Grupo Máschara no Festivale

Quem quer teatro?


        Durante os últimos dias do mês de junho, a Cia. Máschara de teatro participou do festival de teatro de Rolante. Um festival de teatro é sempre algo memorável e gratificante para os entusiastas das artes cênicas. Eles lembram os primórdios do teatro na Grécia antiga, quando as encenações eram feitas em homenagem a Palas Atena, ou a outros deuses olímpicos. 
          Para os artistas de teatro, todas as inciativas que abonam o teatro soam como uma lufada de ar junto à uma arte tão pouco respeitada. O Grupo Máschara que iria participar com o espetáculo A Maldição do Vale Negro, decidiu participar com o espetáculo infantil "O Feriadão". Um espetáculo simples, em mutação, com texto de Hércules Grecco e que passa por constantes mudanças. Um espetáculo que sob o olhar de alguns, é um tanto comercial, facilitado até, para a compreensão da assistência. 
           O Máschara subiu ao palco no turno da manhã com Alessandra Souza, Cléber Lorenzoni, Fernanda Peres, Renato Casagrande e Evaldo Goulart no elenco, além de Evandro Amorim e Fabio Novello respectivamente como operadores de Som e Luz. 
            O espetáculo recebeu o troféu de Iluminação pela ótima criação e operação de Fabio Novello que o fez tendo assistido a peça, apenas uma vez. Cléber Lorenzoni trouxe ainda uma indicação para Melhor Ator infantil. Até aí tudo certo, o Máschara trouxe na bagagem mais do que buscava, ponderações sobre seu trabalho, críticas sobre a carpintaria teatral de O Feridão e um olhar sobre tantos trabalhos que o festival possibilitou.
             Logo depois do festival a perguntas que não cessa é: e agora? qual o próximo passo do Máschara? Continuar viajando? Trazer de volta o Cena às 7? Ressuscitar a Matinê do Máschara? Montar novos espetáculos? Quem são os atores do Máschara atualmente? O que eles querem fazer? O que é o teatro? Uma missão? O reflexo de uma sociedade? A necessidade de pronunciar-se sobre algo? 
              O máschara que nós conhecemos foi aquele que aprendeu a fazer teatro nos festivais, que sorveu cada gota da sabedoria e do bom senso do fazer teatral de 1992 à 2002, dez anos de curso, de busca, de pesquisa. Em 2005 foi sua formatura e em 2006 a consolidação dessa aprendizagem com Esconderijos do Tempo. Não estou dizendo que o Máschara tornou-se o melhor grupo de todos, não, o Máschara tornou-se o grupo que queria tornar-se. Um grupo talentoso, preparado e digno de louros e elogios. 
                A partir de então produziu: Um inimigo do povo, A Maldição do Vale Negro, As balzaquianas, O santo e a Porca e A Serpente, além dos mais fracos Os Saltimbancos (ótima trabalho de composição em um texto simples e superficial), Deu a louca no ator (uma adaptação de algo já feito, mas necessário para ser gritado sempre.  e Ed Mort (remontagem necessária para o Cena às 7 de algo já concebido antes). Esses três trabalhos não mancham de forma alguma a grandiosidade dos primeiros. Se em 2002, 2001 e 2000, havia técnica apurada, nesses últimos havia organicidade, maturidade. O mergulho profundo dos atores em A Serpente. A necessidade de falar sobre as verdades escondidas em Inimigo do Povo, A criatividade e a superação dos três atores de A maldição do Vale Negro. O talento e a intensidade no jogo de As Balzaquianas e a farsa unida à extremo trabalho vocal e compreensão de texto em O Santo e a Porca. 
                  Cléber Lorenzoni e sua Cia. escolhem a dedo, inclusive os textos que não parecem acertos em um primeiro momento e dizem muito. E o que querem dizer não provém de instinto ou de suposições em meio ao vão; mas em pesquisas de campo buscadas  em milhares de pessoas que o assistiram. De 2004 à 2014, o Máschara viajou pelos quatro cantos do estado, ouviu crianças, adultos, outros artistas, jurados, produtores, e foi construindo o que é hoje. Mas não se tornou comercial, apenas aprendeu, ou percebeu que o artista tem uma obrigação, a obrigação de formar plateias.  Não há teatro, não há público de teatro no interior do estado. Esqueceram esse público e as "ditas" grandes Cias.  vez ou outra lembram de voltar-se para o interior, onde os poucos atores tentam manter-se com migalhas, fazendo sua teimosa arte. 
                  No festival vi muitos grupos e foi realmente elogiada a capacidade de um grupo como o Máschara durar mais de 20 anos. Uma caminhada que exige apoio mútuo, sacrifícios e dedicação. Agora próximo à fazer 25 anos, vejamos o que faremos pelo "nosso grupo".
                        Não vou aqui creditar a análise da apresentação já que alguns não queriam ali estar,  é preciso deixar-se tocar pela arte, laçá-la, apropriar-se e isso é tarefa pessoal de cada um, ainda que para poucos...


                                                                   Arte é "SACRIFICIO"        
  

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