Tartufo no Cena às 7

Galharufas para todo lado...


                       O público que foi ao teatro nesse ultimo domingo pode não ter sofrido uma grande catarse, mas sem duvida teve aquilo que foi buscar. Tartufo fez rir e fez raciocinar... Quem são os falsos religiosos? Onde eles estão?Quantos de nós sucumbimos a eles? Quais as repercussões catastróficas que os Tartufos podem impelir-nos?
                        O sábado de Cena às 7, já provou ser noite de esquenta, e o domingo a noite de gala. E não poderia ser diferente, o domingo já se estabeleceu como noite de teatro cruzaltense. O sábado em sua terceira edição ainda deve fazer longa caminhada até conquistar seu público. 
                          Elenco afinadíssimo, vocabulário variando entre requinte e termos pesados.Foi difícil não se deixar levar por boas gargalhadas. Uma obra remontada em sua forma original, passa a ser apenas um lindo apelo histórico, o teatro precisa ser revisitado de forma atualizada. O que os grandes dramaturgos escreveram precisa do frescor dos novos dias, para tocar fundo nas pessoas. E Tartufo tem como maior mérito essa sacudida, esse ar de texto novo. O texto foi bastante reduzido por Cléber Lorenzoni, que fez a adaptação, mas não perde em nada sua força provocante e direta contra os falsos beatos. Toda a linguagem subliminar de Molière está presente. O romance dos jovenzinhos retratados por Valério/Renato e Mariana/Fernanda. Os instintos sexuais apurados dos velhos em Tartufo/Cléber e Orgon/Gabriel, a força feminina, sobre o sexo masculino e ainda o poder que os criados tem sobre seus patrões já que sempre guardam consigo segredos e maquinações familiares. O trabalho corporal dos atores é um sucesso a parte. Tatiana Quadros e Gabriel Wink fazem um brilhante parceria, vivaz, exaustiva para eles provavelmente e deliciosa para quem assite. Cléber Lorenzoni e Dulce Jorge com prosódia impecável, gostosa de ouvir e deleitar-se.
                       Dulce Jorge(***), Cléber Lorenzoni(***) e Gabriel Wink(***)  estiveram brilhantes, sagazes e divertidíssimos. O elenco de coadjuvantes também esteve coeso e vivo. Renato Casagrande(**), Tatiana Quadros(**), e Fernanda Peres(**) davam a base para que a trama fosse se desenrolado a contento para o público que certamente nem viu o tempo passar. O Texto é retórico as vezes, elegante, culto e isso me faz admirar a população cruzaltense que sempre mostra saber escutar um bom texto. A trilha, hoje muito bem manipulada, somando-se a iluminação, ajudaram a criar toda o conjunto perspicaz de Tartufo.
                              Tudo isso me faz pensar no diapasão que o Máschara criou. Se fazer teatro em grandes centros é difícil e tido como ato heroico, o que resta dizer de um grupo que em uma cidade do interior, coloca pessoas em noites de fins de semana, mensalmente para assistir teatro.É algo que nem dito pelo elenco para quem vem de fora, da para acreditar. Um público de noventa pessoas, em um espetáculo da cidade, depois de a mesma peça já ter sido apresentada aqui em outras oito ocasiões. Isso é com certeza a prova de que Cruz Alta está criando o hábito. Indo ao teatro. E essa contribuição o Grupo deixará para a cidade. São 49 edições de Cena às 7, são sete anos. são vários profissionais envolvidos, movimenta ainda que de forma pequena, uma parte da economia, envolvendo patrocinadores, costureiras, caches, carpinteiros, costureiras... Então o que faltas a esse grupo? Força, para continuar sem desanimar, uma sede para ensaios, mais público, e a no final dessa caminhada o reconhecimento merecido.


                               A Rainha

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