52º Cena às 7 O santo e a Porca


Se não me engano os quatro evangelhos, Matheus, marcos, Lucas e João mencionam a passagem em que Jesus coloca os demônios dentro de porcos e a vara  pula pela ribanceira em direção a morte. Não sei se o mago Suassuna pensou nisso quando escreveu o texto, mas fiquei boa parte do espetáculo pensando que aqui não haviam porcos, mas sim uma única porca  em luta por igual contra um santo. Material e espiritual lutando pela alma do avarento Eurico. É verdade que a espiritualidade poderia estar mais presente na narrativa, principalmente pelo fato de que o dono da casa diz ser muito devoto. No entanto Eurico sai vencedor no final, pois ainda que perdendo tudo, resta-lhe encerrar seus dias livre de sua avareza, talvez para devotar-se a seu santo enquanto que o demônio (porca) é levado para a casa de Eudoro pelas mãos de Caroba. Ou seja, a ganancia, o desejo de "possuir", encontra espaço em outra familia e assim persevera. Tudo isso que questionei estava disfarçado pela comédia, farsa intensa, cheia de reviravoltas e de fácil compreensão. E o bom da comédia era os atores rindo de si mesmo, para nosso deleite. O texto de Suassuna ficou ainda mais atual com as dezenas de cacos que os atores improvisaram e os homens da Cia. improvisam muito. O espetáculo é longo, tem quase duas horas, mas a gente não vê o tempo passar, a gente só aproveita, aproveita a intensidade de Cléber/Eurico, a composição de Benona/Gabriel e a versatilidade de Dulce/Caroba. Assistir um espetáculo teatral é como assistir um esporte, um jogo. Os atores disputam nossa atenção, utilizam energia, força. Se conectam entre si, e fazem um bate bola de primeira. O bate bola se deve a afinação, e união de elenco. São sete atores, muitas vezes todos em cena ao mesmo tempo. Mas tudo é muito claro e a trama vai se desenrolando. Escrachadamente, habilmente, com entradas e saídas deliciosas. Cenas curtas para contar uma historia longa. 
As partituras criadas pelos atores são afinadas e a direção do espetáculo é perfeitamente visível. Cléber Lorenzoni sabe o que quer dizer e se parece muito com o que Suassuna quer dizer. O mundo evoluiu, mas a ignorância, a ambição e o medo continuam os mesmos.  O Máschara consegue sempre fazer com que determinado espetáculo pareça estar acontecendo realmente naquele lugar onde está sendo apresentado. O público consegue apropriar-se da historia a tal ponto que ontem eu tinha a sensação de que Eurico morava em algum bairro de Cruz Alta, e que seu Dodó costumava passear pelo calçadão da cidade.
A principal necessidade do elenco é preservar a formula inicial e impedir que tão bom espetáculo começa a se alongar, esticar, como acontece com muitas peças que assisto mais de uma vez.
O texto longo de Suassuna sai do papel e torna-se vivo em um cenário prático, uma luz sublinhadora, figurinos delicados, sensíveis e bastante simbólicos. É impossivel não viajar durante os espetáculos da Cia. Minha pergunta é como o Máschara consegue fazer tantas magicas todos os dias...

Cléber Lorenzoni I/C
Dulce Jorge C/+
Alessandra Souza +/+
Renato Casagrande +/+
Luis Fernando Lara C/+
Gabriel Wink I/C
Ricardo Fenner +/+
Fernanda Peres I/+
Gabriela Varone I/+
Angela Freres Jacques +/+

ELENCO

Cléber Lorenzoni - Eurico
Dulce Jorge- Caroba
Ricardo Fenner - Eudoro Vicente
Gabriel Wink - Benona
Renato Casagrande- Dodó
Alessandra Souza- Margarida
Luis Fernando Lara - Pinhão
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Promoção: Grupo Teatral Máschara
Direção: Cléber Lorenzoni
Adaptação e criação: Cléber Lorenzoni
Divulgação: Gabriel Wink
Cenografia: Luis Fernando Lara
Figurinos: Cléber Lorenzoni
Assistentes de Figurino: Renato Casagrande
Desenho de luz e operação: Cléber Lorenzoni e Gabriela Varone
Assistência de Direção: Dulce Jorge
Dramaturgia: Cléber Lorenzoni e Dulce Jorge
Trilha Sonora e operação: Cléber Lorenzoni e Fernanda Peres
Produção:Script Produções 
Contra Regragem: Angela Freres Jacques
Bilheteria: Lidiane Weber

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