O que nos move? Feriadão em Vila Nova do Sul

...Havia um ator, não muito conhecido, não muito reconhecido, ganhava pouco, mas amava o que fazia. Sua ambição era ser perfeito, cada vez que acabava uma apresentação, já começava a pensar na próxima, nos novos desafios. Para ele, em primeiro lugar vinha sempre o público, e tinha que ser assim, pois era para o público que fazia. Alguns atores dizem que fazem teatro para si mesmos, mas ai devem fazer em uma sala fechada! O Teatro é para o outro e por isso é um exercício tão humano. Tão digno. Para fazer seu teatro passava por vários sacrifícios e assim sempre foi, é e será. Antes de cada apresentação fazia uma prece, para si, para os colegas atores e para o público. Era pragmático e mítico. Doía-se por dentro quando algo dava errado, doía-se por dentro quando percebia que o público não compreendia o espetáculo apresentado, e então chorava. Chorava por si próprio, pelo público e pelo teatro. As vezes se apresentava em grandes teatros, as vezes em lonas, as vezes na rua, mas sempre se emocionava quando estava em lugares pequenos, lugares que nada tinham a ver com o teatro, pois aí tinha certeza de sua missão, de levar a arte, de tocar as pessoas. Ele convivia com todo tipo de artista, era amigo de vários atores e dividia o palco com atores e não atores. Constantemente se indignava, questionava-se, admirava-se com os atores todos. Com atores que não liam, com atores que não cuidavam ou trabalhavam a voz, com atores preguiçosos, com atores que não sentiam a presença do público quando estavam no palco. Esse ator idealizou um grupo, uma Cia.. Sua intenção era desenvolver o talento dos atores a sua volta, criar, debater, aprender, e envolver o público. Sua intenção era um grupo onde todos se apoiassem e se admirassem uns com os outros. Um Grupo onde todos fossem engajados, onde todos pudessem opinar, e mostrar sua criatividade...

Vila Nova do Sul raras vezes teve teatro, uma cidade pequena e por isso com um público muito disposto a divertir-se com algo novo. O espetáculo Feriadão com temática sobre o trânsito emocionou e fez brilhar os olhinhos de muitas crianças; da frente do palco as crianças viram cenas divertidas e pequenas lições. De onde eu estava eu vi atores esforçados, sacrificando suas gargantas na tentativa de serem ouvidos já que a combinação lona x chuva, tornava inaudível o texto. No palco havia água e equipe de som e luz caminhando e atrapalhando a encenação, atravessando o palco inacreditavelmente durante as cenas, e os atores restritos a um espaço de 16 metros quadrados.  
O espetáculo rolou muito bem, os atores (Renato Casagrande, Alessandra Souza e Cléber Lorenzoni) dominam com perfeição a mise en scene. Principalmente no uso dos adereços e seu manuseio. Evaldo Goulart pode e deve ser mais verdadeiro, lembrando sempre que Filipinho é uma criança e o vovô é o Filipinho brincando de ser idoso. Fernanda Peres esteve muito bem nas apresentações, mas ainda pode descobrir novas soluções para sua Serenita, além de lembrar de não se deixar infantilizar demasiado. O ator Goulart precisa ser mais atento, mas cuidadoso com figurinos e ações, lembrar de não parecer egoísta preocupando-se com tantas coisas terceiras na hora de entrar em cena. Em primeiro lugar vem a interpretação. Falta-lhe uma boa dose de Grotowski. 
Os atores Alessandra Souza e Renato Casagrande mostram uma vocação incrível com seu cuidado com cenários e figurinos, a dedicação com o todo, o que os torna atores tão bons e próximos do 1º Status. Leva-se anos para alcançar essa completa noção teatral. A percepção de que tudo está interligado. Cléber Lorenzoni cortou alguns textos na apresentação da tarde preocupando-se coma percepção total do espetáculo, isso é muito delicado, conseguir cortar o texto, mantendo o que é realmente importante. A primeira apresentação durou cerca de 48 minutos a segunda 33, isso mostra versatilidade. Poderia ser falta de profissionalismo, mas ninguém pode acusar esses atores do Máschara que viajam por todo tipo de lugar, de não serem profissionais.
O espetáculo tem um clima bastante lúdico, mas como deixar lúdico algo que foi projetado para um palco italiano e que é apresentado com intervenções tão inapropriadas? 
O espaço apertado embolou um pouco as cenas, e o som mal operado (pois isso exige técnica) atrapalhou alguns textos de serem ouvidos. 
Quanto ao palco quem deve montá-lo é sempre o contra-regra, que nesse caso era o sonoplasta.
O Teatro é uma caminhada, que deve começar pela compreensão do espaço cênico, pelos detalhes, por som e luz bem elaboradas. Pela valorização do trabalho artesanal que é o teatro. 
Você ama o teatro? Quando se afasta do palco, ou da interpretação sente uma solidão terrível, um vazio profundo? Não? Então não ama... Teatro é algo que invade a alma!!!! 

Teatro é vida, para uns poucos!

A Rainha


Cléber Lorenzoni - Status I A - (*)(**)
Alessandra Souza - Status II - (***) (**)
Renato Casagrande - Status II - (**)(***)
Fernanda Peres - Status III - (**)(**)
Evaldo Goulart - Status IV - (*)(**)
Júnior Mello - Estagiário - (*)(**)



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