5ª Matinê do Máschara

Os Saltimbancos

               O dia em que o teatro desaparecer da face da terra, e espero que isso não aconteça, as pessoas possivelmente nem percebam, não sintam falta, não compreendam em um primeiro momento o quão ele faz falta. E diretamente realmente ele não faz falta, assim como os museus, as orquestras, e toda uma serie de ações artísticas que parecem privilégios de elites. Não parecem fazer diferença, mas foi a arte que contou através tempos a historia do mundo, as complexidades das nações e as emoções do homem. Não foi a historia que contou a existência do homem, mas sim a arte nas paredes das cavernas, no poder dos povos antigos em suas pirâmides. Foi a arte através das telas que representaram o homem e o olhar do homem sobre si mesmo. O Teatro é o braço direito da filosofia, é versão leiga da psicologia e as vezes seu principal mote. 
                  Em Cruz Alta, vou contar mais uma vez, o teatro foi sendo emparedado, e isso revolta artistas e amantes da arte. O teatro alcançou um espaço invejável, conquistou um bom público e repentinamente perdeu quase toda a sua batalha. Agora os atores cruzaltenses se espremem em espaços que tentam adequar a arte do mise en scene. 
                   Algum desconhecedor do trabalho do Máschara deve pensar em um primeiro momento que seu trabalho é muito amador, pois caiu por terra o trabalho de luz em um local onde não há urdimento ou maquinaria. O som passou a ser simplório, e mesmo o espaço da assistência é desconfortável e sem a agradável inclinação necessária para a visualização da cena. 
                   Os atores estavam alí, inteiros? Talvez. Intensos? Alguns. Verdadeiros? Todos. 
                    Os Saltimbancos é um espetáculo difícil, gessado, comprometido. Ou você é muito ousado e modifica extremamente algo que já tem uma longa historia, uma tradição mesmo, correndo o risco de comprometê-la. Ou você segue a proposta. O Máschara teve como objetivo principal compor quatro animais, o fez, cumpriu seu objetivo. Mas o teatro impõe ao ator objetivos novos a cada representação. Do contrário seria algo repetitivo, robótico, decorado. Seria circo e este definitivamente não aprecio. Sendo assim o espetáculo parece ter cumprido sua função inicial, mas está condenado a se repetir na mente dos atores. Ainda que com pequenos improvisos vivazes. O espetáculo peca no ritmo principalmente nas primeiras cenas, onde o mesmo é vital. Com a entrada dos outros animais parece corrigir-se. A historia é bonitinha, diverte, envolve principalmente nas rixas entre cão e gata. No entanto o conflito, base do teatro ocidental, foi prejudicado. Há claro os conflitos pequenos, paralelos, mas não se bastam. Da para perceber que algo importante foi suturado, e assim Os Saltimbancos acaba-se repentinamente. Ele envolve pois é feito com o cuidado típico dos trabalhos do Máschara, mas ainda é escravo das velhas formulas. É hora do Máschara buscar novas formulas. Os atores precisam disso para se auto conhecerem melhor.              
                    Os saltimbancos foram apresentados 22 vezes, cumpriram sua função corporal, acrescentaram versatilidade aos atores e principalmente, divertiram centenas de crianças. Mas aconselho ao Máschara algo novo, algo desafiador para seu atual momento. Algo que una e aproxime "TODO" seu elenco. 
                     Sentada na primeira fila da platéia, ouvia-se apenas a voz de um dos atores, depois uma variante de hora um, hora outro. Isso em um musical é fatídico!!!
                      O teatro é o grito de alegria, de torpor, de dor ou de ódio, que grito foi os saltimbancos? Que grito os atores de Cruz Alta querem gritar?

Alessandra Souza (**)
Cléber Lorenzoni (**)
Renato Casagrande (**)
Ricardo Fenner (**)
Evandro Amorim (***)
Fernanda Peres (**)
Evaldo Goullart (***)


                                                             A Rainha

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