Desabafo de uma atriz...

O que a vida reservou pra mim?

            Inicio com uma pergunta que me intriga desde que me interessei por arte, ou seja, quando nasci. Tenho muitos apontamentos a respeito do que nos reserva o futuro, do que está por vir. Sou Angélica Ertel, atriz e diretora de teatro, além de uma constante questionadora de ideologias teatrais. Certa vez, conversando com pessoas especiais, ou seja, família e amigos, me questionei sobre o futuro. Vivo desde sempre em um embate, de um lado a família, de outro a profissão. Ambos necessários para viver, e dizem que por alguns períodos, ser feliz.
            Passei quatro anos na faculdade de Artes Cênicas da Universidade Federal de Santa Maria e ao mesmo tempo me apresentando e trabalhando no Grupo Máschara, em Cruz Alta. Quantas vezes ouvi a frase: Saia deste grupo? Inúmeras. Quantas vezes disse sim? Inúmeras. Quantas vezes realmente quis que isso acontecesse? Nenhuma. Se Ele, o nosso Ser Superior me reservou isso, eu não sei, mas sinto que sempre pertenci a este lugar. É claro, todas as escolhas tem seus percalços, e as minhas não foram diferentes. Os artistas do Máschara são seres incompreendidos, eternos amantes da arte morta, que revive a cada apresentação, que ressuscita a cada nova montagem. Digo e dou graças a não ser compreendida, porque no momento em que disserem para mim: agora eu te entendo. Será o dia da perda total, porque terei que responder: Como? Se nem eu me entendo?
            O que mais permeia a mente de um artista são as dúvidas. Estas por sua vez, nunca, ou raramente são sanadas. E quando são, nós prontamente mudamos as perguntas, para encher nossa cabeça com novos questionamentos. O artista é um transgressor. Imita a vida porque não consegue viver nela. Recria fatos pra tentar entendê-los. Reinventa histórias porque precisa de um universo seu. Interpreta personagens, porque não tem nem idéia de quem ele é. Usa máscaras sim, mas só quando está na vida real.
            Mas o tema que descrevo tratava do futuro, certo? Pois bem, me encontro hoje na capital gaúcha, lugar onde todos que me conhecem ou apreciaram meu trabalho me disseram para me mudar, juntamente com outros tantos que me mandaram ir para a Globo. Num debate que presenciei, no primeiro dia morando em Porto Alegre, tive o primeiro choque com o futuro, ou posso chamar também de: nova realidade. As pessoas tinham ideologia, erguiam bandeiras de seus grupos de teatro, ou como artista solo, mas tinham o que acho fundamental para o artista: OPINIÃO. Confesso, não concordei com muitas delas, até porque a escola de teatro que me formei foi a vida.
            Ao me apresentar em lugares onde a arte nem sequer passou como visitante, vi a realidade fantasiosa que é a vida. Aprendi a ser humilde no interior, aprendi que chamam o nosso interno de interior porque é o mais fundo do nosso ser. Tenho orgulho do meu interior pessoa e cidade, Angélica pertence à Cruz Alta, assim como Cruz Alta pertence à Angélica. Se me colocaram pra nascer numa terra onde a cultura é tão difícil de ser disseminada, penso que não seria para eu fazer parte dela? Para eu trabalhar em prol do desenvolvimento da arte nos meus interiores? O que o futuro me reserva então? Ir para a capital ouvir pessoas ideológicas formadas, ou humildemente incentivar novos ideológicos? Estou confusa, ando infeliz na capital gaúcha, cidade boêmia, com muitas opções que poderiam preencher meus dias de divertimento e cultura. Mas pergunto a vocês que lerão este desabafo, até que ponto respeitar os meus interiores não é cumprir a missão reservada pelo meu futuro?
           

Sou Angélica Ertel, artista Brasileira, Rio-Grandense, Cruzaltense, ideológica.

Comentários

  1. Agora dividirei meus anseios em uma página própria, sintam-se a vontade para visitar.
    http://atrizpensanteatriz.blogspot.com/

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  2. Pra falar a verdade esta é a terceira vez q tento postar um comentário, vamos se agora da certo.
    Não ficará como o primeiro comentário que escrevi, mas acredito que a essência ainda lembro.
    Às vezes, nos perguntamos o por quê de tantas coisas, o que fazer diante de tantos problemas ou obstáculos. Para quem trabalha com arte tudo isso é 10 vezes maior pois somos capazes de ver o além, e sofremos com isso. Ao ler o teu comentário colega Angélica, me senti um pouco de você, pois tentamos fazer algo para mostrar nosso talento, saciar nossos anseios e parece que nada acontece. O teatro, arte maior e suprema, sacia um pouco a nossa vontade e desejo de estar presente, vivo e imponente no palco. Mas qual o verdadeiro sentido de nos dedicarmos a algo, que não tem o real reconhecimento que deveria, mesmo na capital gaúcha ou na nossa terra natal? Talvez o nosso futuro é permanecer onde estamos, o trabalho com arte no interior do estado é muito mais difícel, mas é necessário que aconteça, pois a chama do teatro deve se manter viva, acho que esta é a nossa missão aqui em Cruz Alta, semear e plantar pequenas sementes hoje, para no futuro termos um grande árvore que dê bons frutos. O Grupo Teatral Máschara, já faz parte da história do município de Cruz Alta, embora muitos não reconheçam ou saibam, nós estamos no caminho certo, as nossas idiosincrazias são necessárias para podermos continuarmos disseminando a nossa arte por onde passamos. Nada é por acaso, buscamos um lugar na história, lutamos por apoio das autoridades e reconhecimento do público. Estamos no caminho certo, e que bom que hoje temos o Grupo Máschara em nossa cidade, que insistiu em um sonho de disseminar a arte e cultura a todas que possam se interessar. A realização de um sonho, que hoje estamos ajudando a construir, é o que buscou o Grupo Teatral Máschara há 19 anos atras...
    Às

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