu grupo em mais um momento de aperto. 
                            Teatro me apaixona, me enche de tesão, de paixão. O Teatro é algo louco e incrível. Ele aproxima as pessoas, (como toda a arte aliás), mas essa quinta feira eu jamais esquecerei, ocupará cinco páginas de meu diário pessoal. De ultima hora ficamos na mão, com três espetáculos para serem apresentados. E eu vi um milagre acontecer, aqueles milagres que só tenho o prazer de ver no Grupo Máschara, prazer causado pelo homem, que é criatura do universo, dessa força que alguns denominam Deus, essa força nos guiou e um espaço longe de ser chamado de teatro (prédio) com uma platéia gentilíssima (em Nova Ramada) assistiu três bons espetáculos, culminando com o revival de O Santo e a Porca. 
                             Fabio Novelo não mediu espaços, mudou e remudou as luzes de lugar, tentou solucionar problemas de sonoplastia, sofreu junto. Evaldo Goulart adentrou o palco estreando no mesmo dia com dois papéis novos. Vou explicar de um jeito melhor  para que quem estiver lendo compreenda a que me refiro. É como se uma pessoa fizesse malabarismo com três pratos enquanto limpa os pés embarrados em um tapete, faz gargarejo com flúor e ainda tenta pular corda. Não, não adianta, uma pessoa leiga não entenderia toda a confusa e árdua intensidade de se estrear dois espetáculos no mesmo dia, ser razoável, jogar com os colegas e ainda ter que operar uma sonoplastia. 
                              Gabriel Araújo também trabalhou muito, não foi explorado, mas pode presenciar as algúrias de se fazer teatro. Carregou coisas, alcançou coisas, percebeu como é o oficio: árduo e pouco valorizado. 
                               Quando você faz teatro no interior, sofre muito preconceito de quem faz teatro em cidade grande. Deve ser porque do nosso jeito meio tresloucado, somos obrigados a sermos atores, costureiros, construtores, eletricistas e por um pequeno momento do dia, atores. Em verdade tu interpretas vários personagens em um dia de turnê.  Um exercício ótimo, desgastante e estressante, que culmina no fim do dia com a espera pela satisfação do cliente.
                                  As vezes fico me analisando e tentando compreender que tipo de "carma" é esse do ator de teatro, que se dedica tanto apenas pelo "parabéns, vocês estiveram ótimos" do público. Será que é porque estamos na era da falta de gentileza, será que é por que estamos todos meio carentes nesse mundo tão louco? Será que é porque somos frustrados e psicologicamente doentios? Não sei o que dizer, mas sei que o fim desse dia só é bom por que ao nosso lado está alguém que pega junto, que luta junto, que sofre junto. E eu não sei exatamente por quanto tempo estaremos juntos, mas espero sinceramente que seja por um tempo suficiente para se ter toda a satisfação que merecemos. E ainda que quando cada um precisar se afastar, fique acesa a chama da gratidão pelas pessoas que te ajudam com teus sonhos. 
                                  Em Nova Ramada, sentados comendo torta fria, ou confraternizando após os espetáculos, lembrei de uma frase muito simples"É tão fácil ser feliz" e é! E é tão maravilhoso poder fazer aquilo que se ma fazer. 
                                   Obrigado Dulce Jorge pela intensidade com que te coloca no palco. Obrigado Fabio Novelo por mergulhar nesse mundo louco do teatro em nosso grupo. Obrigado Alessandra Souza pelos sacrifícios que faz em nome do teatro. Obrigado Evaldo Goulart por nos presentear com uma Benona tão boa,e em tão pouco tempo de ensaio. Obrigado Ricardo Fenner por mesmo com tantos compromissos em tua vida, poder nos dedicar um precioso tempo em prol de nossos sonhos. Obrigado Renato Casagrande por ser esse braço direito que auxilia todos nós. Obrigado Gabriel Araujo por gostar dessa coisa louca que nós amamos, chamada Grupo Máschara. Não foi um dia normal para se exercer a profissão, foi um dia de desafios. Um dia em que cada um foi testado minuto à  minuto, na musica da gata que decidiu não tocar, no palco mínimo onde não coube o cenário, nas lâmpadas que queimaram, na porta que nos trancou para fora... Enfim um dia normal para quem faz teatro no interior, mas um dia onde o que venceu foi a união e o trabalho em grupo.
                                       Obrigado meus queridos colegas!





                                 

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