As Balzaquianas em Vacaria/RS 684

Novos começos...


                     Algumas cidades têm em seus princípios oferecer arte a sua população, compreendem que a arte liberta, prepara, questiona, evolui! Outras cidades oferecem um show musical, as vezes da mais medíocre bandinha, onde as pessoas bebem, bebem e depois entregam-se as mais instintivas fornicações, acrescentando a suas mentes, pura e simplesmente o "nada". Vacaria no nordeste do Rio Grande do Sul, tem se destacado como uma cidade que mais e mais vem aproximando a arte teatral do público. O resultado certamente será percebido futuramente.
                    O Grupo Máschara foi convidado a participar desse movimento e pela terceira vez esteve em Vacaria, levando na mala um de seus mais jovens e audaciosos trabalhos, o espetáculo As Balzaquianas. Uma produção que segue a linhagem das demais: clareza no atendimento, capricho nos detalhes,  respeito ao público e, consequentemente sucesso. As Balzaquianas (2011), anteriormente levada ao palco na interpretação de Cléber Lorenzoni (status I) e Angelica Ertel (status II), recebe na cena a atriz Dulce Jorge (Status A), que preenche com brilhantismo a lacuna deixada pela atriz substituída. Substituições sempre foram tema de apreensão, afinal as comparações, impostas por colegas e pelo público pressionam a produtividade do interprete em substituição. Há também a preocupação em executar um trabalho próximo ao que o antecede e ainda assim colocar suas próprias impressões de interprete na personagem. Dulce Jorge acrescenta à Helena, uma organicidade e vigor provenientes de sua maturidade de atriz, que vai somar-se à partituração composta por Angelica Ertel. Não estou aqui dizendo que essa ou aquela é melhor ou inferior à outra. Estou dizendo que cada uma tem suas próprias qualidades. O público aprovou e riu muito das gags e devaneios propostos pela atriz. Aliás a integração entre os dois atores foi tão intensa que a assistência nem percebeu quando os atores estavam fazendo o pré-ensaiado ou improvisando. Dulce Jorge mostrou o porque de seu titulo, a impagável, tímida atriz que se desdobra em cena com as armas que tem, tomando a todos para si, resultando em aplausos certeiros. 
                           O vestido da interprete de helena abriu-se na cena, o que causou uma certa tensão na equipe e no público, mas não prejudicou a mise em scène. Foram poucos ensaios e é importante mencionar que o teatro acontece no ensaio, é lá que se criam coisas, que se rompe cadeias, que se somam idéias, lá é o lugar de quem está começando, é o lugar de todo ator. No dia da apresentação, somam-se novos objetivos, soma-se a triangulação do público e as novas idéias que dai brotam. Sim por que a platéia é viva e muitas vezes, principalmente em comédias, é ela quem dita o clima e o ritmo do espetáculo. 
                                  Cléber Lorenzoni repetiu a vivacidade e o domínio cênico de Adelaide Fontana, poderia estar mais concentrado em cena, mas ao mesmo tempo foi visível a forma como conseguiu acertar a curva no momento certo e um elogio que preciso dar, um mérito do ator, que na verdade é obrigação de todo ator, mas que deve servir de exemplo aos colegas. A percepção espacial, sua compreensão cênica de luz e sonoridades, compreensão do espaço físico do colega e de seu lugar no todo. Cléber Lorenzoni, Evaldo Goulart e Manoeli Machado estiveram conectados durante todo o espetáculo e só não fizeram mais por que lhes fugia das mãos. 
                                     A luz resultada de um esforço inumano de quase bater boca com a empresa de iluminação e ainda escalar paredes de seis metros de altura, foi melhor do que se esperava. Renato Casagrande conseguiu criar climas muito interessantes em situações onde pessoas mais esquentadas teriam apenas cruzado os braços e se negado a trabalhar. O espetáculo foi prejudicado, não há como não mencionar a penumbra excessiva no proscênio. Tanto que os atores precisaram ficar encurralados no centro do palco.  A trilha executada por Alessandra Souza cumpriu a função embora a musica que o público devesse ouvir ao começar o espetáculo fosse The Summer Wind, o que não aconteceu, equívocos de correria de estréia. Já que depois de dois anos, As Balzaquianas parecia estar em noite de estreia.
                                    Noite de estréia também para Larissa Marques, Bárbara Santos e Manoeli Machado. Todas se esforçaram muito e devem ter percebido o quanto as caravanas do Máschara exigem esforço e muito trabalho.  Manoeli Machado sofreu junto atrás das coxias quando alguma coisa saia do controle. Encheu também os olhos o quanto a jovem se desdobrou, correu de um lado para o outro tentando fazer as coisas antes que lhe fosse pedido, um exemplo de profissionalismo.
                                        Evaldo Goulart tem estado muito mais inteiro nos acontecimentos da Cia. o que é esperado de um ator Status 4. Ricardo Fenner como produtor pode se envolver mais, produção é algo difícil mas necessária no grupo.  
                                         As Balzaquianas cumpriu o objetivo do Grupo, uma noite de sucesso que certamente frutificará em mais tournês do grupo por aquela cidade.


Cléber Lorenzoni (**)
Dulce Jorge (***)
Alessandra Souza (**)
Renato Casagrande (**)
Ricardo Fenner (**)
Evaldo Goulart (**)
Manoeli Machado (***)
Bárbara Santos (**)
Larissa marques (**)

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