Lili Inventa o Mundo 101-Nova Bassano 669

Outra vez a peça de palhacinhos...

                   O que mais irrita é essa patifaria que pareça ser proposital para com os artistas de teatro. Essa eterna sensação de ter que estar sempre explicando nossa profissão, explicando como organizar um palco, explicando as necessidades lógicas e mínimas para se por um espetáculo sobre o palco. Por favor não coloque um espetáculo concebido para palco italiano, no chão, ele no mínimo perderá 30% do seu efeito. Não tente colocar mais de duzentas pessoas assistindo um espetáculo muito longo e com muitos atores em um palco com menos de 10 metros quadrados. Não organize um espetáculo para a noite sem pensar em uma  iluminação. Não coloque um ator para se apresentar se ele tem que competir com barraquinhas de comida, bancas de livros ou musicas provindas de outros ambientes. Por favor organize uma sala com banheiros para que o ator não tenha que largar seus figurinos sagrados no chão. Por favor, um banheiro, o ator não pode atravessar pela platéia e queimar toda surpresa do espetáculo. Água por favor. Uma sala limpa por gentileza. Que os sonorizadores compreendam que a estrela não são eles e sim o artista, ou então o ator terá que adequar-se a pouca vontade de sonorizadores cheios de má vontade. Não coloque crianças para ver espetáculos pensados para os adultos. Não insulte os adultos oferecendo-lhes espetáculos para alunos do maternal. E por favor não nos peça para apresentar um espetáculo de mais de 30 minutos de graça. 
                       Estou usando esse espaço para dar esse grito, para pedir socorro a todos aqueles que amam o teatro, isso nada tem a ver com Nova Bassano e ao mesmo tempo tem a ver com todos os não iniciados. O teatro é a arte mais linda do mundo, pois acontece ao vivo, e envolve a assistência. Mas tem necessidades básicas para que aconteça. O mérito dos atores do Máschara é baterem o pé até conseguirem deixar as coisas como devem ser para o teatro. Na ultima ocasião um sonorizador reclamava de ter que tirar uma caixa de som do lugar três horas antes da apresentação. Dizendo que o tempo seria muito curto e o cansaço extenuante. Ora quantas vezes os atores do Máschara com tempo curto, antes do espetáculo carregaram dezenas de cadeiras, colocaram tapumes em janelas para escurecer o ambiente, carregaram goleiras. O teatro, a arte em nosso país de terceiro mundo exige sacrifícios de todos. Do varredor do palco ao ator. Todos artesãos da arte cênica. O grande mérito do Máschara é realmente "fazer" seu teatro, prova disso é o Cena às 7.
                   Há poucos dias uma menina muito humildemente perguntou-me. "como é o teatro do Máschara". Fiquei em dúvida a que ela se referia. Enfim, filigranas.
                             Em Nova Bassano, Fabio Novello, Cléber Lorenzoni, Alessandra Souza e Ricardo Fenner quebraram cabeça para erguer o mundo de Lili Inventa o Mundo. Não sei Mario Quintana aprovaria essa visão máschara de sua personagem infantil mais querida, e nem me importo; me importa se a historia contada conseguiu estabelecer uma ponte entre a proposta de Mario Quintana e o que havia no palco. 
                               Cléber Lorenzoni, Fernanda Peres, Renato Casagrande, Alessandra Souza e Evaldo Goullart adentram a cena com um visual muito atraente para as crianças. Meio poluído por certo ângulo, ao mesmo tempo muito coeso com o que propõe. Alessandra Souza fazia dois papéis bastante distintos, mas perece que lhe falta uma certa "cara de pau", um permitir-se ridicularizar-se em cena. O Cômico nasce daquilo que mais preservamos, daquilo que muitas vezes temos vergonha de revelarmos. Por exemplo, um sujeito que já é engraçado no dia a dia, que quase sempre está contando piadas, dificilmente será engraçado quando em um palco. Pois sua comicidade já é sua máscara, no palco as mascaras caem, e aí vai-se a graça desse criatura. Os atores quase sempre são tímidos, inseguros, e usam como máscara a elegância, a presença eloquente, etc. Quando vão fazer humor, ele só será brilhante se permitirem que suas mascaras caiam. Alessandra Souza tem muito receio de derrubar sua mascara. Renato Casagrande carrega nos ombros o peso positivo de ser o segundo ator do Máschara, espera-se dele muito e as vezes, como todo ator ele se atrapalha. Seu domínio da platéia beirou o fracasso, essa linha tênue entre quebrar a quarta parede e perder o jogo, depende muito de quem está conosco em cena. Fernanda Peres ainda não te domínio sobre a platéia, por isso é importante cautela.  Cléber Lorenzoni e Evaldo Goullart jogam muito bem, embora o mérito da "compreensão do outro" esteja em Lorenzoni, Evaldo improvisa muito, mas quase sempre de forma empírica. E a pergunta é, e no dia em que o instinto falha? O ator deve ter a técnica na manga. 
                                           Fernanda peres anda muito ansiosa em cena, e as vezes precisa confiar mais no colegas em cena, ao mesmo tempo precisa permitir quando há necessidade de extirpar trechos de sua cena. O teatro depende do ambiente, do dia, do clima, da platéia, há dias em que uma cena torna-se barriga no ato. Quanto ao interprete de Malaquias é importante mencionar que sua técnica vocal é quase nula, há em seu falsete um risco para suas cordas vocais mal aquecidas. Aquele escape de som que afina o final das frases pode causar um calo nas cordas vocais ou fissuras. é preciso tomar cuidado.
                                        Onde está o climax de Lili Inventa o Mundo? A Rainha das Rainhas? A catarse da Fada mascarada? Ou a transformação de Mathias? Ou ainda o "Pra sempre crianças"! 
                                          Os atores pareciam cansados, Lili passou sem ritmo, e isso aparecia em pequeninos detalhes. A trilha estava confusa, havia resvalos de sonoridades. 
                                           Apesar disso tudo as crianças levaram para casa uma linda mensagem, cabe ao ator querer ser melhor, querer crescer a cada apresentação, criar desafios. 
                                            Cléber Lorenzoni(**)  Alessandra Souza (**) Fernanda Peres (*) Renato Casagrande (**) Evaldo Goullart (**) Fabio Novello (**)




A Rainha
            

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