Esconderijos do Tempo 78/79 - Marau

                       "O teatro não é arte estagnada, o teatro não fica concentrado atrás da quarta parede; o teatro deve e precisa escorrer pelas tábuas do palco e envolver o público, entrar em sua mente, em sua derme e modificar o ser humano."
                       Na linda Casa de Cultura de Marau/RS, Esconderijos do Tempo penou para adaptar-se a um público praticamente infantil. Na apresentação da manhã, o público além de infantil, não parecia interessado em prestar atenção. Pelo contrário, internet e conversas paralelas ceifavam o silêncio que a Cia. tentava estabelecer. 
                        Em cena atores lutaram com seus microfones e sofreram por sua vontade de ser claros para os ouvintes. CLÉBER LORENZONI parecia desconcentrado, avoado em cena, tentando obviamente organizar o espetáculo, dirigi-lo em cena o que para o ator/diretor pode ser o fracasso. Algumas cenas foram extremamente monótonas, sem ritmo. FERNANDA PERES lutava para acompanhar as propostas mas algo seguia fora do prumo. Essa cena mais tarde, na segunda apresentação foi ao contrário vivaz, segura, pouco formal é verdade, mas não se pode ser formal com um público tão jovem e tão pouco acostumado a teatro. Enquanto vimos uma Glorinha confusa na primeira inserção, na segunda ela veio com um trabalho corporal digno, um texto muito melhor pronunciado e olhar brilhante. 
                         O teatro depende muito do estado de espirito do ator, alguns podem dizer que o ator precisa desligar-se de si mesmo para estar inteiro em cena. Mas aí questiono, será que não exatamente o estado de espirito do dia, que faz com que amemos tanto o teatro? Que o compare a um jogo de tabuleiro, onde cada dia é um novo embate. Onde os próprios  colegas de cena não sabem qual será o jogo do outro.
                                 ALESSANDRA SOUZA esteve inteira em cena, sua Lili cumpre-se cada vez melhor, no entanto não há um porquê especifico para a interprete da Musa e de Lili serem a mesma. A proposta pode até ser bonita, mas confunde o público. Uma vez na cena, tudo o que se vê em cena deve ter um sentido, real ou mesmo simbólico.
                                  A canção inicial foi prejudicada pelos microfones. já expliquei isso aos atores, e até mesmo a meus alunos; não basta enfiar um microfone na boca e achar que se está sendo audível. É preciso dominar o microfone, vencê-lo, usá-lo a seu favor. Todos cantando juntos no microfone causa um excesso de gritos e desafinações que enfeiam o começo de Esconderijos. o que não se repetiu na segunda inserção do espetáculo. É preciso sentir a canção inicial, interpretá-la. Perguntem-se o que ela fala de cada um dos personagens. CLÉBER LORENZONI tentou tornar tudo mais facilitado. Palmas para o cometa Halley somado a explicação de que cruzou o céu no dia em que Mario nasceu. O teatro não deve ser formal ou corre o risco de tornar-se obra morta, fria perante a platéia. FABIO NOVELLO preenche muito bem as necessidades cômicas do espetáculo, mas pode acrescentar mais efeito em seu soneto. DULCE JORGE teve a cena encurtada, nem por isso menos efetiva. Mas sua participação na apresentação da tarde foi memorável. EVALDO GOULLART aprimora a cada dia sua ação na técnica do espetáculo. RENATO CASAGRANDE tem se tornado muito mais plástico o que certamente orgulha a direção.
                                         Uma dica aos atores é lembrarem que por um lado, o que mais importa é a interpretação e não as "muletas", por outro lado não deixar de perceber o quanto a "perfumaria", deve estar bem afinada. A arte invade a platéia através de todos os sentidos. Mario Quintana foi oferecido em grandes taças, mas a platéia nem sempre está preparada para tanto e por isso bebe pequenos goles. Os atores não devem se revoltar, façamos nossa parte, o resto cabe ao público.
                                             O dia contou ainda, com a presença da atriz Angelica Ertel, em visita ao Grupo Teatral Máschara. Relembrando os tempos de Máschara ela operou a iluminação acrescendo muito ao espetáculo. Às 14 e 27 desta segunda feira, o Grupo Máschara recebeu uma calorosa ovação, não importa a idade ou o local, os atores da Cia. de Dulce Jorge e Cléber Lorenzoni sempre emocionam.


Cléber Lorenzoni (*) (**)
Fernanda Peres (*) (***)
Alessandra Souza (**)(**)
Fabio Novello (*) (**)
Dulce Jorge (**)(***)
Renato Casagrande (**)(**)
Evaldo Goullart (**)(**)

                                            A   Rainha

                       

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