Esconderijos do Tempo em Boa Vista do Sul Tomo 81

Esforços desvalorizados.

               Esconderijos do Tempo é sem dúvidas o espetáculo mais redondo do Máschara, seus méritos se estendem de seus atores principais à seu visual, de seu texto à sua trilha sonora. No entanto o que foi construído la no inicio  da montagem, veio se perdendo aos poucos, logicamente por vários motivos que já foram mencionados em outras analises nesse mesmo blog. 
                 Esconderijos do tempo começou como um espetáculo nobre, a ser apresentado em um teatro com todo o aparato necessário para a encenação. Porém foi se adaptando aos palcos mais simples, e também a espaços sem palcos. Tudo isso porque a arte não deve ficar restrita à grandes teatros, ou a elites. 
                     Boa Vista do Sul recebeu de braços abertos o Máschara e pela idade do público formado principalmente  por estudantes, certamente pouco aproveitou-se do espetáculo já que sua linguagem é direcionada a adultos. No entanto as professoras e os alunos apreciadores de poesia aprovaram e plaudiram eloquentemente. Há também de se mencionar que em cidades pequenas as pessoas são muito educadas, o que fez com que mesmo alguns alunos desinteressados, mantivessem-se em profundo silêncio. 
                           Como de praxe o espetáculo iniciou após uma animação de Roger Castro, e algumas palestras de escritores, o que foi prejudicial, a mente voa e para se assistir um espetáculo teatral é preciso concentração. Ora estamos falando de um espetáculo para palco italiano, que foi apresentado em um palco de madeira pequeno com interferência solar por todos os lados.  A sensação de dever cumprido ficou a cargo do elenco que entre erros e acertos conseguiu contar a belíssima historia de Esconderijos do Tempo. Vamos portanto analisar suas interpretações. 
                            Cléber Lorenzoni (**) consegue atrair para si a atenção do público de forma exemplar. Com a força da pronuncia de suas palavras, seu texto elegante e sua postura, o ator vai preenchendo os silêncios, pintando no ar a poesia quintana. Aliás os outros atores deveriam espelhar-se em Cléber para as suas interpretações. Claro que Cléber Lorenzoni é ator como qualquer outro e portanto sofre as dificuldades no palco também como qualquer outro. O que mais me faz admirá-lo é sempre a capacidade de dirigir em cena sem que isso prejudique ou atrapalhe a encenação. 
                                 Nesse dia, dois atores estrearam em novos papéis. Renato Casagrande (**) assumiu o Sr. Gouvarinho. e Evaldo Goulart surgiu em cena como Mario jovem ou anjo. Na primeira situação, uma agradável cena desencadeou-se, com comicidade, jogo e presença. Deixando a desejar um pouco ainda o soneto do menino. Algo perfeitamente natural se levarmos em conta que não houveram ensaios para essa apresentação. Evaldo Goulart (**) fez o que lhe foi pedido. Estava inteiro, no entanto precisa correr atrás de mais bagagem, um elenco precisa ser equilibrado. Os dois Marios foram de uma delicadeza profunda quando cruzaram o palco. Só há de se dedicar mais a partitura do mais jovem para que a conexão não seja dada apenas pelo figurino. 
                                      Fernanda Peres estava bem(**), nem para mais, nem para menos. Estava básica e isso me preocupa, atores não devem entrar no palco para serem básicos. Principalmente protagonistas. Fernanda Peres alcançou há pouco o que entendo por ápice da personagem, mas agora parece distante, quase fria. Alessandra Souza e Dulce Jorge foram prejudicadas, senão pelo local, pela situação. Dulce Jorge (**) é profissional sempre, não lembro de ter visto a atriz entrar para perder. Mas Cléber cortou sua cena levando em conta a dificuldade em os alunos se interessarem por espetáculo tão complexo para mentes infantis. Ainda assim a atriz entrou e saiu digna como é de seu feitio. Alessandra Souza (*) é uma atriz complexa, as vezes emerge com grande talento, depois passa por fazes técnicas, aí sucumbe a indagações internas, debate-se entre o erro e o acerto. Falta a atriz a calma, e a tri dimensionalidade. O ator deve mais do que talento ter compreensão espacial, compreensão do mundo a sua volta e de seu lugar nele. Um pequeno deslize e sua participação foi prejudicada. Ainda que sua interpretação tenha sido ótima, o acaso a falta de jogo de cintura causaram um clima desnecessário após o espetáculo. É só teatro, sua profissão, e o teatro tem dias de acertos e dias de erros, simples assim. 
                                             Foi um dia básico, uma apresentação esquecível. O que me preocupa é que todos, se incluirmos a bela interpretação de La Souza em Lili, receberam terra, ou seja, ficaram no meio termo. Ficaram básicos. O Teatro não pode ser básico. O teatro é o estouro, é o clímax, é a catarse. Se o teatro fica no meio termo, perde-se em meio ao vão...




A rainha
                                       
                               

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