O Renascimento

            Eu já havia dito que o espetáculo Lili Inventa o Mundo(2006) do Grupo Teatral Máschara deveria não mais ser apresentado, por motivos que agora não vem ao caso repetir. No entanto ontem a peça se reinventou, e provou que sempre é um bom momento para se recomeçar a buscar algo em cena. Atores sempre podem descobrir algo novo, toda a apresentação é momento para um ator encontrar novas inflexões, novas emoções. O público do Cena às 7 do sábado é sempre um público menor, parece que o teatro em Cruz Alta foi realmente aprovado no domingo. Mas um público pequeno tem seu ponto positivo.                             
Os atores conseguem envolver melhor, tocar cada um dos presentes de forma mais calorosa. E o clima se estabeleceu, claro o espetáculo foi mais cômico, mas quem disse que a poesia não pode ser engraçada? Felizmente a poesia pode ser tudo!
            Quando um espetáculo é bem concebido, e alcança um certo grau de perfeição, mesmo que haja substituições, os atores que entram rapidamente se vêem em meio a esse mundo proposto. Mérito aí de Dulce Jorge(St. A) e Cléber Lorenzoni(St.I ), que mantém seu trabalho com pulso firme. O Teatro é de certa forma uma ciência exata, o teatro pode ser matemático, é emoção, uau, o teatro é tudo!
             A atriz Fernanda Peres (St.III) preenche muito bem a lacuna deixada pela protagonista anterior. Peres tem um talento magico, uma facilidade para ambientar-se, uma lucidez cênica e um profundo respeito pela platéia. Talvez por isso mesmo consegue sempre em questão de poucos dias abraçar a personagem que lhe é delegada. Pois bem, precisa de mais técnica, mas essa técnica precisa ser buscada calmamente, sem turbilhões, sem pressões para não massacrar seu talento. Diria que para agora é mister trabalhar a voz, e o corpo no espaço cênico.
                O Ator Evaldo Gullart (St.V) merece louros dourados. Estreou com pé direito e orgulhou certamente todo o elenco. Evaldo trás consigo um approach que se adapta rapidamente, cheio de criatividade e improvisação. Chegar de repente e assumir o papel de um ator que era muito admirado não é tarefa fácil. O elenco a sua volta, e o público exige algo a altura. Falta à Evaldo também muita técnica, no entanto há nele já uma técnica empírica, e essa experiencia tem haver com seus outros trabalhos ainda em sua cidade natal. 
                        Alessandra Souza (St.III ) e Renato Casagrande (St.II ) são os mesmos, ele com mais recursos que em 2012, mais cartas na manga. É um ator de energia, presença, e foi sem dúvida muito generoso com a colega de cena, pode ainda rever a cena da transformação, ousar, criar, sentir algo novo. Alessandra é uma atriz mais sutil e por isso mesmo precisa de mais força em cena para chegar onde quer. A Rainha das Rainhas estava belíssima, mas fugia um pouco da proposta do espetáculo. Mas foi bom ver a naturalidade com que a atriz atuou, sem a tensão nervosa que atores estreantes tem e que pode pôr em risco a encenação. 
                       Roberta Queiróz (St.IV) já foi prata da casa, e agora está de volta, precisa acreditar mais em si mesma, ousar, aprofundar o talento que tem dentro de si. Mesmo no papel de Fada Mascarada, já foi muito longe... E acredito que com pouco mais de repetições chega lá. 
                           Cléber Lorenzoni (St.I) segurou o espetáculo e pontuou as cenas. A cada entrada do Senhor Poeta e de Malaquias o público sorria envolvido novamente. E o interessante é ver um ator já de tempos, desafiado pelo novato. Cléber conhece, e não poderia ser diferente, as cartas na manga de todo os seus atores. Mas Evaldo era surpresa constante em cena. E isso fez o ator/diretor se remotivar em cena.
                            A iluminação de Luis Fernando Lara foi pobre de climas, falta de alma, e de possibilidades téncicas. Espetáculo infantil precisa possuir mais luminosidade, mais cor. A trilha de Gabriela Oliveira foi pontual, mas as vezes um tanto pesada
                                     Lili Inventa o Mundo encantou quem assistiu e parece realmente pronta para nova turnê. Parabéns aos atores do Máschara que sempre vencem os desafios que os nossos perspicazes Deuses do teatro impõe.

Cléber Lorenzoni (***)
Alessandra Souza (**)
Evaldo Gullart (**)
Fernanda Peres (***)
Roberta Queiroz (**)
Renato Casagrande (***)
Gabriela Oliveira (**)
Luis Fernando  Lara (**)
Ricardo Fenner (**)

Dulce Jorge (**)


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