O Retorno de Tartufo

                            Na cena final de Tartufo do Máschara, o maléfico personagem tema diz...Eu voltarei! Pois bem, cumpriu-se a profecia,e após quatro anos, Tartufo retorna ao Cena às 7. E sua volta é muito perspicaz, o texto de Molière, escrito no séc XVII deve sempre ser revisto, relembrado, pois os falsos devotos estão sempre a espreita, prontos para se lançarem me lares ingênuos. Mas Tartufo é ainda pior, é egoísta e desumano, para esse vilão, não basta aproveitar-se de seu anfitrião Orgon e roubar-lhe os bens financeiros, ele quer ainda sua esposa e filha. E quase consegue sob o manto protetor da fé alheia. 
                              A versão do Máschara é muito moderna, embora os figurinos sejam  inspirados na corte francesa pré revolução. O texto foi enxugado com muita propriedade e os cinco atos do original tornaram-se visivelmente dois grandes momentos. Sumiram nessa montagem Damis, Cleanto e o criado de Sra. Pernelle, personagens que apenas realçavam os mandos exagerados de Orgon. A farsa é muito bem compreendida pelo elenco e é sem duvida a linguagem que mais adecua-se aos objetivos da montagem, afinal o próprio texto brinca com as armações a artimanhas das personagens, algo típico na farsa, herança nobre das Arlequinadas. 
                             Sra. Pernelle é interpretada por Cléber Lorenzoni (**) que também encarna Tartufo. E embora não a vejamos na cena, a voz construída pelo interprete nos dá todo o colorido da carola que mais se sujeita ao vilão. A matriarca  aparece em três momentos distintos, perdendo no decorrer da trama o respeito dos membros da família. Ao final ainda realça sua capacidade de reviver os erros causados por sua ignorância, tomando como convidado para a casa outro homem do mesmo caráter de Tartufo. 
                             O primeiro ato é rápido, e a platéia precisa estar atenta ao ritmo desmedido das entradas e saídas. As personagens saem e entram daqui e dali jogando com o cenário de muito bom gosto. Embora brancas, as paredes da casa tomam um colorido perfeito a cada cena, como se as intenções das personagens preenchessem os praticáveis.  Tatiana/Dorina e Elmira/Dulce Jorge, interpretam os membros inteligentes da casa e mostram suas garras cada uma em um ato distinto. Tatiana(***) dá ao espetáculo movimento e agilidade, Dulce entra com a maturidade de uma atriz cheia de tempos e chão. Ao lado de Gabriel/Orgon, Tatiana dá ao público a deliciosa imagem da relação criada/patrão.  Orgon é um personagem que vai da ignorância ao entendimento, mas isso lhe custa caro, afinal pelo caminho arrisca-se a perder a esposa e o amor da filha. Gabriel Wink (**) compreende muito bem o âmago da personagem, embora espere-se ainda mais de sua composição de homem velho que é pai de uma jovem mulher. O ator joga muito bem com o restante do elenco e da aulas de farsa, usando paradoxalmente o absurdo da linguagem a seu favor. Dona Elmira, Valério e Mariana podem e devem ser mais farsescos, afinal é através do riso que dai viria que se chega mais ao fundo dos planos de Molière. Dulce Jorge e Cléber Lorenzoni tem um encontro belíssimo, em duas cenas bastante próximas eles dão ao público dois lados de duas moedas. Primeiro o levante de Tartufo sobre a esposa co crédulo, e logo depois o jogo inverso. Dulce(**) tem a postura perfeita para a personagem, mas precisa lapidar algumas jogadas nos ensaios para não parecer "incerta" durante a encenação. As estreias do dia ficaram a cargo de Renato Casagrande e Fernanda Peres. Ele, ator versátil e já conhecido por seu belíssimo trabalho em outros espetáculos. Ela, estreante não só no espetáculo como na Cia.

                                                 O Valério de Renato Casagrande(**)  joga muito bem e tem muita presença, mas precisa de mais malicia e afinação com o todo. Valério carrega uma frase do texto que nos mostra o jogo que o teatro sempre fez com o poder politico de sua época. O Teatro, os atores no palco, tem o poder da oratória, da crítica, mas não correm sozinhos pela estrada da historia, levam consigo as vezes o reconhecimento, as vezes a critica do poder a sua volta. Quando Molière deu ao mundo Tartufo em 1664, teve que agradar ao rei através do texto para que a censura, que na época foi a própria rainha mãe, não interpelasse sua obra. Renato Casagrande ganha nessa versão além da presença chorona do mocinho injustiçado, o peso de salvar a família da noiva do quase invencível poder de Tartufo. 
                               Fernanda Peres (***) está no Máschara há pouco mais de dois meses e já da mostras da grande atriz que pode chegar a ser. Ao lado de outras grandes interpretes não deixa nada a desejar e muitos da platéia possivelmente não perceberam que no palco havia uma estreante. Corpo, voz e expressão somam-se muito bem. Embora, ainda haja necessidade de grande esforço vocal. Ver uma jovem atriz começar sua carreira é sempre uma dádiva, uma alegria imensa, afinal a arte ainda é tão pouco enaltecida. E pouco sabemos sobre o que será do amanhã nesse mundo acelerado, artistas surgindo são a certeza de que não está tudo perdido!
                              A parte técnica do espetáculo é muito bem concebida e tão desagradavelmente exercida. Alessandra Souza(*) e Ricardo Fenner(**) tiveram que somar-se em quatro para dar conta de toda a maquinaria do dia e por isso não exerceram como deveriam suas funções.



Algumas curiosidades de Tartufo do Máschara:  O espetáculo estreou em Maio de 2001 com Cléber Lorenzoni, Dulce jorge, Alexandre Dill, Simone De Dordi, Marcele franco e Fábio Novello no elenco, na cidade de Ibirubá!
                                                                            O Espetáculo participou de oito festivais, sendo premiado como Melhor Espetáculo em quatro deles.
                                                                             O personagem Valério, foi o que mais teve substituições no Máschara. Ao todo foram 7 atores. Fábio Novello, Diego Barcellos, Leonardo Mattos, Rafael Aranha, Luis Fernando Lara, Ricardo Fenner e  Renato Casagrande.
                                                                        Essa é a quinta vez que o espetáculo subiu ao palco do Cena ás 7.
                                                                            Como premio por ter ganho o festival da Federação de Teatro Gaúcho. O Espetáculo foi apresentado em março de 2002 no teatro do Sesc de Porto Alegre. 
                                                                             Tartufo estrou em Cruz Alta em setembro de 2001.
                                                                             No festival de Santiago em 2001, Tartufo levou todos os treze troféus na categoria, o que causou certo desconforto. A partir dali os grupos que quisessem participar do festival teriam que comprovar pertencer a categoria de  teatro amador.
                                                                               Em 2002 Tartufo participou do circuito Sesc interior na cidade de Ijui, onde apresentou-se ao lado de Vida Muda, Pois é Vizinha, Toda nudez será castigada e  Se meu ponto G falasse. 
                                                                             Tartufo foi o primeiro espetáculo do Máschara a sair em turnê por outros palcos do estado. 
                                                                               A Palavra tartufo, não existia antes da peça ser escrita. Ela foi acrecida ao dicionário após ser convencionada no dia a dia das pessoas quando começaram a usar o termo tartufo para dirigir-se a hipócritas, falsários etc...
                                                                               Foi o espetáculo que abiu o projeto cena às 7 em outubro de 2005.

                                                    A Rainha.
                                                                              
                     


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