Os Saltimbancos no 53º Cena às 7

                A primeira vez que assisti um espetáculo do grupo Máschara foi em 1996, a peça era Cordélia Brasil de Antonio Bivar, com a impagável Dulce Jorge no papel título. A primeira versão havia sido dirigida por César  Dórs e a produção era de Dione e Jorge Silva. Mas quando vi, a própria Dulce Jorge havia embrenhado-se pelos caminhos enigmáticos da direção. O espetáculo além de bem feito, possuía um encantamento, uma entrega por parte do grupo todo. Uma fé cênica intensa, adorável. Não havia cache e havia muito mais público que atualmente. A divulgação era menor, mas os atores saíam em busca de seu público. O teatro era mais artesanal, mais humilde, e buscava o acerto, buscava o sucesso interior. Não se sabia ao certo o que se buscava, mas buscava-se algo.
                     Hoje assisti Os Saltimbancos, o mesmo grupo, a mesma catequese, os mesmos objetivos (acho), mas ainda assim algo muito diferente. Já se disse dezenas de vezes que a arte não tem certo ou errado, mas ela possui inegavelmente seus pilares, suas convenções para que algo técnico, organizado, elogiável, aconteça. 
                          Hoje por exemplo vi muita técnica, muito domínio do fazer teatral, mas onde foi parar a alma? A alma de alguns saltava aos olhos, mas ela não passou nem perto da equipe técnica, a iluminação muito mais eficiente do que na noite de sábado, ainda precisa ser mais afinada, mais artística na mão de quem  a executa. A iluminação não é apenas uma função a mais que não tendo para quem da, delega-se a quem está a disposição. Ela precisa de compreensão. De esforço. De profissionalismo. A mesma dedicação que se usa para criar uma personagem há de estar presente no momento de iluminar atores sobre um palco. O sonoplasta precisa ter a alma na ponta dos dedos. Não é cabível, não é tolerável, não pode ser aceito precipitações de faixas erradas, soluços de sons equivocados. A platéia não foi convidada a sair de suas casas para ver suas incapacidade em exercer sua função. 
                             Alessandra Souza (**) está em seu melhor papel, não há dúvidas, a atriz vence muitas dificuldades, sobressai-se em vários momentos, mas precisa atentar sua musicalidade. Já assisti mais de quatro vezes o espetáculo e agora a cada vez que assisto novamente quero ver mais de Alessandra, o ator não pode acomodar-se, pode até errar, mas sempre buscando coisas novas. Um espetáculo teatral, não combina com a monotonia. Um artista é um comunicador, e tem obviamente coisas novas a comunicar a cada nova inserção.  Gabriel Wink (**) tem um ouvido muito afinado, mas o escuto cantando cada vez menos. Sua simpatia cênica desce do palco, é uma agradável escolha para o papel em que está, no entanto sua composição já alcanço mais méritos em Os Saltim... Para haver unidade com os outros animais carece de mais pesquisa. Movimentação "equina". 
                                Renato Casagrande (**) conseguiu pela primeira vez nesse espetáculo, chegar ao final com a maquiagem praticamente intacta. Casagrande dança e canta com proporções admiráveis, mas as vezes pinta muito dentro dos contornos, uma dica interessante, já está na fase de nos apresentar  mais de sua personalidade. Em alguns momentos da para vê-lo tentando coordenar os colegas em cena o que denota noção do todo. Tem tudo para ser um grande ator. Cléber Lorenzoni (***) adentrou a cena com sua "mordida", encantou crianças e adultos, poderia ter falado um pouco mais alto, mas sua presença e ânimo contagiaram. É um exemplo para outros atores que venham a interpretar personagens femininos. Apenas um conselho de quem deseja o melhor para seu trabalho: Deveria ser mais humilde na hora de agradecer a presença do público, submetendo-se a tirar fotos com as crianças ao término do espetáculo. 
                                    Os Saltimbancos é um dor mais incríveis trabalhos do Máschara, precisa de estrada, precisa de públicos, precisa da noção por parte de sua equipe de que um espetáculo nunca para, nunca morre. 

Luis Fernando Lara **
Fernanda Peres **
Dulce Jorge **
Ricardo Fenner **
Gabriela Oliveira ***

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