Rito de Passagem - Ed Mort no 59º Cena às 7

               O Rito de Passagem, é um importante momento na vida daqueles que estão mudando um ciclo, recomeçando algo, finalizando uma etapa de algo e indo supostamente para um nível maio, melhor, evoluído... Mas o mais importante, não se deve esquecer o rito, o ritual em si. Um desses ritos no teatro pode muito bem ser o espetáculo em si. Onde um ator ou atriz passa a ter um reconhecimento maior, ou passa a fazer um papel que exige-lhe maior dedicação e do qual se espera mais retorno, esforço... No grupo Máschara existem duas fórmulas criadas por sua direção. Tresloucadas em um primeiro momento, mas muito sagazes e de importante ação. Primeiro a distinção dos atores entre Status, a seguir, sua análise em cena com o reconhecimento dividido entre céu, terra e inferno. Pode parecer, como já disse, algo meio cômico, meio bobo para outros atores, outras cias., no entanto, Cléber Lorenzoni mais do que um diretor, foi sempre um preparador, um professor de teatro, e suas fórmulas para preparar seu grupo tornam-se muito eficientes.
                  O Status de cada membro tem a ver com sua dedicação, com a valorização que dá ao ofício, com sua evolução como ator em prol dos espetáculos e do trabalho em grupo. Status A, são atores que já estão há mais de dez anos no Máschara e que já se consolidaram como grandes atores. Status 1, 2 e 3, são membros do grupo capacitados, com técnica e prontos para a cena. Status 4 e 5 são entusiastas da arte, aprendizes e iniciantes. 
               Céu, terra e inferno poderiam muito bem ser 1, 2 e 3, ou ainda qualquer outra fórmula decrescente, distingue atores que criaram algo muito marcante, atores que fizeram sua parte ou atores que deixaram a desejar em algo. Poderia ser questionado "Ora, será que alguém pode julgar o que foi um bom trabalho, ou o que foi pouco?"  A arte de cada um, não pode ser analisada, afinal tem mais a ver com vivências, com a sensibilidade, vivência e possibilidades semióticas e estéticas de cada um. No entanto não é a questão artística que é analisada, mas sim o grau de profissionalismo de cada um.
                      Já falei em outras críticas que o que acontece nos bastidores renderia outro espetáculo. A correria, o aperto, a preocupação em ser perfeito em cena. Os atores na coxia assistindo os colegas, os improvisos, aquela sensação deliciosa de contar uma historia na caixa preta, o espetáculo acontecendo enquanto você troca de roupas no camarim. O teatro é algo incrível, de prazer indizível, com seus próprios dogmas. Outro prazer imensurável é estar na platéia e poder viajar pela mente criativa dos artistas, desses destaco Tatiana Quadros que nesta apresentação retornou ao palco, e com praticamente quatro meses de gravidez deu um show de interpretação. Ed Mort é uma historia policial, uma crônica de Luis Fernando Verissimo, diverte sem preocupação de fazer algo mais, no entanto por ser uma historia a ser contada, tem  a obrigação de se fazer compreender. E aí entram as bases Aristotélicas e Stanislavskianas, que alguns atores se esmeram em reproduzir e que outros por incapacidade ou despreparo não alcançam.  Sendo assim o espetáculo torna-se um pouco frio as vezes, sem ritmo. Por ser uma crônica, carrega em cada cena um olhar emocional, um colorido diferente da vida e suas idiossincrasias. 
                         Esse olhar precisa cativar, tocar todo o elenco. Evaldo Goullart e Alessandra Souza precisam sorver melhor a compreensão técnica de suas personagens. Fernanda Peres e Ricardo Fenner precisam de mais jogo, de melhor triangulação. As vezes alguns atores colocam uma quarta parede em volta de suas ações e não vêem direito os colegas de cena e suas criações vivas!
                                Renato Casagrande interpreta três personagens no espetáculo, o que o destaca não é o fato de ser versátil, ou a criação dos tipos que são de construção de atores antigos e já substituídos (Marcele Franco e Gabriel Wink), mas a organicidade com que veste  a roupagem física dessas personagens, e a forma como apodera-se e vivencia-os. Cléber Lorenzoni e Dulce Jorge abrem e fecham o espetáculo, estiveram completos em cena, mas as vezes aceleraram o ritmo não aproveitando as cenas tanto quanto podiam. A escolha por cabelo natural em Penelope, trouxe verdade e mais humanidade a personagem. 
                                 Quanto a sonoplastia e iluminação, falta aos técnicos do Máschara assumirem-nas com a mesma dedicação que assumem papéis nas cenas, ou seja viver a luz, viver o som, como viver Ed, viver Penélope ou outro papel qualquer...
                                  O grande rito de passagem do Máschara começou há muito tempo, repete-se a cada noite de espetáculo, quando cada ator dá ou deveria dar um passo em sua caminhada pelo alto conhecimento e pelo aprendizado técnico. O Máschara e seus integrantes devem observar como uma passagem cada vez que entram em cena, isso os tornaria mais profissionais em seu grupo de já mais de vinte anos.

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Destaque para Tatiana Quadros por sua capacidade ainda que afastada dos palcos em ser tão verdadeira e capaz em cena.
Destaque para Renato Casagrande por sua dedicação ímpar no palco do que tange o momento de montar o aparato até a hora dos aplausos.

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Cléber Lorenzoni, Dulce Jorge, Alessandra Souza, Ricardo Fenner, Fernanda Peres.

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Gabriela Oliveira, Evaldo Goullart, Luis Fernando Lara.
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Mérito Cena às 7
Cléber Lorenzoni por conseguir adaptar o espaço, adaptando em um espaço nem um pouco adequado, iluminação razoavelmente capacitada e adequando ainda entradas e saídas de cena em um espaço físico pequeno, sem rotundas e de medidas restritas.
                      
                        
               

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