14ª Matinê - O Castelo Encantado tomo 95 - (705)

A Obra infantil de Erico Verissimo é totalmente desprovida de logicas pré-estabelecidas, o que é ótimo para as crianças...




              As boas ações ficam boas em um jardim de infância, o teatro é o lugar da gangrena...
            Esta observação de Nelson Rodrigues logicamente refere-se ao teatro adulto, e simplesmente por que o teatro infantil é na verdade um anexo do teatro adulto. O teatro infantil é vital, não tenho duvidas, mas ele é um investimento no futuro. A criança é preparada para quando adulto aceitar e compreender as convenções. A mente das crianças vai meio que se alargando, se adaptando a tantas coisas que o teatro vai propor no futuro. Adultos que não tiveram a oportunidade de entrar em contato com o teatro quando crianças, vão levar mais tempo, vão ser menos tolerantes com algumas "loucurinhas" que o teatro vai propor. 
               Quando digo que o teatro precisa da gangrena, é por que o teatro precisa chocar! Ele não surgiu com o intuito de mostrarmos ao mundo as coisas bonitinhas, sublinharmos nossa felicidade, ele tem como objetivo maior esfregar em nossa cara o que não está certo e que precisa de reequilíbrio. Por isso a tragédia grega era tão intensa, tão trágica, porque o homem antigo (idade antiga) beirava a irracionalidade. Nós avançamos um pouquinho na racionalidade desde a grecia antiga, mas continuamos cheios de podridão por baixo de nossas carnes. E o teatro precisa sacudir tudo isso.
                   Queres fazer algo bonitinho sobre o palco? Vá cantar uma musica romântica, ou vá dançar uma coreografia rasa.
                  Quando há gangrena no teatro infantil, respeitando as proporções? Quando as personagens infantis não são abobadinhas, quando os atores mergulham com fé cênica intensa nas suas ações. 
                          Claro que no Grupo Máschara, as vezes há gangrena em demasia fora do palco, não sei se tanta gangrena era necessária. Mas em cena vi um elenco disposto a pegar a platéia. Ninguém acomodado em seus acertos. De forma que a cena foi crescendo, crescendo até que a platéia ficou inteiramente mergulhada, e ainda levando em conta que a maioria era formada por público adulto. Alguns ali, aliás, que muito pouco foram ao teatro.
                           A protagonista Rosa Maria é muito bem composta, mas precisa impor-se um pouco mais, estar no mesmo patamar das outras personagens. Do contrário a esquecemos e só voltamos a percebê-la quando ela volta a fica sozinha na cena. A composição visual de Alessandra Souza merece louvores, finalmente temos uma Rosa Maria coerente com os contadores de historia. Lorenzoni constrói muito bem as figuras que usam máscharas, mas parece não ter muito prazer e satisfação na personagem do mágico. Quanto ao trabalho de máschara neutra no Ursinho com musica na barriga, precisa ser mencionado, uma aula para os colegas. Douglas tem uma participação menor no espetáculo mas diverte-se muito e isso chega na platéia. Aliás, um ator que vem descobrindo e construindo muito em suas ultimas incursões. Goulart e Casagrande são virtuosos cada um em seu patamar. Fernando estabelece o ritmo do espetáculo que foi pré estipulado pela presença do Mágico. Mas é em Fernando que a narrativa começa realmente. Já ao Apresentador do circo a narrativa se fecha e ali o espetáculo poderia cair, pois falta ao interprete um pouquinho mais de domínio.
                          A cena mais fraca poderia ser a dos três porquinhos, mas a neurótica força de "Linguicinha" segura e muito bem a ação. Embora a cena pareça ser muito curta. Apenas O Música na barriga e Basílio, tem suas tramas resolvidas. Os três porquinhos entram com o objetivo de ser algo, mas não há uma catarse. Problemas do roteiro do espetáculo.
                           Rosa Maria no Castelo pode ser vista como uma homenagem a Verissimo, onde uma menina passeia "resumidamente" pelas historias. Ou como a historia de que tudo se pode ser conquistado com a força do pensamento positivo, como no fadado livro "O Segredo" de Rhonda Byrne. 
                 Erico Verissimo é em sua obra infantil, extremamente repleto de ação, suas historias passam longe de tramas de meninas, não há fadas ou simplesmente finais felizes. Seus personagens são tresloucados, cheios de perguntas sem resposta. O que é ótimo para as crianças. Pois assim elas podem construir mundos com multi encaixes. O Castelo Encantado, tem o lúdico sem ficar caretinha.
                       Mais ainda , o elefante BASÍLIO que quer ser Barbuleta, vem de encontro a atualidade, onde prega-se descaradamente que qualquer um pode ser o que quiser ser...  Então a bandeira colorida que Basílio levanta após livrar-se de regras e imposições que o afligem, só pode ser visto como algum tipo de menção ao mundo LGBTT... Mas o Máschara não está levantando esta bandeira, está apenas dando vasão para esse pensar que é sim importante.
                       A trilha sonora está ali apenas para sublinhar coisas, poderia muito bem não estar...Não faria falta, mas a caixa de som e a sonoplasta precisam entrar em conversação com o espetáculo.
                       A Matinê continua acontecendo e deve acontecer, o teatro precisa continuar, o espaço é bom e dele muito se pode extrair. Vida longa a Matinê do Máschara.


Dulce Jorge (St. A)
Cléber Lorenzoni (St. AI)
Ricardo Fenner (St. AIII)
Renato Casagrande (St. II)  (**)
Alessandra Souza (St. III)   (**)
Evaldo Goulart (St. IV)      (**)
Fabio Novello (St. IV)        (**)
Douglas Maldaner (St. IV)    (***)
Bruna Malheiros (St. IV)     (**)




            A Rainha

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