A Maldição do Vale Negro (618)


             Estou sentada assistindo um dos últimos capítulos de uma das tantas reapresentações da novela A Usurpadora escrita por Inés Rodena e Carlos Romero e não posso deixar de ver nela  tantos códigos universais do melodrama, que me fazem lembrar profundamente a apresentação do espetáculo A Maldição do Vale Negro por ocasião da 7ª Feira de Livros Infantis de Capão da Canoa. O âmago do folhetim mexicano, as reviravoltas, os climas chocantes, as surpreendentes reações dos vilões e mocinhos, tudo retratado no texto inteligentíssimo e engraçadíssimo de Caio Fernando Abreu e Luís Arthur Nunes.
                     O espetáculo do Máschara é antes de tudo um divertido exercício, três atores interpretam as sete personagens. O espetáculo é ágil, vivo, envolvente, moderno e sem aquelas "barrigas" que costumam deixar espetáculos adaptados arrastados. Cléber lorenzoni passeia pelo palco levemente e nos faz recordar de todas as mocinhas, de romances de cavalaria à novelas das oito. Sua interpretação é firme e inesquecível.   A ponto de ao final do espetáculo pessoas da platéia não saberem se era um ator ou uma atriz interpretando. Embora o espaço não tivesse acústica alguma, o domínio de voz do ator tocava todos os ouvidos atentos. No entanto a personagem Úrsula me parecia sem força, um tanto atrapalhada. Ainda que com a preocupação do ator em sem coerente e seu talento incrível, faltava o acabamento que lhe é típico.
                        Ricardo Fenner, não é um ator cômico, mas é um ator formal e talvez por isso precise de muita precisão em suas cenas, algumas adaptações e improvisos, podem colocar em risco suas cenas. O ator parecia inseguro em algumas cenas, não foi seu melhor dia como Conde, no entanto a cigana Jezebel entrou arrasando como sempre. A revelação da noite foi o ator Renato Casagrande que teve sua estréia no espetáculo interpretando três das sete personagens. Poderia ficar comparando com o ator que está sendo substituído, o que é natural, no entanto prefiro analisar o que vi. Vi um ator bastante jovem, esforçado, que preenche muito bem as necessidades do espetáculo e  que parece ter dado finalmente vida ao Marquês Rafael D'Allençon. A falta de uma iluminação apropriada e de um equipamento de som adequado prejudicou e muito o espetáculo, mesmo que se diga que o espetáculo é maravilhoso, ou que os atores são profissionais, é preciso ver um espetáculo como um todo, recordando que luz, som, figurinos, cenários, ou mesmo a ausência deles, forma a complexa concepção de um espetáculo, e que quando um desses não pode cumprir sua função o todo sai perdendo, a platéia perde, o elenco perde, a ideia não é expressada. Boa parte das narrações que o público precisava ouvir, não puderam ser ouvidas na íntegra, o que não foi culpa da operadora, afinal o material do som precisa estar a disposição da equipe com no mínimo uma hora de antecedência, o que não aconteceu.
                              A contra-regragem  não foi exercida com louvor, já que perucas tortas e figurinos abertos adentraram o palco, não sei quem faz as trocas, mas seja quem for deveria ter ensaiado mais. A Maldição do Vale Negro, é um espetáculo grandioso, que precisa de toda uma maquinaria correta para que o espetáculo aconteça em sua grandeza. Isso sem falar que necessita sempre ser ensaiado, ou sua formalidade pode ir se perdendo. À Evaldo Goulart indico mais humildade e observação para aprender, mas aprender o "bom", e a Luís Fernando Lara que a cada dia melhora como Cenógrafo, aconselho a sempre assistir os espetáculos e participar sempre de mais ensaios. Quanto a escolha do banco não sei de quem foi, mas a guarda certamente prejudicou muitas marcas.
                                   Ainda assim A Maldição do Vale Negro cumpre sua função, trabalho corporal, muita coluna, desenho sonoro nas vozes dos atores, narrativa ágil, e muito a ser descoberto. 


A Rainha



Cléber Lorenzoni (***)
Ricardo Fenner (**)
Renato Casagrande (***)
Alessandra Souza (*)
Gabriela Oliveira (*)
Roberta Corrêa (**)
Luis Fernando Lara (**)
Evaldo Goullart (*)  

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