Crítica de O Incidente em Antonio Prado

De Cléber Lorenzoni   
 O Incidente em Antonio Prado

Ficha ténica:
Elenco:Cléber Lorenzoni, Angélica Ertel, Gabriel Wink, Luis Lara, Alessandra Souza, Ricardo Fenner e Renato Casagrande.
Sonoplasta: Newton Moraes

                               Começo esse análise reiterando que este é o Incidente não de Erico Verissimo e sim de Cléber Lorenzoni. Ok, a base está no livro escrito por Erico Verissimo na década de 70, mas o espetáculo sobre o palco com seus erros e acertos é de Cléber Lorenzoni, e um pouquinho de Dulce Jorge. Não a excluo, sei que ambos trabalham juntos, mas é visivel o autoritarismo artístico do jovem diretor.
                                 Pois bem, o Incidente fica agora dividido entre espetáculo curto sketch, e performance. Como espetáculo falta-lhe o recurso cênico, é simples até demais. Como performance ele é complexo demais, ultrapassando a estética de análise-observação rápida e simples que cabe a uma performance.
                                  Sei que há versões mais longas, com outros personagens, mas como disse, falo aqui de Incidente nos altos da serra.  O Trabalho corporal é digno do Grupo Máschara, coluna, densidade e um pouco de escatologia (saliva, guspe, vômito),tudo para acrescer verdade ao tal: "Vinham quais bonecos de molas"...  Os figurinos assinados por Dulce Jorge são de um colorido versátil e preenchem cada universo. Des de a camisola de hospital até a casaca fraque do maestro, em uma competente alusão ao livro. As maquiagens deixam no chinelo alguns filmes do gênero trash,e pelo que pude conferir causam choque na platéia boquiaberta, outra alusão perfeita, ao livro, embora a mancha de Cícero estivesse ao lado contrário ao mencionado na obra, e a tal barba do professor Menandro tenha desaparecido... Mas eis aí minha grande dúvida... Afinal, antes de tudo é uma obra teatral... E para que me surpreenda e estimule enquanto obra, deve sim ter sua verdade propria e não ser escrava do livro, ou estaria eu em frente há uma adaptação global que fica sempre sobre o muro...
                                As interpretações chocam em um primeiro momento e depois esbarram na mesmice, quase ao enfadonho. Cléber Lorenzoni preenche com estímulos seu advogado, há força, alguns espasmos musculares muito bem vindos e é incrível que consiga dirigir enquanto atuade forma tão perfeita. Creio que esse seja seu mairo mérito. Alguns poderiam dizer, mas isso é o jogo, não, ele realmente dirige ali na frente de todos, som, luz, elenco, sem prejudicar a narrativa, sem que o público perceba.  O seu texto é dito de forma agressiva, vem para os lábios, volta para o diafragma, analasa, desce aos pulmões, torna-se grave, por vezes agudo, susurra e volta ao palato. Uma aula de técnica vocal.
                                  Mas a surpresa me veio por Ricardo Fenner... Os atores do Máschara são muito escravos da fórmula inicial que Cléber lhes dá no inicio, fórmula essa que os atores devem se apropriar e depois de orgânica em sem seus corpos, essa fórmula crescer, qual filho que vai para o mundo, livre. Ricardo Fenner realmente parecia um bêbado e arrancou risadas do público, e quando o público ama, perdoai-me mas aos críticos cabe o silêncio. Se usou fórmulas trazidas de outros personagens pouco importa, o que o público víu foi Pudim de Cachaça, ponto final. Seu Pudim de Cachaça, sería isso o tal "Ator que tem tanto a dizer"? Pois veio a Antonio Prado e disse.
                                Angelica Ertel está sempre soberba, reviveu a criação de Dulce Jorge muito bem e se alguém vê nisso alguma incopetência criativa, pergunto se o verdadeiro profissionalismo não está exatamente nisso. Ao lado de Luis Fernando Lara, sua interpretação é vigososa, direitinha.
                                Gabriel Wink, Alessandra Souza, Luis Lara e Renato Casagrande têm alguns aquéns. Wink e Souza tinham boas cenas dramáticas, mas não conseguiram as densidades necessárias, o primeiro começou sem ritmo e ficou bem apenas do meio para o fim de seu solilóquio. A segunda beirou a gritaria, quase ao fim uma pausa boa e quando algo parecia prester a acontecer, a atriz deixou desmoronar. A voz de Gabriel Wink subiu para a garganta enquanto a de Luis Lara extinguiu-se. Se não ouvimos a voz do ator e perdemos a historia da personagem, não há mais nenhum bom motivo para alí estar. Consegui ouvir quase tudo, mas se o espetáculo durasse mais alguns minutos a voz desse competente ator desapareceria.
                                  Renato Casagrande é jovem e seu amadurecimento de ator vem crescendo junto com o desenvolvimento de sua propria personalidade.  A direção poderia dar-lhe mais espaço, a historia de João Paz é só mencionada e pouco nos revela o atorsobre sua personagem.
                                   O Incidente desenrola-se como uma bola, tem um climax quase que contínuo e de repente acaba, só não é sem mais nem menos por que Dr. Cícero nos diz que os mortos partirão para o cemitério. Quando acaba da uma vontade de sair correndo e adquirir o livro o que passa lógo depois, já que a literatura ainda é prazer de poucos nessa tanatocracia.


Ao ator Ricardo Fenner e ao diretor Cléber Lorenzoni dedico-lhes o céu
Aos atores Gabriel Wink, Renato Casagrande, Luis Lara e Angélica Ertel a terra da constante e profissional interpretação.
A Alessandra Souza a busca de mais, no xeól.


    A Rainha   ****

        

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