Estou sentada
assistindo um dos últimos capítulos de uma das tantas reapresentações da novela
A Usurpadora escrita por Inés Rodena e Carlos Romero e não posso deixar de ver
nela tantos códigos universais do
melodrama, que me fazem lembrar profundamente a apresentação do espetáculo A
Maldição do Vale Negro por ocasião da 7ª Feira de Livros Infantis de Capão da
Canoa. O âmago do folhetim mexicano, as reviravoltas, os climas chocantes, as
surpreendentes reações dos vilões e mocinhos, tudo retratado no texto
inteligentíssimo e engraçadíssimo de Caio Fernando Abreu e Luís Arthur Nunes.
O espetáculo do Máschara é
antes de tudo um divertido exercício, três atores interpretam as sete
personagens. O espetáculo é ágil, vivo, envolvente, moderno e sem aquelas
"barrigas" que costumam deixar espetáculos adaptados arrastados.
Cléber lorenzoni passeia pelo palco levemente e nos faz recordar de todas as
mocinhas, de romances de cavalaria à novelas das oito. Sua interpretação é
firme e inesquecível. A ponto de ao
final do espetáculo pessoas da platéia não saberem se era um ator ou uma atriz
interpretando. Embora o espaço não tivesse acústica alguma, o domínio de voz do
ator tocava todos os ouvidos atentos. No entanto a personagem Úrsula me parecia
sem força, um tanto atrapalhada. Ainda que com a preocupação do ator em sem
coerente e seu talento incrível, faltava o acabamento que lhe é típico.
Ricardo Fenner, não é
um ator cômico, mas é um ator formal e talvez por isso precise de muita
precisão em suas cenas, algumas adaptações e improvisos, podem colocar em risco
suas cenas. O ator parecia inseguro em algumas cenas, não foi seu melhor dia
como Conde, no entanto a cigana Jezebel entrou arrasando como sempre. A
revelação da noite foi o ator Renato Casagrande que teve sua estréia no
espetáculo interpretando três das sete personagens. Poderia ficar comparando
com o ator que está sendo substituído, o que é natural, no entanto prefiro
analisar o que vi. Vi um ator bastante jovem, esforçado, que preenche muito bem
as necessidades do espetáculo e que
parece ter dado finalmente vida ao Marquês Rafael D'Allençon. A falta de uma
iluminação apropriada e de um equipamento de som adequado prejudicou e muito o
espetáculo, mesmo que se diga que o espetáculo é maravilhoso, ou que os atores
são profissionais, é preciso ver um espetáculo como um todo, recordando que
luz, som, figurinos, cenários, ou mesmo a ausência deles, forma a complexa
concepção de um espetáculo, e que quando um desses não pode cumprir sua função
o todo sai perdendo, a platéia perde, o elenco perde, a ideia não é expressada. Boa parte das narrações que o público precisava ouvir, não puderam ser ouvidas na íntegra, o que não foi culpa da operadora, afinal o material do som precisa estar a disposição da equipe com no mínimo uma hora de antecedência, o que não aconteceu.
A
contra-regragem não foi exercida com
louvor, já que perucas tortas e figurinos abertos adentraram o palco, não sei quem faz as trocas, mas seja quem for deveria ter ensaiado mais. A
Maldição do Vale Negro, é um espetáculo grandioso, que precisa de toda uma
maquinaria correta para que o espetáculo aconteça em sua grandeza. Isso sem
falar que necessita sempre ser ensaiado, ou sua formalidade pode ir se
perdendo. À Evaldo Goulart indico mais humildade e observação para aprender, mas aprender o "bom", e a Luís Fernando Lara que a cada dia melhora como Cenógrafo, aconselho a sempre assistir os espetáculos e participar sempre de mais ensaios. Quanto a escolha do banco não sei de quem foi, mas a guarda certamente prejudicou muitas marcas.
Ainda assim
A Maldição do Vale Negro cumpre sua função, trabalho corporal, muita coluna,
desenho sonoro nas vozes dos atores, narrativa ágil, e muito a ser descoberto.
A Rainha
Cléber
Lorenzoni (***)
Ricardo
Fenner (**)
Renato
Casagrande (***)
Alessandra
Souza (*)
Gabriela
Oliveira (*)
Roberta
Corrêa (**)
Luis Fernando
Lara (**)
Evaldo
Goullart (*)
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